No quintal, no jardim ou na varanda. A criação de abelhas nativas em casa ou apartamentos tem se popularizado em Santa Catarina. À primeira vista, pode-se imaginar que o cultivo representa algo perigoso. Entretanto, as espécies possuem o ferrão atrofiado, permitindo que esses insetos possam ser criados em ambientes urbanos.

Continua depois da publicidade

> Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp

Desde criança, a analista ambiental Milene Priscila Lima de Oliveira, de 34 anos, gosta de ficar observando a natureza e lembra que ficava encantada com as abelhas nativas jataí que encontrava em árvores. Ela explica que antes de adquirir uma caixa que suporta uma colônia de abelhas sem ferrão, precisou se familiarizar e aprimorar os conhecimentos para aprender sobre os cuidados com os insetos.

– Moro em um apartamento no térreo e não precisou fazer nenhuma alteração, só coloquei a caixinha na sacada. Eu também fiz um curso para ter os cuidados, onde colocar, como faz a transferência, que me deu muita base para começar.

Milene conta que o marido Renan Alcamin de Freitas, 36 anos, e os filhos Joaquim e Benjamin, 7 e 4 anos, aprenderam muito com a observação do comportamento das abelhas e estudam a proposta de ampliar as colmeias no condomínio, já que moram próximo de uma área verde em Florianópolis.

Continua depois da publicidade

Milena, Renan e os filhos Joaquim e Benjamim tem em casa uma criação de abelhas sem ferrão
Milena, Renan e os filhos Joaquim e Benjamim tem em casa uma criação de abelhas sem ferrão (Foto: Milene Priscila Lima de Oliveira/ Arquivo pessoal)

– Ficamos com esse olhar mais apurado para observar a ocorrência de abelhas. Será uma oportunidade para as outras pessoas também aprenderem com as abelhas.

De modo geral, ter uma colônia de abelhas sem ferrão em casa nos ajuda a compreender de forma prática que tudo tem seu tempo e que todos têm sua função, diferentes mas nenhuma menos importante. Exemplificando com as abelhas, tem a rainha, as princesas, os zangões, as operárias, e a função de todas elas é essencial e isso a gente vai propagando em toda a natureza, na nossa vida e é muito gratificante ver o trabalho delas de polinização, fico encantada”, afirma.

O filho mais velho de Milene ajudou a fazer um jardim com plantas aromáticas e também afirmou que fica de olho na colmeia para evitar ataques de outras abelhas.

– O melhor é deixar elas em ambientes do lado de fora e perto de jardins. Se cuidarmos muito bem delas, elas podem produzir mel pra gente como alimento – disse Joaquim. O caçula Benjamim também já conhece a espécie que tem no quintal e elogiou o mel produzido.

Continua depois da publicidade

> “Luzes misteriosas” no céu intrigam moradores no Planalto Norte de SC

Milena afirma que o mel é apenas um “bônus” do que as abelhas promovem e que faz poucas intervenções e raras retiradas do alimento das abelhas da caixa.

– Elas são muito importantes na nossa alimentação por mais que a gente não consuma o mel diretamente, indiretamente a gente consome muito do que elas produzem porque elas estão lá diariamente polinizando cada florzinha e para poder ter o fruto, primeiro precisa ter a polinização – conclui.

Uma tradição que passou de pai para filho em São Francisco do Sul

O meliponicultor Ramon Viana de Souza, 39 anos, conheceu as abelhas sem ferrão por acaso, na entrada de um galpão da propriedade do pai, Jair Medeiros de Souza, de 62 anos, no Iperoba.

Foi quando resolveu pesquisar mais sobre o inseto que se mantinha em um lugar nada propício, em um tronco que era utilizado como passagem para o carro na entrada da garagem, e descobriu que se tratava da espécie jataí.

Continua depois da publicidade

Ele conta que inicialmente para salvar os insetos buscou informações na Associação de Meliponicultores (AME) de Joinville e na internet. Depois fez cursos, participou de palestras e chegou até mesmo a fazer um curso profissionalizante em meliponicultura pelo Instituto Federal Catarinense (IFC).

Assim que foi aprendendo mais sobre as abelhas sem ferrão, ele também acabou ampliando a quantidade de colmeias.

