Acusado de imprimir uma guinada autoritária e de tentar “islamizar” a sociedade turca, o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan enfrenta um movimento de amplitude e contestação inédito desde a chegada do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, de origem islâmica) ao poder, em 2002.

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A violência com que a polícia reprimiu protestos contra um projeto urbanístico em Istambul desencadeou uma reação muito maior, no qual duas pessoas morreram e 2,3 mil teriam ficado feridas e desde sexta-feira.

Na noite de segunda-feira, milhares de manifestantes ocuparam a Praça Taksim, em Istambul, e a praça Kizalay, em Ancara, capital do país. Policiais usaram contra a multidão bombas de gás lacrimogêneo e jatos d’água, enquanto manifestantes respondiam com pedras. A União de Médicos Turcos anunciou a morte de um jovem no domingo à noite em Istambul, atropelado por um carro que avançou sobre a aglomeração. A Bolsa de Istambul caiu 10,47% no fechamento da sessão, ontem, como consequência do clima de incerteza.

Erdogan negou qualquer inclinação autoritária e rejeitou a ideia de uma “Primavera Turca”, afirmando ontem, durante uma visita ao Marrocos, que a situação está voltando à normalidade. Segundo ele, os que chamam as manifestações no país de Primavera Turca “não conhecem a Turquia”.

Antes de afirmar, em uma coletiva de imprensa no Marrocos, que a situação no país está “voltando à calma”, Erdogan declarou:

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– Sim, estamos agora na primavera, mas não deixaremos que se torne um inverno.

Erdogan atribui a ampliação dos protestos a “elementos extremistas” e ao principal partido de oposição , o Partido Republicano Popular (laico).

Nas ruas e na internet, ativistas propagam o caráter espontâneo do movimento. Em um comunicado nas redes sociais, a campanha OccupyGezi for the World se apresenta como promovida por pessoas de diferentes correntes ideológicas, de distintas religiões e origens econômicas. Nas redes sociais, ativistas pedem regularmente que os manifestantes não provoquem a polícia e não depredem bens públicos.

De acordo com o partido de Erdogan, o governo deverá investigar abusos no uso da força por parte dos policiais. Abdullah Gul, presidente da Turquia, disse que protestos pacíficos são parte da democracia e pediu à população que mantenha a ordem.

Uma das mais importantes confederações sindicais turcas convocou uma greve a partir de hoje para denunciar o recurso ao “terror” por parte do Estado contra os manifestantes que desafiam o governo.

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