Vegetarianos, veganos ou simplesmente consumidores em busca de uma alimentação saudável em Santa Catarina já podem se considerar bem abastecidos. Cresce no Estado o número de empreendedores interessados por uma fatia do mercado que deve movimentar R$ 21 bilhões no Brasil em 2015, segundo a consultoria Euromonitor. Bom para o consumidor, que encontra mais opções de preços e sabores, e bom para o empreendedor, beneficiado por um nicho de mercado de crescimento exponencial.

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No Brasil, quase 16 milhões de pessoas (8% da população) já se consideram vegetarianas, de acordo com dados do Ibope de 2012. A evolução do mercado de produtos saudáveis é tão palpável nos últimos 10 anos, como lembra a presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), Marly Winckler, que até as empresas alimentícias tradicionais estão tendo que se adaptar.

A Coca-Cola, por exemplo, usou pela primeira vez o adoçante natural estévia na versão light do suco de laranja caseira Del Valle Mais. Segundo relatório da Euromonitor, o foco da mudança foi no consumidor brasileiro, bem mais preocupado com a alimentação do que antes. Já a catarinense BRF, lançou no mercado o hambúrguer de soja das marcas Sadia e Perdigão.

Segundo a presidente da SVB, que também é moradora de Florianópolis, Santa Catarina se destaca na rota do consumo saudável no Brasil por apresentar características que favorecem a qualidade de vida e o contato com a natureza. Um bom exemplo da evolução desse mercado no Estado é a empresa Quebra-Cabeça, de Bombinhas, no Litoral Norte.

Em 2009, Pedro Santana e Ellen Stellet, então estudantes de Engenharia e História na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), montaram um dos primeiros carros de lanches veganos do Brasil. Uma das opções era o sanduíche Quebra-Cabeça, que hoje dá nome à loja, um lanche prensado na chapa com mais de 20 opções de recheio.

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O sucesso de vendas do carrinho na universidade foi mais um sinal da carência de produtos deste tipo no mercado. Pedro, que é vegano há nove anos, conta que quando decidiu mudar sua alimentação não conseguia encontrar quase nenhum produto sem origem animal no supermercado.

– Há nove anos, mal existiam restaurantes vegetarianos em Florianópolis e, no mercado, encontrava só os alimentos básicos, como hambúrguer de soja – observa.

O casal decidiu então investir no segmento da alimentação vegana e desenvolver produtos. Ellen, que já vinha testando receitas de queijos vegetais da internet, chegou em 2010 ao que hoje é o carro-chefe da empresa: o mandiokejo, feito à base de mandioca e feijão, sem corantes e aromatizantes.

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Ellen e Pedro comprovaram a aceitação da novidade em feiras de Florianópolis, mas perceberam que os custos de conservação do produto limitariam a venda para outras cidades do Brasil.

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Ellen debruçou-se novamente sobre o desenvolvimento e criou um mandiokejo em pó. Com o investimento inicial de R$ 2 mil, o casal formalizou a loja online, que passou a vender o produto para todos os Estados do país. Em 2012, a Quebra-Cabeça vendia 300 quilos do mandiokejo ao mês. Hoje, comercializa 1,2 tonelada mensalmente.

Junto com outros produtos que fogem da soja como o primeiro ingrediente da alimentação vegana, a exemplo do bife vegetal à base de feijão carioca e o hambúrguer de quinoa, o faturamento da empresa saltou de R$ 106 mil em 2012 para R$ 677 mil em 2013, um aumento de quase 540%. Atualmente a Quebra-Cabeça tem uma carteira de 400 clientes, entre compradores online e redes especializadas.

Mercado São Jorge: empório quer fortalecer cadeia

Mais do que um ponto de venda de produtos orgânicos, o Mercado São Jorge, em Florianópolis, é parte de uma iniciativa de empresários do segmento de fortalecer a cadeia produtiva da alimentação orgânica no Brasil.

A proprietária Carolina Araújo Teixeira, dona também das três unidades do restaurante Central na cidade, conta que a sua primeira intenção ao abrir o mercado, em fevereiro de 2013, foi oferecer aos consumidores alimentos orgânicos a preço acessível e, aos produtores, uma opção rentável de negócio. O objetivo de abrir uma empresa lucrativa, segundo ela, veio em segundo plano.

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– A ideia do Mercado São Jorge surgiu do contato com os agricultores que forneciam para o Central. A nossa ideia era fazer diferente do que vinha acontecendo na comercialização de orgânicos, com a elevação das margens de lucro dos lojistas e os agricultores tendo que absorver o prejuízo do que não era vendido. No mercado, nos preocupamos em vender toda a entrega do agricultor, nada volta para ele com prejuízo – explica.

Carolina também viaja para grandes cidades do país para entender como funciona a cadeia e oferecer aos empresários propostas de melhorias na logística. O que sobra em São Paulo, ela explica, pode ser consumido em Santa Catarina.

Ela conta que a ideia é formar uma rota sustentável da produção orgânica e que outros empresários brasileiros estão se engajando no objetivo. O Mercado São Jorge tem um caminhão refrigerado para testar as melhores alternativas de transporte dos orgânicos. Muitas das tentativas, segundo ela, já resultaram em prejuízo.

