Há duas semanas, Stephanny Chrystine Sabini Cechetto, de 22 anos, não recebe mais mensagens de bom dia da avó, Ana Rita Zanelle. A idosa desapareceu no domingo, 22 de outubro, e foi encontrada morta quatro dias depois, enterrada ao lado do esposo Ivo Romano Lerner, 63, aos fundos do terreno em que viviam, em Porto União.
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Mesmo com o principal suspeito pelos assassinatos já preso, as famílias do casal e moradores ainda buscam por respostas para entender a motivação do crime que chocou a cidade de pouco mais de de 35 mil habitantes. Este 2023, inclusive, com nove homicídios, foi o mais violento do município dos últimos três anos. Nos anos anteriores, foram apenas duas mortes.
Stephanny mora em Caçador, mas conta que tinha contato diário com a avó, que às vezes mandava áudios ou fazia ligação por vídeo. Uma das suspeitas de que algo estava errado, inclusive, é de que na noite do sumiço Ana Rita parou de receber mensagens no celular por volta das 21h.
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Mas, como Ana Rita e Ivo moram no interior, já haviam ficado sem internet anteriormente e, por isso, a família não esperava pelo pior. No fim de semana anterior ao desaparecimento, inclusive, a idosa recebeu a mãe de Stephanny em casa e enviou para a neta bolachinhas caseiras que costumava fazer. Na última conversa, trocaram mensagens carinhosas e reforçaram o amor que sentiam uma pela outra.
— Eles faziam de tudo para agradar as pessoas, a maior alegria deles era encher a casa de gente para o almoço de domingo. Não mediam esforços para fazer a gente se sentir bem. Anteriormente, a “vó” foi casada por 10 anos com um senhor um pouco agressivo, por isso estava tão feliz com o casamento. Para mim ainda não caiu a ficha. Ela era saudável, poderia viver muitos anos se não fosse essa fatalidade — lamenta a jovem.
Casal já havia cogitado trocar as fechaduras de casa
Stephanny conta que, nos últimos meses, Ana Rita passou a reclamar que estavam sumindo alimentos de dentro de casa e a principal suspeita era de que o filho de Ivo fosse o responsável por isso. O homem, inclusive, morava a 150 metros do casal e a jovem acredita que ele tivesse feito cópia das chaves da casa dos idosos.
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Como atuava na lavoura do casal, que produzia soja e milho, era comum que o suspeito fosse visto pelo terreno. Mas a falta de privacidade fez com a a idosa desabafasse com familiares.
— A “vó” tinha trancado as janelas que não tinham cadeado com um pedaço de madeira, mas ele deve ter feito cópia de alguma chave. O senhor Ivo não colocava limites, pelo o que percebemos, e eles pretendiam trocar as fechaduras na semana seguinte — afirma a jovem.
O que se sabe e o que falta ser esclarecido sobre caso de idosos mortos no interior de SC
O filho de Ivo foi preso na quinta-feira, 26 de outubro, mesmo dia em que os corpos foram encontrados. Saul Bogoni Júnior, delegado que iniciou a apuração do caso, disse que, apesar de não haver histórico de briga entre a família, testemunhas relataram divergências financeiras recentes. Foi descoberto, posteriormente, que o suspeito movimentou contas bancárias do casal.
A principal linha de investigação aponta, inclusive, que a motivação dos assassinatos tenha sido por dívidas e outras pendências financeiras que o filho de Ivo tinha. Mas a polícia ainda trabalha para comprovar a hipótese correta.
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— A minha avó tinha em torno de R$ 17 mil na conta e ele retirou todo esse dinheiro, entre saques e compras no mercado. Da conta do seu Ivo a gente ainda não sabe — afirma Stephanny.
Segundo o delegado Eduardo de Mendonça, que agora esta à frente do caso, o valor total movimentado pelo suspeito só será levantado após o envio dos extratos bancários que já foi solicitado às agências.
