O Criciúma somou sete pontos em quatro rodadas, que o deixam dentro do G-4 do Campeonato Catarinense. Ainda assim, parte da torcida do Tigre não está satisfeita com o início do trabalho do técnico Ricardo Drubscky, que assumiu a equipe no começo do ano. Em conversa com o Diário Catarinense, o treinador comentou o momento da equipe, seu método de trabalho e a projeção de desempenho do Tricolor.

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Diário Catarinense – Como você avalia o momento do Criciúma no campeonato?

Ricardo Drubscky – É um momento inicial, momento de conhecer jogadores, adaptar sistemas. É início de ano, início de competição.

DC – O Criciúma já está completo? Ainda vão chegar mais atletas?

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Drubscky – Para o campeonato Estadual, a gente está com um elenco bastante aceitável. Agora temos a oportunidade, a possibilidade, de contratar para o Brasileiro. Mas tudo no futebol depende de como vão andando as coisas. Então, se pintarem oportunidades interessantes para contratar ainda no Estadual, serão feitas, mas o elenco está bastante completo.

DC – Você acha que a torcida está cobrando demais?

Drubscky – Eu acho que é meio normal. A gente percebe que está havendo uma cobrança um pouco mais forte. Eu não sei por que. Até agora nós fizemos jogos com apenas dois jogadores que ficaram do ano passado. Temos no elenco meia dúzia de jogadores que ficaram do ano passado, mas jogando temos três ou quatro só, e esses três ou quatro ainda não estão em condições de jogo. A gente não tem base nenhuma de trabalho. Se olhar nesse aspecto, acho que a gente tem que ter um pouquinho de paciência, além de aguardar um tempo para ver a qualidade do trabalho, que com certeza vai aparecer.

DC – Como você lida com as vaias da torcida?

Drubscky – Eu não vi vaia nenhuma. Eu acho que a mídia está um pouco exigente. Tem até equívocos na mídia, falaram que eu fui vaiado em duas substituições, e eu não fui. Eu fui vaiado na substituição do Serginho, porque o torcedor não sabia do que se tratava. O Serginho no intervalo do jogo já disse que não tinha condições. O torcedor não sabia disso, então tinha direito de não concordar.

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DC – O que falta para colocar o Criciúma nos eixos?

Drubscky – Muita coisa. E não serei eu, nem mágico nenhum, que fará isso em pouco tempo. Nós temos que trabalhar, precisamos dos jogos, precisamos de tempo para conhecer o elenco, para treinar. Sem isso não se faz. O futebol brasileiro está caminhando para esse espiral em direção a um buraco e não consegue sair disso, estamos todos nós míopes, enxergando o futebol de uma forma bruta, atabalhoada, e não é dessa forma que a gente vai fazer futebol. Então eu digo que o Criciúma, para chegar no ponto de uma equipe organizada, competitiva, precisa de uns três, quatro meses. E não sou eu quem digo isso, é qualquer treinador que trabalha com a competência do treino no seu dia a dia, vai esperar esse tempo para que a sua equipe produza.

DC – Se não é do seu feitio, por que não revelar a escalação na véspera do jogo?

Drubscky – Eu estou querendo evitar um pouco de especulação em torno das escalações. Às vezes a gente ditando a escalação antes, antes de o time entrar em campo, já se fala tudo que essa equipe vai fazer. E isso acaba prejudicando mentalmente a equipe. Então, por enquanto, esse expediente de não revelar a equipe é apenas para preservar o time.

DC – Como você avalia a capacidade da equipe? O que tem mostrado em campo corresponde ao potencial, ao que se espera do elenco?

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Drubscky – Não, de jeito nenhum. O que está se fazendo em campo está longe de ser o ideal. Nós estamos no início de temporada. Só tem um jogador da temporada passada em campo a cada jogo, não tem 20 dias que nós estamos com o grupo completo em treinamento. Ainda assim não tenho todos à disposição. É realmente um trabalho que requer tempo, para que se vá adaptando, que se vá fazendo os jogadores entender, para que a gente possa chegar num termo. A equipe está longe de mostrar tudo aquilo que a gente quer.

DC – Até porque há atletas que são pretendidos para a equipe titular e ainda não estão em condições de jogo, como é o caso do Maylson?

Drubscky – Ele está em condições de jogar, mas não em 100%. Assim como nenhum jogador no futebol brasileiro não está em condições de jogar seus 100% no início de temporada. A gente é julgado por qualidade de trabalho em uma condição que não oferece meios para que se consiga qualidade de trabalho. O calendário é desumano no futebol brasileiro. Desumano com os jogadores, com os treinadores, com os clubes. E nós somos julgados em uma semana de treino, em duas semanas de treino, em três, quatro jogos que se faz no início da temporada em busca de qualidade total. Então não é só o Maylson, nenhum jogador do Brasil tem condições de jogo em duas semanas de treino.

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DC – O Paulo Baier tem atuado mais aberto para receber as bolas. Mesmo aos 39 anos, ele é um atleta chave para fazer a diferença na equipe?

Drubscky – Ele tem feito a diferença. Ele foi contratado com essa bagagem, com esse rótulo de jogador diferente. Está cumprindo sua função. Ele não joga aberto, ele joga na função de meia armador. Mas às vezes o Paulo Baier está mais adiantado, às vezes está mais recuado. Ele não é um jogador que tem a dinâmica que tinha quando jovem. Ele é um jogador que joga na faixa central do campo, com muita qualidade e ajuda muito o Criciúma.

DC – Você está à vontade no comando do Criciúma?

Drubscky – Eu me sinto muito à vontade. Primeiro, porque eu faço o que eu gosto, o que eu considero que eu sei, o que eu tenho estudado ao longo dos anos. Não sou um profissional com métodos arcaicos, não sou um profissional de métodos tradicionais. Eu tenho métodos arrojados, que são vanguarda no mundo em termos de treinamento. Então eu me sinto muito capacitado para trabalhar em um clube da dimensão e me sinto muito honrado também por estar aqui.

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DC – Você teme comparações do seu desempenho no Criciúma com as suas atuações no comando do Joinville e do Atlético-PR?

Drubscky – No Joinville eu não tive tempo de treinar. No Atlético-PR eu sou recordista, nos últimos 10 anos, sou o treinador que mais tempo ficou no comando. Tivemos a conquista do acesso, vencemos um torneio internacional, os três jogos da Copa do Brasil, o início da campanha de um Atlético que chegou à final e jogamos seis jogos do Brasileiro. Os três jogos que nós jogamos em casa, nós empatamos. Eu caí no último empate, com o Grêmio. Fui para o Joinville, peguei uma equipe em plena competição, em um momento que não tivemos condições de treinar. Por causa de calendário você joga lá no Nordeste numa terça-feira e passa dois dias de viagem, na sexta já está jogando em Joinville. Não tive tempo de treinar e os resultados é que julgam o trabalho. Eu nem admito que se faça comparação do meu trabalho no Atlético com o do Joinville, assim como não admito que se faça comparação com o trabalho do Atlético com o trabalho do Criciúma. Foram realidades muito diferentes. Lá no Atlético eu tive um ano e um mês de trabalho. O treinador que me substituiu disse que encontrou um trabalho pronto, ou seja, a campanha do Brasileiro que levou o time à Libertadores. O Wagner Mancini que falou isso, publicamente e nacionalmente. Nós precisamos no futebol brasileiro julgar de uma maneira mais honesta o trabalho dos treinadores. Não se mede o trabalho de um treinador com dois meses.