Eles são conectados e aprendem com facilidade. Muitos trocam qualquer brincadeira tradicional para jogar no tablet. Sabem falar outro idioma, têm personalidade e curiosidade aguçada. Alguns são da geração Z. Outros, mais precisamente aqueles que nasceram a partir de 2010, já estão na Alpha. Com maior capacidade de resolver problemas, algumas vezes tropeçam na socialização. Crescem em espaços reduzidos e têm aula de natação, piano e inglês. Para entender o que é ser criança hoje não faltam definições, porém especialistas ainda debatem de que forma esse contato precoce com os eletrônicos, maior nível de cobrança e acesso irrestrito a informações irá afetar o desenvolvimento dos pequenos.
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Para a professora do Departamento de Pedagogia da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Julice Dias as crianças são agentes sociais na sociedade onde estão inseridas e fazem suas próprias interpretações desse mundo:
_ Desse modo, as crianças contemporâneas são crianças que, embora ainda tenham pouca idade, já interagem, por exemplo, com as novas mídias. Isso faz com que elas ampliem vocabulário, criem formas expressivas complexas e ampliem seu leque de interações desde a mais tenra idade – diz.
“É preciso encontrar um meio-termo entre tecnologia e experimentação”, afirma especialista
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Mas é importante lembrar que, acima de tudo, criança continua sendo criança. É o que aponta Laís Fontenelle, psicóloga e consultora do Instituto Alana, organização sem fins lucrativos voltada à garantia da vivência plena da infância. Para ela, é preciso dosar esse contato intenso com a tecnologia, que pode diminuir a relação do nativo digital com outras crianças e com a família, e a experimentação. Além disso, especialistas afirmam que o abuso do uso de eletrônicos pode levar à diminuição das habilidades sociais e espaciais.
Presidente da Academia Brasileira de Pediatria e autor do livro “Quem cuidará das crianças? A difícil tarefa de educar os filhos hoje”, José Martins Filho garante que não foram as crianças que mudaram nos últimos anos, mas a família, os pais e a maneira de cuidar dos filhos:
_ As crianças de hoje são as que foram menos acalentadas na história e têm necessidade e carência afetiva por falta de colo e de presença. Os trabalhos mostram que elas tendem a apresentar muito mais problemas de desenvolvimento, problemas escolares, agressividade e na idade adulta, muitas vezes fenômenos psicoemocionais e biológicos causados por essa forma nova de cuidar.
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Pequenos precisam de mais tempo livre
Natação, inglês, futebol e violão. Encontrar crianças que mal saíram da creche e já cumprem agendas de “miniexecutivo” está mais comum. A coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisas do Brincar da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Puc-SP), Maria Angela Barbato Carneiro, explica que os pais, diante da preocupação com o futuro dos filhos, oferecem uma série de atividades, o que em excesso pode se tornar prejudicial:
_ Elas perderam o direito de ter a infância, porque não têm tempo para fazer uma das atividades que é característica da idade, que é o brincar. Estão lotadas de compromissos e deixam de fazer descobertas importantes, de criar coisas novas e organizar o próprio pensamento, além de se relacionar com as outras crianças – afirma.
Carneiro defende que os pais devem deixar pelo menos um tempo livre para que elas brinquem do que quiserem, sem que os pais escolham a atividade.
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A psicóloga Laís Fontenelle reforça que a grande dica é desacelerar a agenda dos pequenos, já que eles também precisam de um tempo de ócio para alcançar o desenvolvimento pleno nesta fase tão importante.
ENTENDA AS DIFERENÇAS
Geração Alpha
Crianças que nasceram depois de 2010. O termo Alpha foi dado pelo sociólogo australiano Mark McCrindle. Elas são muito mais estimuladas do que as crianças das gerações anteriores. Existem mais opções de desenhos, livros, brinquedos e de novas tecnologias. Elas devem começar a estudar mais cedo (em torno dos 4 anos), serão as primeiras a vivenciar um sistema escolar diferente: mais personalizado, híbrido (online/ offline) e com foco na autonomia do aluno e no aprendizado. Elas possuem um conhecimento tecnológico muito aprofundado, pois irão viver e respirar tecnologia. A maneira de se relacionar com as pessoas também é diferente: mais horizontal e menos hierárquica. Outra característica interessante das crianças do século 21 é que desde cedo elas serão criadoras de conteúdo, de produtos e de serviços.
Geração Z
São os que nasceram em torno do ano 2000. Eles nasceram dentro de um contexto mais globalizado do que as gerações anteriores e usufruem da tecnologia desde cedo. São nativos digitais e só entendem a vida com a internet e com as diferentes tecnologias. Por isso, a geração Z sente-se muito à vontade para se relacionar por intermédio das redes sociais e, na maioria das vezes, prefere este meio de comunicação. Inovação e velocidade são parte da vida deles. Estas características são bem diferentes das gerações mais antigas, o que gera conflitos dolorosos entre pais e filhos, alunos e professores. Os pais da geração Z têm uma familiaridade muito menor em termos tecnológicos do que os pais da geração Alpha. Por isso, é muito importante que haja mais conhecimento por parte desta geração sobre as características de cada faixa etária e sobre as diferenças entre as gerações.
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