Casa estava arrumada, mas vestígios levantaram suspeita
Por viverem no interior, Stephanny diz que de vez em quando o casal ficava sem energia e internet. Por isso, inicialmente, o sumiço não preocupou tanto. Dois dias depois, porém, passaram a suspeitar e entraram em contato com vizinhos na esperança de notícias.
No dia anterior, informaram que já tinham ido à casa do casal, mas como estava tudo fechado, entenderam que não tinha ninguém em casa. Na terça-feira (25), um dos moradores abriu uma janela e entrou no imóvel. O relato foi de que estava tudo organizado e a possibilidade de roubo foi descartada pelos conhecidos.
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Já na quarta, Stephanny e a família saíram de Caçador e foram a Porto União em busca de respostas e foram à delegacia registram um boletim de ocorrência relatando o desaparecimento. Em uma busca mais aprofundada pela casa, perceberam vestígios que assustaram:
— Nós também tivemos que entrar por uma janela e constatamos que não era bem o que a gente pensava, porque os óculos da minha avó estavam lá, e ela não saía sem óculos. O seu Ivo também dependia de bengala para caminhar, e estava lá. Também tinha comida estragada, que pareciam estar lá desde domingo, e eles fizeram a última anotação no caderno de pressão no domingo à noite — relata.
Uma mancha de sangue foi vista no banheiro e, inicialmente, os parentes acreditavam que os idosos haviam sido sequestrados. Além da casa, também foram feitas buscas por toda chácara e um colchão queimado encontrado no terreno deixou o caso ainda mais estranho e confuso.
— Então nós voltamos para dentro da casa para verificar e a minha mãe disse que tinha um colchão faltando. Como a cama deles estava arrumada, com lençol e tudo, provavelmente a pessoa pegou o colchão velho e colocou no lugar do novo. Nisso, o irmão do seu Ivo viu que a terra estava mexida, eles cavaram e acabaram encontrando o local que os corpos foram enterrados. Minha mãe entrou em desespero — conta.
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O filho de Ivo chegou a participar junto de outros familiares e vizinhos nas primeiras horas de buscas, mas depois sumiu. Como na segunda-feira (23) foi visto por vizinhos arando a terra com um trator no mesmo local em que os cadáveres estavam, tornou-se o principal suspeito, principalmente porque está fora de época de plantio.
Stephanny complementa que o filho de Ivo apresentava um comportamento mais arredio e pouco participava dos almoços em família, no entanto, jamais imaginavam que pudesse ser capaz de cometer o crime. Mesmo preso preventivamente e sendo apontado como autor, no entanto, não confessou os assassinatos em depoimento.
Por conta do colchão queimado, segundo a polícia, mesmo não havendo testemunhas do momento do fato, há indícios que apontam que o casal teria sido morto enquanto dormia, já que havia diversas manchas de sangue na parede e no chão do quarto.
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Polícia aguarda laudo cadavérico para encerrar o caso
Além de confirmar a autoria dos crimes, a Polícia Civil ainda aguarda o resultado do exame cadavérico do Instituto Médico Legal (IML) para confirmar as causas das mortes dos idosos. A princípio, a suspeita é de que Ivo e Ana Rita tenham sido mortos a tiros, já que as vítimas tinham perfurações na cabeça e no corpo.
Na quinta-feira, quando os cadáveres foram encontrados, familiares do casal entregaram aos policiais uma espingarda que pode ter sido utilizada para cometer os assassinatos. A arma tinha documentação e é registrada no nome do suspeito. A Polícia Científica irá fazer a análise para descobrir se os tiros partiram, de fato, desta espingarda.
Além disso, de acordo com o delegado Eduardo de Mendonça, a polícia aguarda os extratos bancários para confirmar quanto no total de dinheiro foi retirado das contas dos idosos.
Apesar de não ter assumido a autoria do crime, o investigador aponta que ele continua sendo o principal e único suspeito do crime. Há a possibilidade de que ele tenha contado com um cúmplice intelectual, que o auxiliou a arquitetar os assassinatos, mas tudo leva a crer que na ação em si agiu sozinho.
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