Há alguns dias, o menino Pedro, cinco anos, morador de Itajaí, fez um gesto bonito. Abriu o cofrinho de moedas e doou R$ 234,30 para a campanha da menina Laura, a qual precisa de um medicamento para vencer a AME – Amiotrofia Muscular Espinhal, Tipo 1. Dias antes, o garoto Bruno, oito anos, morador de Nova Trento, colocou a coleção de carrinhos em leilão com o mesmo objetivo. Exemplos protagonizados por crianças que, em momentos de dor, como diante da pandemia, revelam-se mais solidárias.

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– Nós conhecemos a família de Laurinha e estamos bastante envolvidos com a campanha. Pedro viu que eu separava umas roupas dele para um brechó e perguntou o que era, o que me fez explicar sobre a doença – conta a mãe, a fonoaudióloga Keila Dalbosco Viti.

Sensibilizado com a história, o menino disse:

– Que tal dar as minhas moedinhas para ajudar a comprar o remedinho dela?

A atitude ganhou repercussão uma semana depois, em uma live sobre doações da campanha para Laurinha, quando os pais e também Pedro fizeram suas doações. Na ocasião, Pedro convidou o pai, o diretor comercial Rodrigo Viti, para abrir o cofrinho

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Ações assim resultam do sentimento de empatia que as crianças possuem, diz a psicóloga clínica Caroline da Rosa Rodrigues. Atentas ao que acontece no mundo, elas expandem o olhar da casa ou da família para as ruas e cidades.

– As crianças, mesmo confinadas, sabem o que está acontecendo e buscam saídas para melhorar a realidade que se tornou mais difícil, seja através das brincadeiras alegrando o ambiente; seja fazendo uma doação para outra criança que precisa de ajuda – observa Caroline.

Para a psicóloga, o fato de não estarem na escola faz com que tenham mais tempo livre para pensar em outras coisas. Neste contexto, elas encontram mais espaço para expor a potência criativa e solidária que possuem a partir da percepção delas sobre o mundo.

– As crianças percebem que neste momento de pandemia há muitas demandas, que existem muitas pessoas precisando de ajuda. E elas conseguem expandir o olhar para além da própria casa e da família.

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“Garotada encontra espaço para pensar e agir pelo outro”, diz especialista

Dedicado à abordagem sistêmica, o psicólogo clínico João Davi Mendonça acredita que com gestos solidários a criança demonstra um sentimento de pertencimento a um grupo e à humanidade. Mas será que a criança já nasce generosa?

– Penso que esta não seja uma noção clara quando do nascimento, mas que vai aparecendo à medida que a criança vai se desenvolvendo – explica.

Assim, diz Mendonça, é importante também pensar que a criança não nasce com os vícios culturais, ou seja, atitudes racistas ou preconceito de gênero ou de classe social, muitas vezes revelados no comportamento adulto. Para o psicólogo é simples: nos “estragamos enquanto crescemos”.

Sobre os atos de solidariedade dos meninos que fizeram doações, o psicólogo observa que as iniciativas também dependem das pessoas ao redor da criança e que servem de modelo. Para Mendonça, crianças expostas a exemplos positivos de solidariedade e afetuosos tendem a ser mais humanistas.

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– As crianças quebram as barreiras do racismo, do preconceito de gênero e de classe social. Encontram espaço, uma espécie de janela em plena pandemia, para agir pelo outro e são capazes de atitudes que emocionam – diz Mendonça.

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Pedro contando as moedinhas para ajudar a Laurinha. (Foto: Arquivo Pessoal)

Campanha “Salvelaurinha”

Anna Laura Orsi Batista, está com dez meses de vida e enfrenta a doença neuromuscular degenerativa grave, causada por uma falha genética no gene SMN1, o principal responsável por produzir a proteína necessária para a musculatura do corpo. 

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A falta deste gene leva a perda de neurônios motores e resulta em fraqueza muscular progressiva e paralisia – em casos mais graves, pode ser fatal. Hoje, no mundo existem dois medicamentos disponíveis para o tratamento da AME, o Spinraza e o Zolgensma. O primeiro, hoje fornecido pelo SUS, é um tratamento para retardar o progresso da doença. Zolgensma é a primeira terapia genética que promete agir e reparar a falha genética. 

O problema é que ele só existe nos EUA cerca de R$ 12 milhões. A campanha está disponível no site, ou @salvealaurinha, no Instragram e Facebook. Hoje, ela respira com ajuda de um aparelho e se engasga com facilidade com a própria saliva.

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