Criciúma viveu uma madrugada de terror nesta terça-feira (1º). O Centro da cidade foi sitiado por assaltantes de bancos que explodiram o cofre central de uma agência do Banco do Brasil. Eles usaram reféns como escudo, provocaram incêndios e atiraram várias vezes, ferindo um policial militar gravemente.
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Equipes das polícias Civil, Militar, rodoviárias e Polícia Federal, além da equipe do Gaeco de SC, atuam na investigação e busca pelos assaltantes. Até às 18h45min desta terça-feira ninguém tinha sido preso, mas o Instituto Geral de Perícias (IGP) encontrou uma poça de sangue dentro de um dos carros utilizados pelos criminosos, o único não blindado entre os 10 usados pelo grupo, e que pode levar à idenficação da quadrilha.
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O túnel do Morro do Formigão, na BR-101, em Tubarão, foi interditado com o uso de um caminhão incendiado para evitar que reforços policiais chegassem à cidade. Segundo relatos de moradores, os bandidos atearam fogo em outro caminhão em frente a um batalhão da Polícia Militar.
Vídeo de morador de Criciúma flagra troca de tiros em assalto nesta madrugada pic.twitter.com/MdKa049Pc3
— CBN Diário (@CBNDiario) December 1, 2020
A ação durou cerca de uma hora e 40 minutos. Um policial militar e um vigilante ficaram feridos. O soldado Jeferson Luiz Esmeraldino, 32 anos, foi atingido no abdômen durante uma troca de tiros com os bandidos. Ele foi levado ao Hospital da Unimed e, posteriormente, transferido ao hospital São José. Segundo a Polícia Militar, o quadro dele é grave e já exigiu a realização de três cirurgias até o início da tarde.
Nesta manhã, o esquadrão antibombas desarmou supostos explosivos amarrados em postes perto da agência. Segundo a PM, os materais foram removidos e submetidos a uma explosão controlada no fim da manhã em uma área segura, em um bairro de Criciúma.
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No mínimo 30 pessoas fortemente armadas e com capacetes e coletes participaram da ação. Foi identificado o uso de fuzis e armas de uso restrito. Uma delas seria capaz de perfurar superfícies blindadas, segundo o delegado Anselmo Cruz, da Polícia Civil de SC.
Por volta das 2h30min, cenário era de cápsulas de fuzil caídas no chão, dinheiro espalhado e moradores recolhendo cédulas.
— Foram três ou quatro agências atacadas, quebraram vidros, saquearam lojas, colocaram a cidade em pânico. Em poucos minutos a cidade toda acordou — descreveu o prefeito Clésio Salvaro, em entrevista à Rádio Gaúcha.
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O repórter da CBN Diário, Janniter De Cordes, está em Criciúma e falou sobre os desdobramentos do caso na manhã desta terça:
Tiros começaram por volta de meia-noite
Os primeiros relatos de tiros no centro da cidade aconteceram por volta da meia-noite. Imagens em redes sociais mostraram reféns usados como escudos em dois locais. Segundo o prefeito, eram funcionários do município que pintavam faixas de trânsito. Nenhum foi ferido. Os tiros disparados buscam intimidar os moradores para que não saíssem de casa e nem fossem para as janelas. Uma emissora de rádio foi ameaçada quando transmitia informações sobre o assalto.
Equipes policiais atuam nas buscas aos bandidos em Criciúma

Os suspeitos abandonaram pelo menos um malote de dinheiro com cerca de R$ 300 mil. Eles teriam fugido em vários carros em direção ao Sul do Estado. Por volta das 2h30min, peritos chegaram às ruas para analisar supostos materiais explosivos deixados pelos assaltantes.
Quatro pessoas foram levadas para a delegacia por estarem tentando furtar dinheiro espalhado na rua. Elas não teriam participação no ataque. Com elas foram localizados R$ 810 mil, segundo a Polícia Militar.
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Para polícia, ação foi realizada por bandidos de fora do Estado
Dez carros usados na fuga são encontrados em Nova Veneza

Os policiais encontraram 10 carros utilizados pelos bandidos na fuga. Os veículos estavam em um milharal próximo a um rio em uma região chamada de Picadão, em Nova Veneza, a 18 quilômetros de Criciúma.
Os automóveis de luxo tinham placas de São Paulo no interior dos veículos e foram levados a uma delegacia. Eles devem passar por perícia para que seja apontada a procedência deles. Os policiais localizaram manchas de sangue em dois veículos, o que sugere que haja ao menos dois bandidos feridos após o confronto com a polícia e o uso dos explosivos feito pelos criminosos.
Câmeras de segurança registraram os veículos fugindo em comboio. A partir do ponto em que os carros foram encontrados, a suspeita é de que os bandidos tenham utilizado outros veículos para continuarem a fuga.

