Cris Wickert sempre gostou de esportes – inclusive foi professora de educação física escolar ao longo de boa parte da vida. O que a fez começar uma nova fase como corredora e maratonista foi um momento complicado: uma separação inesperada, um baque em uma vida que, até ali, estava bastante estabilizada.
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– Nessa mesma época eu tive a oportunidade de participar de uma corrida, e vi que isso me fez muito bem psicologicamente – ela conta. – Parece que me encontrei ali. Então comecei a correr. Aí eu decidi assim: “Eu vou dos 5 (quilômetros) aos 100, e, quando eu chegar aos 100, tudo isso vai ter passado, e eu vou ser uma nova pessoa.” Botei isso na cabeça, e foi exatamente o que eu fiz. Agora já cheguei aos 110. (risos)
A especialidade de Cris é o trail running, em que os atletas correm fora das trilhas ou estradas convencionais, atravessando montanhas e colinas e cruzando rios e riachos.
– Gosto de ir pro meio do mato! – ri Cris. – Eu sempre gostei de estar em contato com a natureza, de mexer com plantas. E eu queria desafios diferentes. Aí meu técnico me apresentou essas corridas, de montanha, e eu fui fazer uma prova no Paraná para ver como era. E me encantei! Nunca mais parei. A corrida longa dentro do mato parece fazer você sair desse mundo, desse corpo, se conectar com a natureza. É indescritível.
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Antes de “ir pro meio do mato”, porém, Cris se dedicava à corrida de asfalto, e tinha uma ótima performance nela – apesar de ter começado a levar a corrida mais a sério apenas aos 46 anos de idade, mais tarde do que a média. Hoje, ela tem 57 anos.
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– O tempo passa, e você não pode simplesmente deixar ele passar em branco – declara a atleta. – Precisa usar ele a seu favor. A gente pode fazer tudo, em qualquer idade. Sempre há a possibilidade de um começo, de um recomeço. Aos 40, aos 50, aos 60, a gente ainda tem toda uma vida pela frente! Não existe idade para se reinventar. E quem começa em um esporte não larga mais, né? (risos) Nosso corpo não foi feito para ficar parado. Vamos botar esse corpo para se movimentar!

Há um ano, Cris precisou operar o joelho; consequência de muito tempo participando de ultramaratonas sem fazer o devido preparo e fortalecimento das articulações. Hoje, o treino diário da atleta é mais variado; e inclui, além da corrida, musculação, mobilidade, bike.
– A musculação é imprescindível: ela te dá um corpo forte, que é a base para todo tipo de esporte – ela afirma. Mas destaca: – Mas o mais importante durante a corrida é a cabeça. A mentalidade certa é o que faz você se manter na prova até o final. Às vezes você sente dor, o corpo cansa, mas uma mente focada te dá a possibilidade de ir além. Eu penso na hora da chegada, em quem está me esperando lá; penso em todo o treino que eu fiz, que não posso jogar fora agora. E eu rezo durante as corridas. É ali que eu me conecto, muito mais do que em um templo, uma igreja.
Como outras atletas, de diversas modalidades, Cris Wickert também notou um aumento no número de mulheres participando das provas de alguns anos para cá.
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– É impressionante o aumento da participação feminina, especialmente no trail running – comenta. – Eu tenho uma foto de quando comecei, que é um grupo grande; e só tinha quatro mulheres, o restoante eram todos homens. Hoje tem provas em que há mais participantes mulheres do que homens! Acho que a mulher está buscando mais uma conexão consigo mesma. E a mulher é muito forte. Quando a mulher foca em um objetivo, nada segura.