O fole do bandônion abria e fechava, fazendo um som de timbre forte ecoar, e os dedinhos de Ana Letícia vibravam querendo apertar os botões do instrumento que o avô, Teobaldo Schultze, tocava para a família.
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– Eu perguntava se podia apertar os botões, mas ele nunca deixava – diz Ana Letícia, 11 anos, lembrando histórias de quando tinha apenas três anos e já se encantava com o bandônion. – Ele tinha muito ciúme do bandônion.
Teobaldo teve seis filhos e dez netos, mas nenhum deles se interessava em aprender a tocar as músicas tradicionais dos antepassados até Ana Letícia nascer com alma de bandonionista. Ela começou a fazer aulas há dois anos e o sonho do avô era assisti-la tocar. Não deu tempo: a primeira apresentação da menina foi em maio do ano passado, na Bandoneon Fest, e Teobaldo faleceu em fevereiro, vítima de um infarto. O bandônion de que ele tinha tanto ciúme ficou como herança para a menina, que, agora, escuta valsas e começa a aprender a cantar em alemão.
Da mesma idade de Ana, Ingra Santos não nasceu em Joinville, nem tem avós com sotaque alemão. Ela nasceu em Itiriçu, cidade no interior da Bahia, e há oito ano mudou com os pais para Santa Catarina. Moradora do bairro Vila Nova, ela já havia ido a festas típicas da região com os pais, mas conheceu o bandônion de perto na escola e se apaixonou. Há um ano, estuda o instrumento. Ela e Ana Letícia se apresentarão no sábado, no último dia da 3ª Bierville – Festa Alemã de Joinville.
Ao mesmo tempo, ela e os pais misturam as tradições, principalmente na culinária: adotaram a cuca no café da tarde, mas estão sempre em busca de lugares para matar as saudades do acarajé, do vatapá e da moqueca de peixe em Joinville.
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– Eu gosto de tocar essas músicas porque, como não nasci aqui, só sei o que aprendo na escola sobre a história da cidade. É diferente viver essas experiências – afirma a menina.
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