Uma multidão de crianças deu um novo significado à gíria ‘corre’ neste domingo de Páscoa (1º) na comunidade Chico Mendes, região continental de Florianópolis. Cerca de 40 meninos e meninas de quatro a 14 anos fizeram uma pequena maratona pelas ruas bairro conflagrado pelo tráfico de drogas e mostraram que o esporte pode ser um caminho.
Continua depois da publicidade
A molecada faz parte do Projeto Geração da Chico, que oferece diversas atividades socioeducativas no contra turno escolar. Neste tarde, professores e voluntários organizavam as baterias de 1 e 3 km do 1º Corre da Nova Geração, mas também fizeram a páscoa de muitas crianças carentes. Chocolates, pipoca, cachorro quente e refrigerantes foram distribuídos aos pequenos maratonistas.
Muitos correram de pés descalços pelas ruas mal cuidadas do bairro periférico numa gritaria intensa. Mas todos tinham o número de identificação no peito.
A ideia do projeto é da psicóloga Ana Karolina de Oliveira, de 29 anos. Ela explica que a Geração da Chico já oferecia aulas de jiu-jitsu e muay thai e que, nesse ano, iniciaram com a modalidade de atletismo.
Continua depois da publicidade
— A gente queria buscar resultados, fazer maratonas para eles competirem em outros locais. Mas queria valorizar também a comunidade. Então fizemos a primeira corrida dentro da comunidade.
Sobre o nome do evento, Karol diz que a intenção é mostrar o outro lado do corre, que não seja em alusão ao crime.
— É mostrar o corre no sentido do esporte, do atletismo e incentivar o esporte dessa forma. Dentro da Chico Mendes parece polêmico, mas é justamente pra mexer no psicológico deles, mostrar que o corre não precisa ser o do tráfico e sim o corre do bem.
Continua depois da publicidade
Foi o que entendeu a pequena Nayellen Santana, de 8 anos. Ela conta que entrou do projeto depois de insistir pra mãe matricular. Na maratona de hoje, ficou em terceiro lugar, colocação que ostentava com a medalha para a máquina fotográfica. E ela quer ser atleta quando crescer.
— Eu sempre treino aqui corrida. Eu quero ser aquelas mulheres famosas que correm — deseja.
No naipe masculino, o Ezequiel Coelho, de 6 anos, foi ouro na categoria dele. Chegou muito antes dos adversários.
— Foi fácil de ganhar — se gabou, enquanto fazia a famosa pose de raio do tricampeão olímpico Usain Bolt.
Continua depois da publicidade
A Karol pretende fazer mais atividades esportivas no bairro. Ela espera que iniciativas como essa mantenham a molecada no caminho certo, porque enquanto as crianças praticam o atletismo, nas ruas paralelas do circuito da maratona, outro corre acontecia.