A falta de uma barragem para armazenar a água bruta captada na bacia do Rio Pilões em Palhoça, na Grande Florianópolis, foi o grande motivo para a estiagem dos últimos quatro meses comprometer de forma tão intensa o abastecimento na região. Esse tipo de solução já foi implementado em outras cidades do Estado — como Criciúma — e do Brasil — como São Paulo e Curitiba — mas não é tão frequente como deveria em território catarinense. A análise é do pesquisador em hidrologia do Ciram/Epagri, Guilherme Miranda, e foi feita durante entrevista ao Direto da Redação na manhã desta terça-feira (8).
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Segundo o especialista, só obras hidráulicas deste tipo podem minimizar os impactos causados pela variação pluvial. O nível do Rio Pilões estava em 128 centímetros na manhã desta terça, quando o ideal seria que a medição on-line do serviço hidrográfico catarinense apontasse uma lâmina d'água de pelo menos 170 centímetros.
— Essa divergência de 42 centímetros abaixo da normalidade dá uma diferença de dezenas de milhares de litros de água disponíveis para captação. Como esse período teve chuvas abaixo do esperado, só a construção de barragens poderia impedir que boa parte da população ficasse sem água — diz.
Ele afirma que em Santa Catarina há uma experiência bem-sucedida no Sul do Estado, onde "a Casan tem uma barragem de água para abastecimento público": a barragem São Bento.
— Tem capacidade de regularizar o abastecimento do Rio São Bento e atender às necessidades da população do entorno, diferentemente do que ocorre na bacia do Rio Pilões, onde nós não temos essa obra hidráulica.
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Apesar de esse tipo de intervenção depender de investimento público da empresa que gerencia o sistema de água das cidades e Estados, Miranda diz não ser possível atribuir a responsabilidade pela não existência de uma barragem apenas à Companhia de Águas de Santa Catarina (Casan).
— Existem até projetos antigos, mas fazer uma obra dessas dentro de uma unidade de conservação é uma questão muito delicada do ponto de vista ambiental, de aceitação… Esse tipo de conversa vai surgir ao longo do tempo.
Lagoa do Peri
Um reservatório natural que existe na Grande Florianópolis é a Lagoa do Peri, no Sul da Ilha de Santa Catarina. O local também serve como manancial para abastecimento das casas da região. Imagens registradas pela reportagem do Diário Catarinense nesta manhã de terça-feira mostram que o nível do local também está baixo.
— O nível agora está em 222 centímetros. A cota de captação de água desse manancial é de 216 centímetros, então há seis centímetros de água ainda disponível para captação. Quanto à retirada da água abaixo desse limite é como a utilização do "volume morto" do Cantareira (SP) e a decisão cabe à Casan.
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Ouça a entrevista: