Os pedidos de recuperação judicial de duas tradicionais empresas do setor pesqueiro acenderam o alerta na região: uma das principais e mais tradicionais fontes de riqueza dos municípios do litoral passa por turbulência. A concorrência acirrada com os importados, o aumento do dólar e o reajuste nos preços da gasolina e da energia elétrica, são alguns dos fatores listados por empresários e especialistas para justificar a crise.

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Entre as companhias que recorreram à Justiça para evitar a falência os argumentos são parecidos. Enquanto a Leardini, de Navegantes, atribui a dívida de R$ 121 milhões à disparada da moeda americana, a Pioneira da Costa, sediada em Porto Belo, diz que a diminuição da matéria-prima e a dificuldade em obter crédito são os motivos que agravaram a situação.

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Perto dali, em Penha, a JMS Pescados, conseguiu aprovar em março o plano de recuperação para pagar a dívida de R$ 22,2 milhões de forma diferenciada a trabalhadores, bancos e fornecedores. Fundada em 2003, a empresa que é uma das maiores compradoras de tilápias do Brasil, reclamou da baixa margem de lucro após as mudanças na política econômica do governo federal.

Pescado importado mudou comportamento da indústria

O presidente do Sindicato dos Armadores e da Indústria da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), Giovani Monteiro, diz que o setor todo passa por dificuldades e reconhece que a entrada do pescado importado, liberada há dez anos no Brasil, mudou o comportamento das indústrias. Segundo ele, com os custos operacionais subindo, as empresas são obrigadas a repassar os aumentos para os produtos e ficam cada vez mais distantes das tradings – as terceirizadas que atuam com importação e exportação e conseguem vender o pescado mais barato por terem menos impostos a pagar.

– Quem trabalha na linha de congelamento, como a Leardini, Pioneira e JMS, está competindo com as tradings que não têm funcionários na linha de produção e pagam menos impostos do que a nossa cadeia produtiva, que tem que bancar ICMS, IPI, frete – explica.

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Limitações da captura

O professor de economia da Univali, Jairo Ferracioli, acredita que a queda na produtividade do setor é uma das principais responsáveis pela crise e cita os períodos de defeso como um complicador para as empresas. Segundo Ferracioli, o tempo de captura da sardinha, por exemplo, é bastante limitado.

– Tem que haver o defeso. Mas por causa disso muitas vezes fica mais barato para a empresa importar do que comprar pescado capturado na região – afirma.

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O professor acredita que uma política de incentivos e pesquisas relacionadas à sustentabilidade da pesca ajudariam a amenizar as dificuldades e cita a organização do setor em países como Chile, Equador e Peru, que usam as chamadas cotas de capturas para diminuir o impacto dos defesos na produção, como exemplos a serem seguidos no Brasil.

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– Faltam políticas de longo prazo, com garantias às empresas e aos pescadores de que o que for decidido permaneça por um tempo. E não portarias que hora proíbem, hora liberam como vemos acontecer hoje. As cotas de captura facilitariam muito para os pescadores e armadores – argumenta.

Reflexos da má administração

Oceanógrafo responsável pelo Grupo de Estudos Pesqueiros da Univali, Paulo Ricardo Schwingel, vai na contramão e afirma que não houve queda de recursos naturais significativa nos últimos anos. Para o especialista o problema está na gestão das empresas.

– Essas empresas podem ter sido impactadas pelo aumento do dólar. A dívida delas pode ter aumentado até 150% em um ano, se elas fizeram investimentos com a moeda – observa.

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Conforme Schwingel, houve uma única queda registrada na pesca: a do bonito listrado, um tipo de atum.

– Esse atum é enlatado. Temos indicação de diminuição, mas essas empresas (em recuperação) não operam com esse tipo de pescado.

Por outro lado, o especialista cita o bom momento das empresas que têm como carro chefe a exportação:

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– A Kowalski, por exemplo, enfrentou dificuldades quando o dólar estava R$ 1,50. Mas agora está se recuperando.