Um complexo com 7 mil metros quadrados de área construída, que foi projetado para ser um dos melhores e mais completos espaços de cultura e lazer de Joinville, está sendo tomado pelo crime antes mesmo de ser inaugurado. Por causa do vandalismo e do tráfico de drogas, um quarteirão inteiro no coração do Aventureiro, na zona Norte da cidade, virou motivo de dor de cabeça para os moradores.

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No sábado, um jovem de 15 anos foi perseguido e assassinado a tiros em frente a dezenas de pessoas. As marcas dos tiros ficaram nas paredes e nos vidros. E o sangue do garoto, na escadaria principal do complexo.

Por volta das 22 horas de sábado, Diego de Miranda Pereira estava com amigos num espaço com pouco mais de dois metros quadrados, na porta de um dos anfiteatros. O lugar tem sido esconderijo para usuários de drogas. Foi ali que ele levou o primeiro tiro.

Havia pelo menos cem pessoas espalhadas no complexo. O garoto ainda correu pedindo socorro por 30 metros, entre o ginásio principal e o anfiteatro. Foi executado em frente a centenas de pessoas. Os assassinos chegaram de carro e foram embora segundos depois. Ninguém os viu. Se viu, não quer falar sobre o assunto com imprensa ou polícia.

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O complexo conta com equipamentos para dar inveja a muitas prefeituras de Santa Catarina. Lá devem ser instalados nos próximos meses um Centro de Referência de Assistência Social (Cras), um cinema com mais de cem lugares, uma biblioteca, pelo menos dois laboratórios de informática para uso da comunidade, pista de skate, equipamentos de ginástica, quadra para vôlei, basquete e futsal, quadra para futebol de areia, pista de caminhada, bicicletários e playground.

O investimento total é de R$ 3,5 milhões, recursos da segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC2). A obra foi solicitada pelos próprios moradores do bairro ao Orçamento Participativo (OP), ainda no governo Carlito Merss (PT). A entrega do complexo está marcada para o fim de outubro, com a expectativa da participação da presidente Dilma Rousseff.

Moradores têm medo de frequentar o lugar

Os prédios e quadras ocupam o quarteirão entre as ruas Santa Luzia, Theonesto Westrupp, Jequié e Guilherme Klein, do bairro Aventureiro.

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Mas, por enquanto, a maioria dos moradores tem medo de frequentar o local. À noite não há qualquer iluminação. A reportagem do “A Notícia” foi quatro vezes no local, em diferentes horários, durante a última semana. Em todas elas, havia adolescentes com idades entre 12 e 16 anos fumando maconha ou crack.

Domingo à tarde, logo que a equipe de reportagem chegou, vários garotos que estavam fumando maconha deixaram o complexo às pressas. A PM tem feito fiscalizações diárias no local, mas nenhum traficante foi preso.

Sem poder de polícia, os bombeiros voluntários que trabalham ao lado do complexo já não sabem mais o que fazer. Eles não podem impedir que as pessoas entrem ou fiquem nos espaços do parque nem têm poder para prender alguém que esteja usando drogas.

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– A gente não vem de carro porque a gurizada é vingativa. Se a gente disser algo, podem nos marcar – diz um dos bombeiros.

O responsável pela guarnição, Ademar Stuewd, disse que é preciso que a Prefeitura e os moradores cheguem a um acordo para garantir a segurança do local.

Manutenção do local feita em silêncio

Com medo de sofrer represálias, os funcionários contratados pela empresa CRC Engenharia Ltda têm feito a manutenção do local em silêncio. Eles já tiveram que repintar todos os muros e o anfiteatro, pichados nos últimos dias. Também trocaram vidros quebrados e impediram a invasão do local. Como os sanitários e os anfiteatros não foram abertos ainda para a população, uma lixeira tem sido usada como banheiro.

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Em nota encaminhada à Redação do “AN” na sexta-feira à tarde, a direção da empresa disse que “não tem posicionamento a respeito dos problemas com vandalismo ou uso de drogas no local”.

Também informou que está aguardando uma avaliação da Prefeitura para finalizar a obra. Um dos engenheiros responsáveis, que também não quis se identificar, disse que faltam apenas alguns itens, como corrimão nas rampas e escadas e a pintura horizontal. Ele admite que, sem a iluminação, a situação tende a ficar cada vez pior.

Prefeitura vai buscar parceria

O secretário da subprefeitura Leste, Waldemir Luiz Schulze, ficou sabendo domingo à tarde, pela reportagem do “AN”, que o local havia sido palco de um assassinato na noite anterior. Ele trabalha em frente ao complexo e diz estar preocupado.

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– A gente vai precisar fazer uma parceria com a presença muito forte do poder público para garantir a segurança das pessoas – avalia.

Segundo ele, há uma expectativa muito grande por parte da população para que o parque sirva de local de lazer, mas, por enquanto, o lugar está sendo ocupado por usuários de drogas.

– A Polícia Militar tem feito rondas diárias para coibir, mas não está fácil – resume.

A expectativa do secretário é de que, a partir da instalação das luminárias, a Secretaria Municipal de Segurança Pública, a própria secretaria da zona Leste e os moradores cheguem a um consenso para garantir a segurança no complexo.

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