O vigilante Felipe Gonçalves Leal, que matou o instrutor de trânsito Edson Luiz Gadotti, 35 anos, com três tiros, na tarde de segunda-feira, em uma agência bancária de Pirabeiraba, em Joinville, estava devidamente habilitado para a exercer a profissão, tinha treinamentos e reciclagem profissional em dia e era considerado experiente para exercer a função, que é fiscalizada pela Polícia Federal.
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Homem é confundido com ladrão e morto por vigia em banco de Pirabeiraba
Vigia que atirou e matou homem em agência de Pirabeiraba tinha experiência, diz empresa
Mas isso tudo não foi suficiente para impedi-lo de matar o cliente e acabar preso, acusado de homicídio. O que deu errado?
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Na opinião de um dos mais experientes instrutores do Estado, Everson Pereira da Silva, que é diretor da Escola Técnica de Segurança (Etese), a ação do profissional – de sacar a arma e atirar três vezes – é uma medida extrema e a última de uma série de procedimentos previstos no treinamento como “uso progressivo da força”.
– É fatalidade que precisa ser investigada. É preciso ver e entender o que aconteceu naquele momento da discussão – diz Pereira.
O uso progressivo da força, ensina Pereira, prevê que o vigilante se comunique o tempo todo com as pessoas envolvidas na ação. Primeiro, é preciso que o vigilante verbalize o que ele quer, o que a outra pessoa deve fazer. O emprego da arma é a última ação e uma medida extrema, só cabível diante de grave ameaça à vida do vigilante ou de outras pessoas.
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– É uma disciplina importante do curso. Antigamente, o uso da arma e a defesa pessoal tinham mais relevância. Hoje, são o gereciamento de crise, o uso progressivo da força e outras disciplinas, como direitos humanos – explica.
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Porém, segundo ele, toda a teoria não pode ser apenas aplicada ao que aconteceu na tarde de segunda-feira. Para ele, é preciso ver uma série de outros fatores, como a agência já ter sido assaltada três vezes sob a guarda do mesmo vigilante e até situações pessoais que devem ser vistas pelos gestores de quem faz a vigilância.
– Somos todos seres humanos. Não se pode criminalizar uma categoria inteira por um ato isolado. É preciso entender o que estava acontecendo, afinal, é uma profissão que lida com situações de estresse diário. Uma coisa é passar uma vez pelo estresse. Outra é ficar dias, meses sob pressão. É preciso que o gestor tenha sensibilidade para até remanejar um profissional quando percebe essa pressão – diz Pereira.
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O treinamento de um vigilante, desde 2010, envolve a simulação de situações reais, inclusive o estresse no relacionamento com os clientes diante da porta giratória.
A empresa para a qual Felipe trabalha, a Onseg, emitiu nota oficial ontem em que atesta a formação, a reciclagem e a habilitação do profissional e se dispõe a colaborar para a investigação da Polícia Civil de Joinville.
Uma das provas mais importantes, as imagens do circuito interno de câmeras de segurança da agência do Sicoob de Pirabeiraba, está com o delegado Fabiano dos Santos. Segundo ele, está claro que houve discussão entre o cliente e vigilante – a hipótese que chegou a ser ventilada era de que o vigilante desconfiou de uma tentativa de assalto.
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Justiça decreta a prisão
Em audiência de custódia na tarde de ontem, o vigilante Felipe Gonçalves teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. A polícia pretende concluir o inquérito até sexta-feira e, então, aguardar os laudos.
O corpo de Edson Luiz Gadotti foi velado no bairro Glória e enterrado no Cemitério Municipal de Joinville, no Atiradores. Colegas de trabalho e familiares lotaram a sede da Fundação Crescer.
Ele morava no bairro Costa e Silva e trabalhava como instrutor de autoescola em Pirabeiraba. Foi à agência do Sicoob para trocar o cheque da rescisão do trabalho. A família de Gadotti preferiu não falar com a imprensa. Ele era casado e tinha três filhos entre cinco e 12 anos.
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COMO SÃO TREINADOS
Vigilante
– Antes de frequentar as aulas, é preciso passar por um teste psicológico feito por um profissional credenciado junto à Polícia Federal. O teste é dividido em quatro partes, que vão desde a resposta a um formulário básico até a entrevista em profundidade.
– O curso tem 200 horas de aulas práticas e teóricas, que duram 21 dias.
– As aulas práticas têm noções de legislação e criminalística, relações humanas, aspectos técnicos da profissão e disciplinas consideradas fundamentais para o relacionamento com o público, que é o uso progressivo da força e o gerenciamento de crise.
– Aulas vão de combate a incêndios até simulações de situações reais (envolvendo portas giratórias em bancos, inclusive) e prática de tiro.
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Policial militar
– Além de passar num concurso com questões de conhecimentos gerais e específicos, os policiais militares também precisam passar por um rigoroso teste psicológico.
– As aulas da escola de formação duram pelo menos seis meses e vão desde as noções básicas de defesa pessoal até o conhecimento em detalhe do funcionamento das forças policiais.
– Para ser um soldado da Polícia Militar, o aluno precisa ter bom aproveitamento em pelo menos 20 disciplinas e formações práticas.
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– A formação do policial também envolve a disciplina e a legislação militar, que é diferente da civil e tem disciplinas próprias
para faltas ou desvios de conduta.