Depois de toda esta tragédia, com imagens sendo transmitidas em tempo real 24 horas por dia nos meios de comunicação, não há como manter nossas crianças e adolescentes alheios ao que está acontecendo. Com a chegada dos corpos ao Estado e o velório coletivo, neste sábado, em Chapecó, a imagem da morte (e o que ela representa) está se materializando, e aí, sim, os pequenos começam a nos bombardea com perguntas.
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Muitos questionamentos com certeza nós não saberemos responder, até porque também estamos à procura de respostas. Por que eles morreram? Onde eles estão agora? O que acontece depois da morte? Engasgaremos na hora de dar explicações, que não serão nem fáceis nem simples. Mas é necessário que eles recebam nosso apoio e atenção, para que consigam superar este momento sem traumas.
Algumas escolas, preocupadas em saber como seus alunos estão assimilando esta tragédia toda, levaram o assunto para a sala de aula. No CAIC Professor Mariano Costa, em Joinville, a iniciativa partiu da professora de Português Mariza Schiochet. Após observar que os adolescentes das 6ª, 7ª e 8ª séries queriam falar sobre a tragédia, ela propôs uma atividade diferente e muito bacana, que se tornou, também, um ato de cidadania e solidariedade. Cada aluno foi convidado a escrever ou desenhar o que estava sentindo, e também a mandar uma cartinha para uma família que tenha perdido alguém no desastre aéreo da Colômbia.
O resultado é emocionante. Este é um trecho do texto escrito pela aluna Sabrina da Silva, da 6ª série: ”Sei que é difícil perder um parente querido, eu perdi meu avô, e foi bem ruim. Parece que você fica só, mas não pense nisso, porque ele vai estar sempre junto, mas na sua lembrança. E lá no céu ele vai estar cuidando de você, a cada caminho e escolha ele vai te ajudar. Você deve estar achando uma injustiça o que aconteceu. Não pense nisso”. O colega João Vitor de Lima termina a sua cartinha dizendo: ”Tenham fé. Um dia vocês vão ver eles jogando futebol no céu.”
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A maioria das cartas contém desenhos. Para muitos, é mais fácil desenhar do que colocar seus sentimentos no papel. ”Força Chape”, escreveu outro menino, juntando letras recortadas de jornal. Embaixo, pintados de verde, um avião, uma camiseta do time, o símbolo da agremiação e uma bola de futebol. Realmente, ele não precisava escrever mais nada. A história estava toda ali. ”Que deus conforte o coração de cada família”, desejou outro. ”Deus sempre no comando” (com o desenho de um comando de videogame) e a frase: ”Se Deus é por nós, que será contra nós? Foco, força e fé”, desejou outra menina. Um jovem poeta resumiu o que está sentindo em três pequenas frases:
” Ao som do nada
ma mente triste
Um passado guerreiro”
E desenhou a palavra paz, ocupando o resto da página.
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