Quem entra na escola improvisada no centro comunitário da Terra Indígena Guarani de Maciambu (ou Pirapurá), em Palhoça, percebe as dificuldades que as crianças da região enfrentam. Calor, falta de banheiros, frestas entre as tábuas e compartilhamento do espaço com outras atividades atrapalham o aprendizado dos 25 alunos dos ensinos Fundamental e Médio.
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A recente determinação da Justiça para que seja construída uma escola dentro da reserva até setembro, entretanto, pode influenciar de maneira definitiva as projeções da comunidade.
A nova escola foi pensada pelos próprios indígenas, com apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai). As migrações entre regiões são muito comuns para os guaranis, mas quem tem filhos em idade escolar demonstra dificuldades em criar raízes no Maciambu.
– Muitas famílias vêm para cá e adoram o local, mas acabam indo embora por falta de escolas. Elas vão para onde é melhor para as crianças – lamenta o cacique e coordenador da escola, Marco Guarani.
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Centro comunitário deixará de ser escola improvisada após construção de novo prédio. Foto: Daniel Conzi/Agência RBS
Em 24 de fevereiro, a 6a Vara Federal de Justiça de SC determinou que a União repassasse os recursos necessários à obra, e que o governo de SC efetuasse a construção em até 180 dias após a disponibilização da verba. Para o caso de descumprimento por qualquer uma das partes, foi estipulada uma multa diária de R$ 3 mil.
O espaço atual já é o quinto transformado em escola provisória pelos índios em um período de cinco anos, já que os outros estavam muito danificados ou não podem ser usados para este fim.
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Educação indígena para crianças indígenas
Lucas Oliveira da Silva, 19 anos, é professor voluntário de Artes e Educação Física na escola do Pirapurá. Praticamente todas as crianças da aldeia passam pela tutoria dele, embora não receba salário nem tenha formação acadêmica. A maioria das aulas são ministradas em português, mas o vocabulário guarani aparece com grande frequência, como explica Silva.
– Às vezes, a criança está rindo de alguma coisa e, se o professor não for índio, pode achar que ela está fazendo chacota dele.

Espaço já é o quinto usado como escola provisória pela comunidade. Foto: Daniel Conzi/Agência RBS
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O guarani é a única língua ensinada para os alunos do primeiro e do segundo ano. A partir do terceiro, o português também é incluído. Os problemas com tradução, entretanto, não terminam no idioma: em certa ocasião na reserva do Morro dos Cavalos, um professor branco ficou chocado ao se deparar com um menino indígena de 13 anos fumando um cachimbo. Marco Guarani achou graça e resumiu a situação para o docente: as crianças são índias e não é possível julgá-las sob um olhar não índio.
– Já compramos briga porque querem implantar uma educação tradicional por aqui. O professor chega acostumado à escola comum, com todos sentados e uniformizados. Nossas crianças não são assim porque damos tempo a elas. Se está quente dentro da sala, os alunos querem aula do lado de fora – explica o cacique.