Qualquer livro de autoajuda tem pelo menos um ponto em comum: a realização de um sonho só se materializa para quem corre atrás. É preciso lutar pelo desejo. Assim mesmo, bem clichê. Bem vida real. Tão real quanto as mais de três décadas do itajaiense Anderson Baumgartner, que, apaixonado pela modelo Cindy Crawford, deixou a cidade nos anos 1990 para se transformar, em São Paulo, em um criador de top models.
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Antes de comandar a carreira de nomes como Carol Trentini, Alessandra Ambrósio e Marlon Teixeira (seu conterrâneo), precisou descobrir o tal sonho. Encontrar a resposta para decifrar o que queria fazer da vida. Aos 15 anos, Dando, apelido de infância, conheceu duas donas de uma agência.
– Na época, elas estavam organizando um desfile na Univali. Fiquei tão empolgado que comecei a ajudá-las. Este foi o grande start. Depois comecei a ajudar no concurso da (agência) Elite (o The Look of The Year). Eu ficava lá fora organizando a fila – relembra.
Apaixonado pelos bastidores deste universo, Anderson não parou mais. Bingo! Achou o que faltava. Bem antes do que a maioria de seus colegas de escola, ele já imaginava o futuro. Quase um conto de fadas. Para entar no mundo da moda, um grupo quase sempre fechado, abusou da criatividade. Como na primeira incursão por uma semana de moda:
– Eu não tinha dinheiro para ir a São Paulo, mas queria ir ao Morumbi Fashion (o embrião da SPFW). Fui na casa de um amigo, liguei para a assessoria de imprensa do evento. Como era tudo muito novo, era mais fácil. Falei que tinha um jornal. Inventei um nome, mandei uma cópia por fax e consegui cinco credenciais. Como tinha amigos donos de uma loja em SP, ofereci os convites com a proposta de que eles pagassem a viagem. E sentamos na primeira fila.
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A ida para a capital paulista aguçou ainda mais o desejo. A falta de grana, ainda em Santa Catarina, dificultava um planejamento mais distante. Como numa rede de solidariedade, uma amiga de Curitiba, por meio de outro amigo, enviou um envelope para Anderson. Dentro, um presente: R$ 250. Era o que faltava para os primeiros passos. Desembarcou dois dias depois em São Paulo, se instalou na casa de outra amiga e bateu na porta da Elite por uma semana, naquela época a mais importante agência de modelos do país. Nada.
Por coincidência, um dia antes de voltar pra casa, a modelo que o estava hospedando recebeu um convite para jantar. E levou ele junto.
– Era com o Zeca Abreu, que tinha saído da Elite e estava abrindo uma agência francesa no Brasil. Ele me convidou para trabalhar como assistente. Nove meses depois virei booker – conta.
O resto passou voando. Aprendeu diariamente como administrar a carreira e a vida de meninas que saíam de uma cidade pequena, assim como ele, para desfilar e disputar espaço nos maiores centros de moda do mundo. Viu a profissão mudar de nome. O booker, hoje, atende pela alcunha de agente.
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Nove anos depois do convite para trabalhar na agência francesa, uma mudança. Mais uma. Ao lado do amigo Zeca, aos 33 anos, abriu sua empresa, a Way Model, hoje a mais bem-cotada entre as agências nacionais. Ganhou uma nota na revista Veja. Nela, Carol Trentini, queridinha de Anna Wintour, da Vogue americana, afirmava que iria com Anderson até para a sala de seu apartamento.
O dia a dia é marcado pela correria. Uma semana no Rio, outra em São Paulo, em Nova York, na Europa, no avião.
– Mas não há cidade no mundo como Itajaí. É pra lá que eu vou com o meu irmão (Fábio Bartelt). O que eu mais gosto é ficar jogando baralho com a minha família – encerra assim, bem clichê, bem vida real.