O aumento de casos de Covid-19 em adultos elevou também a ocorrência da doença em crianças e adolescentes de Santa Catarina, estado onde desde o começo da pandemia morreram 36 pessoas com menos de 21 anos. Até segunda-feira (8), eram 23.413 crianças e adolescentes contaminados. Fevereiro foi o segundo pior mês da série e totalizou 12.553 com Covid-19. Do total de vidas perdidas, 22 foram no ano passado. Nestes primeiros três meses já são 14 meninos e meninas de zero a 21 anos que tiveram suas vidas levadas pelo coronavírus.

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A situação preocupa os médicos, os quais alertam que a contaminação tem ocorrido dentro de casa. Outro motivo de preocupação é que com o surgimento de novas variantes – mais contagiosas e presentes no Estado – pacientes cada vez mais jovens estão precisando de hospitalização, e até de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Há 15 dias, duas crianças foram levadas de Chapecó para o Hospital Seara do Bem, em Lages. As pacientes possuem comorbidades e já deixaram a UTI.

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Um alerta foi emitido justamente em Chapecó. Nos primeiros meses do ano, o número de crianças com covid-19 atendidas no Pronto Atendimento Respiratório da Unimed da cidade superou os 10 meses de pandemia de 2020. De acordo com levantamento da cooperativa médica, no ano passado foram atendidos 92 casos, sem nenhuma complicação. Em 2021 foram 17 em janeiro e 81 em fevereiro, com três internações por complicações e maior gravidade da doença.

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– O quadro clínico é muito semelhante a uma gripe. Mas não pode ser distinguido clinicamente sem a realização do exame para covid-19 – explica a pediatra intensivista Luciana da Silva Carreira.

Pais e filhos com os mesmos sintomas

O consultório da pediatra Dalet Camboim, na UPA de Forquilhinhas, em São José, é prova da explosão do número de crianças com os sintomas da doença.

– Posso dizer que triplicou em relação ao ano passado. Também noto que as mães se dizem estar com os mesmos sinas, o que mostra que a contaminação se dá dentro da própria família – diz a médica.

A pediatra explica que apesar da criança ter uma replicação viral baixa, é importante saber que isso não significa que a pessoa que ela eventualmente contamine irá ter sintomas leves da Covid-19:

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– Isso depende de cada organismo, da forma com que cada pessoa responde ao vírus.

De acordo com dados da Vigilância Municipal, há um aumento dos casos positivos nos últimos meses. Em janeiro, das 442 coletas feitas, 83 deram positivo. Em fevereiro, foram 130 testes positivos para 652 coletas.

Pediatra alerta para consultas de rotina

Para o médico pediatra Cecim El Achkar, as crianças catarinenses vivem o mesmo efeito dos motivos da contaminação de adultos: o afrouxamento das medidas e eventos como eleições, festas de final de ano, carnaval. No ano passado, observa Cecim, as crianças quase não adoeceram devido à ausência da escola e das creches onde a troca viral é muito comum. Com os pais em casa, as crianças se alimentaram e dormiram melhor e se sentiram mais seguras:

– Até o desfralde foi mais rápido – observa o médico.

Porém, com o retorno ao ‘quase normal’, as realidades mudaram. Além disso, por causa da pandemia muitas famílias deixaram de levar os filhos para consultar com com pediatra e isso influencia na saúde das crianças.

– Este distanciamento dos consultórios e dos postos de saúde deixou doenças imunológicas sem controle. Um ano depois se percebe a falta ou a presença muito baixa de vitaminas que são importantes, como a C, D, zinco, entre outras – alerta o pediatra.

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Em crianças, diz o médico, os casos continuam sendo mais leves. Para ele, quem faz a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) é devido a alguma alteração imunológica, diz Cecim. O médico recomenda atenção com as bronquiolites, mais comuns com as mudanças de temperaturas desta época e que estão forçando internações. O profissional também sugere a atualização de carteiras de vacinas, como o sarampo.

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Taxa de ocupação dobra no Hospital Infantil

O reflexo do aumento de casos pode ser visto na rede hospitalar do Estado. No Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, três crianças encontravam-na enfermaria com suspeita da doença na noite desta segunda-feira. Na UTI Covid, uma criança recebia cuidados. Dados do sistema Censo Hospitalar informam que em fevereiro a taxa de ocupação foi de 40,48%, o dobro de janeiro, que ficou em 22.58%. Desde o começo da pandemia foram 91 casos confirmados, 651 descartados e um óbito. Em Joinville, eram três crianças hospitalizadas, uma delas na UTI do Hospital Doutor Jeser Amarante Faria.

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Oito óbitos em bebês com até dois anos

De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde, disponíveis no Painel Coronavírus, no NSC Total, das 36 crianças e adolescentes que perderam a vida no Estado, 19 estiveram internados em UTIs. Destes, 19 eram do sexo masculino e 17 do feminino. A maioria era da raça branca (29), sendo quatro pretas, duas pardas e uma indígena. Oito das vítimas tinham até dois anos de idade.

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