¿Direito à vida é poder passear no parque¿, definiu a pequena Laíse Elaine Bruchado. ¿Paz é abraçar os amigos¿, observou a colega Pâmela Gonçalves de Lima. Já igualdade, para o Ygor de Oliveira Hames, ¿é não se achar melhor que os outros¿. ¿E vida é um coração¿, complementou Sandra da Silva. Estes conceitos tão puros, mas tão reais, saíram de crianças de apenas sete anos da Escola Municipal Laurita Wagner da Silveira, do bairro Aririú da Formiga, em Palhoça. Definições de direitos humanos estão sendo debatidas em sala de aula com os pequenos e nos dão aquela sensação de esperança de que o mundo pode ser melhor.

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Se para muitos adultos entender o que é respeitar o próximo (Alô, preconceituosos!) pode ser tão difícil, para as crianças, estes ensinamentos são valiosos e devem começar cedo. Com perguntas sobre o que eles acreditam ser cada palavra – como paz, família, democracia —, professores, com o respaldo do Observatório do Sistema Intramericano de Direitos Humanos, do curso de Direito da Univali, estão levando lições e elaborando um Dicionário de Direitos Humanos com as crianças do 2º ano do ensino fundamental, que têm entre sete e oito anos.

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Os estudantes foram, em uma viagem de ônibus, até à Univali da Kobrasol, onde fica o Observatório, e participaram de uma série de atividades. Teve cinema, pintura e discussões sobre cada ideologia. O Observatório gravou as definições dos pequenos em vídeos para, em seguida, analisarem as respostas.

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(Foto: Diorgenes Pandini / Agencia RBS)

Já nesta semana, eles fizeram colagens com figuras do que acreditavam definir cada ideologia. Em justiça, eles usaram imagens de policiais, por exemplo. Em igualdade, imagens de pessoas de todas as cores e de cadeiras de rodas.

— Igualdade é saber que não temos diferenças — sintetizou de uma maneira bem prática o aluno Victor de Lima, 8.

A partir destes ensinamentos, espera-se que o bullying, um dos grandes problemas das escolas, comece a diminuir. Outro ponto positivo, observa a professora auxiliar do 2º ano, Katia Regina Gonçalves, é que os alunos entendem seus direitos, mas também sabem que devem seguir algumas regras.

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— Tentamos aplicar as definições com situações do dia a dia. Quando eles precisam esperar sua vez para falar, eles sabem que isso é uma democracia. Quando perguntamos o que é liberdade, um aluno respondeu que era poder correr na rampa. Isso porque é proibido correr na rampa da escola. Mas eles entendem que não podem, pois podem se machucar — contou a educadora.

(Foto: Diorgenes Pandini / Agencia RBS)

Professores capacitados

O projeto em Palhoça atinge professores de 24 escolas. Segundo o idealizador, o coordenador do Setor de Assessoria do Gabinete da Educação e do Programa de Tecnologias Educacionais, Denis Ferrari – que participa do Observatório da Univali – 127 professores já receberam o curso e estão aptos a tratar o tema em salas de aula. Além do Dicionário com os mais novinhos, temas como ¿ódio na internet¿ foram debatidos com alunos do 8º e 9º ano.

— As ações serão catalogadas e nossa ideia é criar uma cartilha de atividades que possam seguir de exemplo para professores de outras escolas tratarem em sala de aula — explica Ferrari.

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Os direitos humanos, segundo o Ministério da Educação, devem ser tratados em salas de aulas de forma transversal, ou seja, ele precisa ser visto em todas as disciplinas, incluso em diferentes atividades.

O coordenador do Observatório, o professor da Univali Rodrigo Mioto, lembra que a proposta não é ensinar a definição certinha, mas incluir os ensinamentos em situações diárias das crianças, para que elas possam absorver mais facilmente e levar isso para casa, para a rua — como já está sendo feito em Palhoça.

— Nós acreditamos que isso possa ser feito na primeira e segunda infância, onde os ensinamentos ficam mais enraizados. Queremos que os direitos humanos se tornem uma cultura na escola. Formar melhores cidadãos — espera o professor.

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A parceria com a Univali ocorre, inicialmente, somente em Palhoça, mas Rodrigo Mioto não descarta a aplicação das atividades em mais escolas da Grande Floripa.