Atualmente, são 22 espécies de abelhas nativas e um total de 300 colônias, que formam o meliponário “Airetama”, que vem do tupi-guarani e quer dizer Casa das Abelhas. – Instalamos as colmeias pela varanda da casa, pelo jardim, em vários locais.

Ramon, Daiane, Benjamin e Jair
Ramon, Daiane, Benjamin e Jair (Foto: Ramon Viana de Souza/Arquivo pessoal)

Poder criar abelhas sem o risco de ser ferroado já que as espécies nativas não possuem ferrão é encantador e contagia todo mundo, a maior atração é tomar mel de canudinho direto na caixa das abelhas – afirma.

Continua depois da publicidade

Ramon indica para os iniciantes na criação de abelhas sem ferrão tenham uma boa diversidade de plantas que florescem em épocas diferentes do ano para garantir a alimentação.

– No inverno tem pouca oferta de alimento, então ajudamos as abelhas com uma alimentação de água e açúcar. Ele explica que as abelhas não só mudaram as relações dentro de casa, como também de parentes e vizinhos.

> Como era Balneário Camboriú no passado? Veja fotos do antes e depois da cidade

Além disso, reforçou o valor da consciência para a preservação, que acabou incentivando o surgimento de ideias inovadoras.

– O amor pelas abelhas virou fonte de renda para nós, hoje comercializamos a ‘Caixa Airetama’ fabricada em fibra de coco e bioplástico e colmeias para quem está iniciando na criação. Lembrando que retirar abelhas de ninhos naturais é crime ambiental, portanto é preciso adquirir as primeiras com criadores autorizados.

Continua depois da publicidade

Mas, a criação é fácil e muitos têm criado como ‘pet’ com a praticidade de sair de casa e saber que elas estão livres para se alimentar e ajudar a natureza. A criação da família de Ramon está inserida no projeto “Caminhos de São Chico”, em que crianças da rede municipal de ensino fazem visitas e conhecem as abelhas e seus benefícios.

> Conheça os 16 animais mais estranhos e raros vistos em SC

Nova forma de reconexão com pessoas e natureza

A meliponicultora e moradora de Florianópolis Stefânia Hofmann também resolveu investir em reconectar as pessoas com a natureza por meio da criação de abelhas nativas sem ferrão.

– Eu gosto de olhar para as abelhas como uma ferramenta de educação ambiental e também como uma grande inspiração, de trabalho, de organização social, as abelhas são animais muito simbólicos em muitas culturas – explica.

A ideia do projeto da startup URBEES surgiu quando Stefânia conheceu as abelhas nativas sem ferrão em 2019 e percebeu que poucas pessoas sabiam da possibilidade de criá-las em casa com facilidade.

Continua depois da publicidade

– É uma caixa pequena, que tem 30 centímetros de lado e de altura, que você pode colocar na sacada do apartamento, no quintal de casa, o espaço não precisa ser grande. Uma abelha dessa voa em busca de alimento e consequentemente polinizando as plantas de um raio de 500 metros a 2 quilômetros no entorno da sua casa.

Engenheira ambiental e meliponicultora Stefânia Hofmann e os filhos com uma caixa de abelhas sem ferrão
Engenheira ambiental e meliponicultora Stefânia Hofmann e os filhos com uma caixa de abelhas sem ferrão (Foto: Tiago Ghizoni)

Ela conta que no quintal atualmente tem 40 colmeias que propiciam experiências para a família e também para promoverem “ganhos sistêmicos” para o meio ambiente.

– A gente passa a plantar mais, a cuidar mais do ambiente, a mudar a nossa forma até de consumo. A gente cria uma rede de regeneração dos ambientes urbanos. O projeto tem o propósito de trazer essas abelhas de volta para o convívio das pessoas, regenerar os ecossistemas locais, e regenerar a conexão das pessoas com a natureza – explica.

Por conta da pandemia, o negócio contou com o apoio das redes sociais para divulgar as informações sobre a criação e também manejo das colmeias. Desde a fundação, já são mais de 130 famílias praticando a meliponicultura em Florianópolis e outras cidades do estado, regenerando cerca de 70 mil hectares urbanos graças à ação das abelhas.

