O rapper paulista Criolo faz uma pausa na turnê com Ivete Sangalo pelo Brasil, em que canta Tim Maia, e traz a Santa Catarina show do terceiro álbum, Convoque Seu Buda, lançado no final do ano passado e que ainda não passou por aqui. O espetáculo já circulou pelas principais capitais do Brasil e pelo exterior – Europa e Austrália.
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Criolo se apresentou no LIC em setembro de 2014
Chega a Florianópolis nesta sexta-feira numa parceria com a Orth Produções, produtora acostumada a trazer grandes shows ao Estado, como Marisa Monte e Maria Bethânia. Mais um sútil indício de que o rapper, como ele prefere ser chamado, alcançou o mainstream de vez.
Por telefone, Criolo concedeu uma entrevista ao Anexo que durou 20. A seguir a entrevista na íntegra. Também disponibilizamos em áudio álgumas pérolas ditas pelo artista.
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Em setembro do ano passado, você se apresentou no LIC, na Lagoa da Conceição, mesmo lugar que fará show amanhã. O que o público verá de diferente desta vez?
Tem um momento muito distinto no show em que todos os músicos participam ativamente. A espinha dorsal é o disco Convoque Seu Buda, mais um tanto de Nó na Orelha (álbum de 2011), um tanto de Ainda há Tempo(2006) e alguma outra coisa que passa ali pela cabeça da gente no momento. A gente não é máquina, né? Temos aquele roteiro ali, mas a emoção vai te tomando. Coisas podem acontecer. Por isso, você tem uma dinâmica diferente de espetáculo.
Ano passado você já tinha tocado no LIC. Foi uma escolha tua voltar a se apresentar lá?
O importante dos lugares são as pessoas se reunindo. É isso que vale pra mim. O tanto de pessoas que foram ali ( show ano passado) e como a gente pôde estar dividindo um momento foi especial. Foi beeeeem especial.
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Ouça o áudio em que Criolo fala do LIC:
É comum as pessoas dizerem que você se transforma no palco, que é um showman. O que é o palco para você?
O palco é um lugar que acolhe a todos. É uma linda mulher que merece nosso respeito e aguça o nosso flerte. E, ao mesmo tempo, é uma pedaço do planeta que exige ao máximo a sua dedicação e respeito.
Ouça a declaração de amor ao palco:
Você voltou recentemente de uma turnê internacional. Como esse tipo de experiência altera tua visão de mundo?
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Toda vez que eu vou para fora do país, tem uma coisa em comum que sempre fica na minha cabeça. Não preciso nem voltar para sentir. É o quanto o nosso povo produz arte e cultura de um jeito maravilhoso. Nós somos respeitados, amados em todos os lugares do mundo. Todas as pessoas querem saber o que a gente está fazendo. A sensação é de perceber o quanto eu aprendo com meu país e quanto o nosso país nos dá uma pluralidade cultural gigantesca que nos ajuda a conversar com o mundo.
É correto te chamar de rapper, afinal muita gente diz que você ampliou o teu campo de atuação e é músico de MPB?
Sim. É isso que eu sou. Mas eu sou como você, que é uma jornalista e mais um monte de coisa que a vida lhe apresenta. A gente não anula uma coisa quando vive outra. O rap é a minha essência. Mostrou pra mim que existe arte no mundo e que eu era um ser humano capaz de dividir algo positivo através dessa arte. Eu acredito muito nisso. Rap é uma expressão de muita força, assim como todas as expressões de arte. Não existe uma expressão de arte melhor, nem pior. Existe como cada um se posiciona.
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Você é uma voz da periferia. Isso fica muito claro nas suas letras. Mas hoje atinge um público que não é da periferia. Por que?
Eu não sei explicar isso. A única coisa que eu sei é que eu não tenho preconceito com ninguém. É óbvio que vão existir diferenças, porque o mundo é feito de diferenças. Eu não me incomodo com as diferenças. Me incomodo com as desigualdades. Somos seres humanos e nos comunicamos com gente. Eu levo a minha vida desta forma. O hip hop me ensinou isso. É claro que cada pessoa tem a sua forma e o seu querer. Eu sou uma pessoa comum. Eu acredito que todo mundo tem algo de bom, não importo onde você nasceu, o que aconteceu, se acertou ou se errou, você tem algo de bom em seu coração e ainda tem força para dividir isso com o mundo. A sua construção, sua expressão de arte, ela tem uma força, tem uma estética, um porquê. E tem uma energia que a carrega. E isso também faz com que as pessoas tenham afinidade uma com as outras.
Qual é a sua opinião sobre o momento atual do país, com tantas denúncias de corrupção e manifestações na rua contra o governo?
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Nós vivemos em movimento, as pessoas estão cada vez mais tendo uma percepção maior desses movimentos. E existe uma geração que se comunica cada vez mais rapído. Estamos num instante de movimento. Mas não é um recorte de 5 ou 10 anos. Estamos vivendo um momento que desagua 100 anos do nosso país. É muito raso falar de 10 anos. A gente não sabe se estamos evoluindo ou não. Mas o movimento existe. Só que não existe construção de cidadania, se não existir um olhar e um posicionamento de construção real de educação, que minimize todos os males que a desigualdade já nos oferece.
Ouça “não existe construção de cidadania, se não existir um olhar e um posicionamento de construção real de educação”:
O que você achou de Cores e Valores, novo disco dos Racionais MCs?
Falar de Racionais é redundância. São grandes mestres, grandes professores. Ainda têm muita coisa para fazer.
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Ouça “Racionais são mestres”
O que você está ouvindo atualmente?
Clube da Esquina, sempre, eternamente. Metá Metá, você conhece? É muito bom. Esses dias eu escutei as músicas de um menino chamado Rico Dalasam (conhecido como rapper gay). Canções legais, um rapper novo. Estou aqui com o álbum do Femi Kuti, chamado No Place For My Dream, um álbum maravilhoso de 2013, música espetacular.
Ouça outros trechos da entrevistas no SoundCloud do DC
Agende-se
O quê: show do rapper Criolo
Quando: sexta-feira, com abertura da casa às 21h
Onde: Lagoa Iate Clube – LIC (Rua Hippólito do Valle Pereira, 620, Lagoa da Conceição, Florianópolis)
Quanto: R$ 140 e R$ 70 (meia e Clube do Assinante titular e acompanhante) _ pista 2º lote, à venda no Blueticket
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Informações: lic.org.br ????