A prefeitura de Criciúma precisou pedir reforço a batalhões de municípios vizinhos e também para cidades do Rio Grande do Sul. Os agentes fazem buscas e bloqueios pela região.
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Policiais e investigadores fazem buscas, mas até as 12h o paradeiro dos assaltantes era desconhecido. A Polícia Civil suspeita que a ação possa ter sido cometida por um grupo de criminosos de São Paulo. O governo do Estado prometeu resposta com investigações para localizar os suspeitos.

Quantia levada ainda é desconhecida
Em entrevista à Globonews, o delegado Vitor Bianco Junior disse que a suspeita inicial é de que os bandidos já estivessem na região há bastante tempo para analisar rotas de fuga e as ações a serem feitas durante o assalto.
A quantidade de dinheiro roubada pelos assaltantes ainda não foi informada. A escolha da agência do Banco do Brasil teria se dado porque a unidade havia sido abastecida com dinheiro recentemente, de acordo com o delegado. Segundo ele, há vídeos que mostram o uso da caçamba de uma caminhonete para levar o dinheiro.
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– Há informações de que o banco havia sido abastecido por ser início de mês, e ali seria o ponto de distribuição para outras unidades bancárias. Por isso o Banco do Brasil seria o foco. Quanto aos valores, esses não foram divulgados, não temos conhecimento. Acreditamos, sim, que foi uma grande quantia em dinheiro porque segundo alguns vídeos que estão sendo divulgados na mídia, eles teriam levado uma caçamba de dinheiro, (caçamba) de uma caminhonete. Não temos como precisar ainda, mas teria sido um valor expressivo – afirmou.
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Moradores relatam medo durante ação de bandidos

O pintor automotivo Vágner Freitas mora próximo ao local da ocorrência, no centro de Criciúma, e ouviu toda a movimentação, desde os primeiros disparos até o silêncio registrado depois que os bandidos foram embora.
— Para nós criciumenses é um fato histórico, nunca aconteceu isso nessa proporção. Já teve assalto a banco, mas desse tipo deixa a gente bem inseguro.
Como a casa dele está localizada muito próxima ao local do assalto, o morador da cidade do Sul do Estado ficou em choque e contou que estava com medo de os criminosos invadirem a residência para usar como esconderijo.

O aposentado Gilson Diogo mora há 28 anos no município e diz que nunca tinha visto uma situação parecida. Ele e a família ficaram aterrorizados com a situação.
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— Foi assustador. Faz 28 anos que eu moro aqui na região e nunca ouvi uma coisa dessa. Foi assustador mesmo. Duas horas sem parar e uma correria pra lá e prá cá que não parava. Nós apagamos as luzes, ficamos quietinhos, tudo em silêncio, tudo com medo. Foi bem assustador, muito aterrorizante.
Os dois moradores acreditam que essa noite vai ficar marcada na história da cidade e pode mudar alguns hábitos dos criciumenses.
— A gente fica meio apreensivo. Uma situação dessa pode acontecer de novo, nunca se sabe, temos que ficar em alerta. Já pensou a gente estar aqui uma hora dessa, sem saber de nada. [O assalto] deixou a cidade impactada. — desabafa Gilson Diogo.
Agência fica fechada nesta terça-feira
O Banco do Brasil emitiu nota informando que aguarda a conclusão dos trabalhos de varredura da polícia técnica e a liberação do acesso ao local para que uma equipe de engenharia avalie eventuais danos à estrutura do prédio. Somente após isso devem iniciar os serviços de limpeza.
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O banco diz que colabora com as investigações, mas que não informa valores subtraídos durante ataques a agências. “O Banco do Brasil atua para normalização do atendimento no menor prazo possível, mas não há previsão para a reabertura da unidade”, informou. Não houve feridos entre os funcionários do banco.
Investigação destaca armamentos utilizados
Em entrevista ao Bom Dia Santa Catarina, da NSC TV, o delegado-geral da Polícia Civil de SC e chefe do colegiado de segurança de Santa Catarina, Paulo Koerich, disse que o Estado vinha em uma queda de 54% nos casos de assaltos a instituições financeiras, mas que a ação dos bandidos em Criciúma chamou a atenção pela estrutura mobilizada.
Koerich chegou a citar o assalto no Aeroporto Quero-Quero, em Blumenau, registrado em março de 2019, mas afirmou ser cedo para traçar relação entre os crimes.
— É muito prematuro traçar qualquer paralelo entre aquele fato ocorrido em Blumenau e este em Criciúma. O que podemos afirmar neste momento é que chama a atenção o poderio bélico e a técnica empregada. São pessoas que tiveram acesso a outras informações de manuseio de armamento, de progressão em terreno, para que o crime pudesse ser perpetrado — afirmou.
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Gaeco vai integrar investigações
No início da tarde desta terça-feira, os órgãos de inteligência e investigação do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) se reuniram para definir as estratégias da força-tarefa criada para auxiliar as investigações do assalto a banco em Criciúma. Todos os profissionais e setores que integram o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) estarão disponíveis para contribuir com as diligências.
*Com informações de G1 SC, Barbara Barbosa da NSC TV e Janniter Decordes da CBN Diário
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