Apesar de não ser o foco do novo empreendimento, a empresária enxerga que o segmento da alimentação orgânica é um bom negócio. Ela afirma que o mercado tem saúde financeira, com crescimento contínuo do faturamento a cada mês.

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– Toda semana alguém me procura propondo parcerias para um novo mercado em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba… Ainda não estou prevendo ir para outras cidades, mas é algo que me interessa. É o que chamamos de economia de escala. Aumentando o volume de vendas, causamos um impacto maior na cadeia produtiva – diz.

Estado no topo nacional da produção de orgânicos

A forte presença da agricultura familiar em Santa Catarina favoreceu o fortalecimento da produção orgânica no Estado. Santa Catarina disputa com Minas Gerais a quarta posição no ranking nacional do cultivo de orgânicos, com 40 a 60 mil toneladas anuais de hortifruti no mercado.

Segundo Paulo Tagliari, coordenador por oito anos do projeto de produção orgânica da Epagri, são 700 agricultores autorizados a usar o selo de cultivo sem agrotóxicos em seus produtos no Estado. Número que poderia ser bem maior, como explica o engenheiro agrônomo, já que de 10 a 15 mil produtores usam herbicidas apenas eventualmente, e teriam condições de se adaptar às exigências da modalidade.

Mas quando o assunto é associativismo, Santa Catarina se destaca como o estado brasileiro com o maior número de associações de produtores orgânicos. São 60 cooperativas que auxiliam os agricultores nas técnicas de cultivo e comercialização dos produtos. A maior delas é a Biorga, no Oeste, com quase 200 famílias associadas.

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Segundo Tagliari, a produção catarinense é até insuficiente para o tamanho da demanda desse mercado hoje. Os agricultores do Estado vendem para centros de distribuição, mercados, feiras e restaurantes do Sul e de São Paulo e também exportam para a Europa.

Na visão do especialista, o governo deveria criar políticas públicas, como isenção de ICMS, que incentivassem uma produção que é vantajosa para o agricultor e também para o consumidor. De acordo com ele, a produção orgânica é menos onerosa do que a com agrotóxicos, mas exige do produtor a compra de equipamentos. Tagliari reforça que o hortifrúti orgânico, apesar de menor, é mais saboroso e nutritivo.

Pelo Estado

Onde encontrar boas opções de comida natural nas principais cidades do Estado de acordo com a opinião de vegetarianos:

::Chapecó

Restaurante Caminho Natural

Rua Fernando Machado, 97D, Centro

(49) 3328-3491

Fonte Vitall Alimentação Revitalizante

Rua Rui Barbosa

(49) 3322-0310

Verduras Luzzi

Linha Rodeio Bonito

(49) 3319-9439

::Criciúma

Ávila Produtos Naturais

Avenida Centenário, 3400

(48) 3433-4891

Empório Natural do Giassi

Rua Henrique Lage, 1251, Santa Bárbara

Fone: (48) 3461-8900

::Florianópolis

Restaurante Simples e Natural

Rua Joe Collaço, 76, Córrego Grande

Mercado São Jorge

Rua Brejaúna, 43, Itacorubi

(48) 3238-5809

Kulturas Restaurante

Rua Esteves Júnior, 50, loja 7A, Centro

(48) 3223-5294

Centro Cultural Aldeia Indigo

Av. Pequeno Príncipe, 1202, Campeche

(48) 3365-8720

Vida Restaurante Natural

Rua Visconde de Ouro Preto, 298, Centro

(48) 3025-5646

::Joinville

Empórium Produtos Naturais

Rua do Príncipe 777, Centro

(47) 3422-6017

Radio Burger

Rua Ministro Calógeras, 543, Centro

(47) 3026-1230

Kib’s Cozinha Árabe (opção de rodízio vegetariano)

Rua Visconde de Taunay, 874, Atiradores

(47) 3422-8667

Feira do “Mueller pra Mesa”

Rua Senador Felipe Schmidt, esquina rua Pedro Lobo (Piso Térreo do Shopping Mueller), Centro

(47) 3903-3000

::Lages

Empório Natural – Produtos Naturais

Rua João de Castro, 336, sala 03, Centro

(49) 3223-8370

Restaurante Vegetariano Verde e Vida

Rua Emiliano Ramos Branco, 281, Centro

(49) 3222-3948

Saiba mais

Produto orgânico: É todo aquele que está livre de agrotóxicos, hormônios, drogas veterinárias, adubos químicos, antibióticos ou transgênicos. Se o cultivo respeitar aspectos ambientais, sociais, culturais e econômicos e for sustentável é um produto ecológico.

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Vegetariano: Se alimenta basicamente de grãos, sementes, vegetais, cereais e frutas, com ou sem leite e ovos. Não consomem todas as carnes animais, incluindo peixe.

Vegano: Não consome todos os produtos de origem animal não só na alimentação, mas também da roupa, produtos de higiene e detergentes. Isso inclui laticínios e ovos.