Um projeto na zona Leste de Joinville tem ensinado crianças a desbravar um dos lugares mais icônicos da região. A baía da Babitonga tem gerado também jovens atletas na modalidade de iatismo. Há sete anos, a Escola de Vela, uma parceria entre o Joinville Iate Clube (JIC) e a Secretaria de Educação, tem transformado a vida de crianças dos bairros Espinheiros e Comasa.

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Desde 2009, o JIC tem visitado as escolas e levado o pequeno barco da classe optimist às salas de aula para despertar a curiosidade das crianças que moram próximo à baía. São oferecidas gratuitamente cerca de cem vagas por ano para jovens entre oito e 14 anos.

Durante o curso, os participantes passam por três níveis de aprendizado, do iniciante ao avançado, com aulas práticas e teóricas sobre navegação, geografia, primeiros socorros e iniciação em regata. Elas descobrem como fazer os nós e amarras, a conhecer o vento e a maré e são incentivadas a entrar no esporte competitivo.

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Lucas da Silva Budal, do bairro Espinheiros, tinha apenas dez anos quando caiu na água pela primeira vez. A novidade o assustou, inicialmente, e fez com que ele desistisse do curso. Mas ele superou o medo e voltou para a escola de vela, onde permaneceu por quatro anos, até trancar novamente para começar a trabalhar. Depois de um intervalo, voltou e permanece até hoje, aos 17 anos.

– Já participei do Campeonato Brasileiro de Hobie Cat em 2015 e fiquei em 11º lugar no geral e em 1º na categoria gran master. No Campeonato Catarinense, fiquei em 4º lugar. Eu quero seguir carreira para um dia ir às Olimpíadas – projeta Budal.

Eduardo Cleiton da Silva, de 17 anos, começou há seis no projeto e também coleciona títulos – um, inclusive, é nacional. Em 2015, na primeira oportunidade em um Brasileiro da classe laser, no Rio de Janeiro, conseguiu o 7º lugar.

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Além do título de campeão catarinense de optimist, conquistou o 2º lugar no Sul-brasileiro na mesma classe. No Brasileiro de Hobie Cat, levou o 1º lugar na categoria estreante e 5º lugar geral. Todas essas conquistas impactaram a vida do menino do bairro Espinheiros.

– Antes, eu passava muito tempo sem fazer nada, agora estou sempre ocupado. E pretendo seguir carreira, mas é claro que tudo precisa de patrocínio. O JIC dá muito apoio, mas seria mais fácil se as empresas também ajudassem os atletas.

Ao lado dos meninos mais experientes, dezenas de crianças aprendem e se divertem com o esporte na água. Equipados com colete e atentos aos professores, eles testam a concentração, agilidade, capacidade de trabalhar em equipe, de ler a natureza e navegar. Moradora da zona Sul, Amanda Cristina da Silva, de dez anos, conseguiu uma vaga com esforço. Aluna há um semestre, ela já comanda sozinha o barco de optimist.

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– Eu gosto bastante de velejar, tento estudar muito e vejo vídeos na internet para poder sempre aperfeiçoar mais. O que eu mais gosto é de velejar em vento forte – diz a menina.

(Foto: Maykon Lammerhirt / Agência RBS)

Experiências para a autoestima

Segundo o diretor cultural do JIC, Dieter Hardt, a Escola de Vela tem como principal objetivo oportunizar uma educação complementar e iniciação esportiva às crianças da região, além de resgatar a cultura náutica na cidade. No projeto, os alunos recebem acompanhamento pedagógico e passam por provas. Se atingirem a meta, ganham certificado do JIC e a carteira de veleiro amador da Marinha do Brasil, que autoriza a conduzir a embarcação. Para Hardt, essas experiências ajudam a melhorar a autoestima dos alunos.

O projeto, que existe há 28 anos, inicialmente atendia somente aos filhos dos sócios do JIC. Desde 2009, crianças e adolescentes matriculados na rede pública são convidados a participar. A partir deste semestre, as aulas se estenderão aos jovens em situação de vulnerabilidade social, assistidos pelos Centros de Referência em Assistência Social (Cras). Futuramente, a Escola de Vela deverá oferecer também aulas de remo.

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– De manhã, eles estudam na escola e à tarde vêm aqui para a prática de vela. Não é só aprender a usar um barco e saber conduzi-lo, mas se aprendem disciplina, cidadania, organização e respeito. Tudo isso numa criança de oito ou dez anos é um elemento importante na educação – afirma Hardt.

As aulas da Escola de Vela acontecem de terça a sexta-feira, no período da tarde, e atendem especialmente aos estudantes da região Leste. Interessados em participar devem comunicar à direção da escola onde estudam.