Ele tem 21 anos e mora em Rio do Sul, no Vale do Itajaí. Filho de pai pedreiro, trabalha em uma loja de móveis e eletrodomésticos. Aos 14 anos, teve a primeira relação sexual e começou a namorar outro jovem. Depois de dois anos, com o fim do relacionamento, João entrou em depressão. Por orientação médica, fez alguns exames. Foi a mãe quem informou o diagnóstico:

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– Chorando, ela falou: O médico disse que você está com aids. Como ele foi meu primeiro parceiro, confiava demais, e raramente usávamos camisinha – conta.

Após a constatação, aos 16 anos, que havia contraído HIV, ele imediatamente começou o tratamento com os antirretrovirais. Hoje, participa da Rede Nacional de Jovens e Adolescentes que vivem com HIV/aids: além de comunidades no Facebook, realiza encontros estaduais.

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Jovens como o morador de Rio do Sul fazem parte de um grupo que gera preocupação em Santa Catarina. O número de pessoas de 15 a 19 anos portadores da doença saltou 56% no Estado de 2012 a 2013. Desde o início deste ano até outubro, foram 50 novos casos diagnosticados.

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Para a gerente de Vigilância das DST/aids e Hepatites Virais da Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina, Ingrid Bittencourt, há uma certa banalização da aids, porque com a medicação e tratamento, muitos acreditam que o vírus não leva o paciente à morte:

– Estamos retomando essa conversa, porque aids mata. Se não se cuidar, realmente mata. Mas se o paciente tratar, pode ter qualidade de vida.

Assim como o Estado, Florianópolis é a segunda Capital no país em número de casos detectados. A gerente de Vigilância Epidemiológica de Florianópolis, Ana Cristina Vidor, afirma que houve um relaxamento no uso da camisinha.

– No início, todos os grupos sociais tinham medo da doença e começamos a perceber mudanças de comportamento e o crescimento no uso de preservativo. Agora, o uso está muito menor que outros anos.

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Florianópolis terá testes rápidos para HIV e sífilis

Embora o número geral de casos tenha se mantido praticamente estável nos último anos em Santa Catarina, o Estado ainda figura como o segundo com maior taxa de detecção por 100 mil habitantes no país. Desde 1984, quando o primeiro caso foi detectado no Estado, até outubro deste ano, SC acumula 34.415 casos.

A tendência é que o número aumente ainda mais nos próximos anos. Florianópolis inicia nesta semana a implantação, na rede municipal de saúde, dos testes rápidos para diagnóstico de HIV e sífilis. A proposta é enfatizar e incentivar o diagnóstico de no mínimo 90% das pessoas contaminadas pelo vírus HIV e iniciar o tratamento com antirretrovirais em 90% dos portadores do vírus.

O teste rápido é feito com uma gota de sangue. Em breve, deve ser disponibilizado em todas as unidades de saúde do Estado.

Número de idosos com a doença também aumentou

Entre 2012 e 2013, o número de idosos infectados subiu 10% em SC. Em 2013, foram 101 casos registrados em pessoas com mais de 60 anos. Há 10 anos, esse número era de 38.

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– Há o aumento da população idosa no país, e muitos deles vêm morar em Florianópolis. Felizmente, as pessoas estão vivendo mais e melhor e a sexualidade também se estende por mais tempo – afirma Ana Cristina Vidor.

A coordenadora do curso de medicina da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) Rosálie Kupka Knoll, afirma que os idosos não têm a cultura do preservativo, o que também influencia nos números.

– Paciente na terceira idade tem uma certa resistência à camisinha, porque se ele parar para colocar, pode não ter ereção de novo. Tem ainda a vergonha de tirar a camisinha de dentro da bolsa – diz Ingrid Bittencourt.