A mata atlântica ainda existe em Joinville, ainda que por vezes passe despercebida aos olhos durante a correria do dia a dia. Espécies raras e até em risco de extinção têm espaço em áreas como o morro do Iririú, que abrange seis bairros e teve área de relevante interesse ecológico (Arie) decretada pelo município no dia 9.
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Nos mais de 5,2 milhões de metros quadrados, vivem tucanos, tamanduás-mirins, pés de canela-preta e de peroba. Mas também há casas e empresas cujos donos terão de se adaptar ao plano de manejo, previsto para ser concluído daqui a cinco anos de discussão. Elaborado por empresa que será contratada por licitação ainda neste ano, o plano provavelmente trará restrições de uso à Arie e seu entorno em um raio de 300 metros.
Por enquanto, a Fundação do Meio Ambiente de Joinville (Fundema) trabalha para identificar problemas de ocupação no morro, como lotes acima do limite de 40 metros em relação ao nível do mar e em áreas de risco. Para o órgão, as leis que protegem a mata e o topo de morros ajudaram a manter o verde na região, mas não bastavam para garantir proteção e arrecadar recursos – daí o decreto.
– Como no morro só o Parque Morro do Finder era protegido, decidimos proteger toda a área -, afirma o biólogo e coordenador de unidades de conservação da Fundema, Daniel Luís Lepka.
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Durante a elaboração do plano, serão feitas audiências públicas e levantadas as espécies que vivem na área. Técnicos já localizaram – com ajuda de moradores e de observações – 109 espécies de aves, 42 de anfíbios, 39 de répteis e 62 de mamíferos. A Arie é habitat do passarinho pixoxó e do gato-do-mato, entre outras espécies ameaçadas de desaparecer.
Antes da povoação, o morro do Iririú era integrado com o do Boa Vista (hoje uma Arie) e formava o morro das Cachoeiras. Com o tempo, um corredor urbano separou a mata. Uma intenção do Plano de Gerenciamento Costeiro é voltar a ligar as unidades sem influenciar na mobilidade urbana.
Cerca de cinco mil árvores serão plantadas ainda neste ano nas ruas entre os morros. Segundo a Fundema, o corredor possibilitará o intercâmbio de aves e deixará as ruas mais arborizadas. A ideia é que, futuramente, as sete áreas de preservação da cidade sejam unidas deste forma.
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Fiscalização deverá ser mais rígida
Para delimitar a área, a Fundema usou critérios ligados à legislação ambiental, assinala a presidente do órgão, Maria Raquel Migliorini de Mattos. Foram incluídos na área terrenos localizados acima da cota 40 – com exceção dos que integram o Parque do Morro do Finder; terrenos abaixo da cota 40, mas maiores de mil metros quadrados e com pelo menos 30% de área florestada; e os terrenos menores de mil m2 com pelo menos 50% de área florestada. A definição foi discutida em quatro consultas públicas em 2011.
Segundo Maria Raquel, moradores não estarão sujeitos a perder terreno e ninguém será tirado da Arie, salvo decreto da Defesa Civil. Mas quem fica estará sujeito a regras. Donos de terrenos florestados de mil metros quadrados, por exemplo, têm de manter 50% da mata. Novas negociações serão feitas para o plano de manejo.
A fiscalização passará a ser mais rigorosa e construções acima da cota 40 serão vetadas, assim como o corte de vegetação. As moradias fora das normas terão de ser regularizadas. As margens de rios e nascentes também serão protegidas.
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Moradores afirmam apoiar preservação
Apesar de os bairros abrangidos pela Arie Morro do Iririú serem populosos, cerca de 30 representantes das comunidades interessadas compareceram às consultas públicas no ano passado, informou a Fundema de Joinville. Segundo a presidente da Associação de Moradores do bairro Iririú, Neide Poffo, moradores aceitaram buscar a preservação da natureza do Morro do Iririú e concordaram com as limitações.
Mas ela afirma que a associação estará atenta às possíveis mudanças que podem ocorrer durante a elaboração do plano de manejo. Promete acompanhar de perto o trabalho da empresa que será contratada para a elaboração das regras nos próximos cinco anos.
– O conselho espera realmente que seja feito o controle social dessa área -, ressaltou.
A preservação do verde também é de interesse de moradores ouvidos por “AN”, ainda que muitos desconheçam o decreto que criou a área protegida no morro do Iririú. O caminhoneiro aposentado Milton Vieira, 73, mora há 12 anos próximo ao Parque Morro do Finder e não quer outra coisa se não permanecer o resto da vida perto da vegetação sobrevivente.
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Apesar de afirmar desconhecer o projeto que criou a Arie, Milton agradece se a herança de seus filhos permanecer vizinha de uma área verde preservada.
A professora Rosenea Laureano Machado Ferreira, 36 anos, também concorda em preservar a natureza da área. Ela afirma que construiu a casa dentro das normas da Prefeitura, há três anos. Agora, com vista privilegiada para a mata atlântica, mesmo em meio à zona urbana, Rosenea pretende permanecer por ali bons anos ao lado da família.