O Creamfields faz o que pode para se moldar aos padrões de diversão dos catarinenses. O maior festival de música eletrônica do verão europeu precisa se despir do despojamento característico das suas edições em campos abertos nos confins da área rural de Liverpool para se trajar de bacana. Quem te viu, quem te vê, diriam seus pares gringos.

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Uma vez em Jurerê, aja pela ocasião, mesmo que seja preciso improvisar uma grama sintética no lugar da mata rasteira e da lama. O Creamfields em Floripa não veste galochas mas sobe o salto para virar um clubão. E não perde a sua linha de radar do universo da música eletrônica e mais uma vez ofertou para o público (de aproximadamente 10 mil pessoas) uma seleção fina de DJs e uma espetacular sequência de 12 horas de diversão sensorial em dois palcos e uma pista alternativa armados no Stage Music Park.

Confira a galeria de fotos com as principais atrações do festival.

As placas dos carros estacionados no complexo sinalizavam para a hegemonia dos catarinenses e sendo assim coube aos conterrâneos do projeto Old Is School promover o primeiro surto elétrico, com uma sessão ao cair da noite de irreverentes remixes de clássicos da house music e hits dos anos de 1980, de Cyndi Louper a New Order. E entregou a chapa quente para a discoteca animada do Life Is a Loop, trio de DJs também com raízes no Estado que impôs um live intenso e interativo. Um “medidor de grito” estimulava o público a responder a plenos pulmões, mas bastou apenas a sequência de remixes ao pop, que não polparam sequer alguns cânones do rock, como Rolling Stones, Talking Heads, e Nirvana, ou os incompreedidos franceses do Justice e o queridinho dos indies Gotye.

Quem se deu bem foi o suíço Luciano, que ascendeu à pista principal no momento de ebulição do público, com o complexo já tomado. Nome da nova safra dos bambas de Ibiza, Luciano apresentou o que se convenciou rotular de “underground chic”. Dos tantos anacronismos que se viria em uma noite.

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O Creamfields reuniu 16 DJs de pistas diversas do Planeta, signatários de estilos distintos (house clássico, deep house, electro, progressive e techno), mas era latente que muitos estavam ali para ver o medalhão da noite, o holandês Afrojack. Prodígio da dutch house, escola que formou Tiesto e Armin van Buuren, Afrojack tem o pop na veia e foi, indiscutivelmente, a atração de maior empatia com o público. A sua performance já na metade da madrugada de domingo fez o festival entrar em um novo upgrade,puxado por seus remixes radiofônicos e um pulsante frenesi vindo das pistas e dos camarotes.

Mas o estímulo frenético não foi exclusividade das picapes e nem dos suntuosos efeitos visuais, pirotécnicos e dos ofuscantes telões_ muito bem servidos pelas projeções do VJ catarinense Bruno Bez. Cada um encanta com os recursos que tem, mas no caso das nossas baladeiras, a natureza lhes foi generosa. O jardim estava florido de rostinhos lindos e inebriantes. A disposição da multidão é admirável, porém, o Ministério da Saúde deveria prestar um pouco mais atenção quanto a um possível surto de fotossensibilidade recorrente entre os frequentadores desta cena. Afinal, o que explica a profusão de óculos escuros na penumbra da noite?

A manhã começava para o domingo, e encerrava mais um capítulo do Creamfields no Brasil, que, aliás, a essas alturas já pensa em 2014, ou melhor, ainda neste ano, quando expandirá sua franquia para outros territórios do país, como São Paulo.

Veja a galeria de fotos de pessoas que curtiram o Creamfields na Capital.