Continua depois da publicidade

> Ilha de SC é o único lugar do mundo a abrigar mamífero ameaçado de extinção

Na Grande Florianópolis, em Biguaçu, Eduardo Dellangelo Silveira tem mais de 400 colmeias e mais de 20 espécies de abelhas sem ferrão em casa, que tem uma área verde.

Há cerca de dez anos, ele lembra que começou a criar abelhas nativas ao se deparar com uma colmeia de Mirim droryanadurante obras que estava realizando no terreno.

– Eu estava fazendo uma vala e estava utilizando bambu para fazer um dreno, quando vi que tinha uma colmeia que acabou caindo no chão. Antes que elas morressem eu coloquei elas dentro de uma caixa, que tenho até hoje. Depois tive duas mais comuns na região e fui conseguindo outras espécies. Sempre a intenção é a preservação de espécie, multiplicação para não se perder, não se acabar, por conta do risco de extinção – explica.

Com o passar dos anos, ele foi tomando gosto pela meliponicultura e hoje a criação de abelhas complementa a renda familiar.

Continua depois da publicidade

Eduardo Dellangelo Silveira, do Meliponário Biguaçu
Eduardo Dellangelo Silveira, do Meliponário Biguaçu (Foto: Eduardo Dellangelo Silveira/Arquivo pessoal)

Além da venda dos enxames, ele recebe escolas, universidades e visitantes que querem conhecer sobre as abelhas nativas ou comprar uma caixa para ter em casa. Ele não comercializa o mel das abelhas.

– A abelha não respeita cerca, por isso que dá para ter em apartamento, elas não param, pois trabalham o tempo todo e dormem muito pouco por dia. Hoje muitas pessoas buscam esse tipo de abelha por conta do incentivo da polinização em culturas como morango, laranja, tomate.

> Rinhas de galo persistem em SC e têm até 80 animais nos confrontos; veja como funcionam

Silveira explica que as abelhas operárias, por exemplo, têm uma média de vida de 28 a 42 dias. Já as rainhas podem viver até cinco anos e são substituídas ao longo do tempo.

– A rainha vai ficando velha, as operárias elegem uma princesa para assumir a postura da colmeia. Então elas (colmeias) podem viver durante anos, há relatos de mais de 50 anos – afirma.

Continua depois da publicidade

Por conta disso, Silveira disse que ajuda as pessoas que adquirem os enxames com ele por meio de grupos no WhatsApp e também acaba ensinando sobre as principais práticas de manejo.

– Tem crescido muito a procura por abelhas sem ferrão em Santa Catarina, principalmente de pessoas que estão preocupadas com a natureza. Não tenho percebido uma desistência das pessoas ao adquirir uma caixa e sim que acabam buscando outras para aumentar. As caixas com abelhas sem ferrão são comercializadas entre os valores de R$ 200 a R$ 1 mil, dependendo da espécie e do modelo da caixa.

Conheça os tipos de abelhas:

Iratim Vermelha
Iratim Vermelha – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Iratim
Iratim – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Lambe Olhos
Lambe Olhos – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Guaraipo
Guaraipo – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Bugia
Bugia – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Manduri
Manduri – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Mandaçaia (Mqa)
Mandaçaia (Mqa) – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Mandaçaia (Mqq)
Mandaçaia (Mqq) – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Iraí
Iraí – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Caga-fogo
Caga-fogo – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Jataí da terra
Jataí da terra – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Boca de sapo
Boca de sapo – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Boca de sapo
Boca de sapo – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Mirim Droriana
Mirim Droriana – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Mirim Emerina
Mirim Emerina – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Mirim Mosquito
Mirim Mosquito – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Mirim-Guaçú
Mirim-Guaçú – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Mirim Saiqui
Mirim Saiqui – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Mirim
Mirim – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Tubuna
Tubuna – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Canudo
Canudo – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Tubiba
Tubiba – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Mulata da Terra
Mulata da Terra – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Borá
Borá – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Irapuá
Irapuá – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Jataí
Jataí – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)
Jataí
Jataí – (Foto: Ben Ami Scopinho/Arte NSC)