Apresentado na manhã de ontem na Câmara de Vereadores de Xanxerê, o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) relativo às doações após o tornado de 20 de abril de 2015 na cidade concluiu que houve donativos não-comprovados no período e que parte dos recursos ainda não foi destinada aos atingidos dois anos após o evento. O presidente do Legislativo municipal, Vilson Picolli, e o relator João Paulo Menegatti fizeram a apresentação do documento.
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A CPI apurou que restam R$ 34.535,45 na conta bancária de um total de R$ 657.747,66 doados em dinheiro que ainda não foram destinados às vítimas. Uma motocicleta Honda cedida por uma concessionária ainda consta como patrimônio da prefeitura. O veículo seria leiloado e o resultado revertido para as vítimas.
Há ainda doações que estão no depósito municipal, como 76 edredons, 99 mantas, 24 jogos de lençóis, 12 fogões a gás e 43 pias. O relatório também constatou que houve grande volume de material de construção entregue à prefeitura, porém falta documentação de registro de entrada e saída de itens. Telhas, cerâmica e portas aparecem no levantamento.
— Esse material não tem no estoque da prefeitura e não há comprovação da doação. Alguma coisa aconteceu. Pode ter ocorrido desvio de finalidade, por isso pedimos que as pessoas que autorizaram as doações indevidas sejam responsabilizadas – afirmou Menegatti.
O vereador citou o sumiço de uma pasta com as notas fiscais das doações entre as imprecisões encontradas pela investigação. De acordo com a CPI, a análise ficou prejudicada porque os registros, que estavam em uma pasta amarela, teriam sido furtados.
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O presidente da CPI, Vilson Picolli, destacou que das 360 famílias que receberam material de construção, em 29 casos houve relevante irregularidade.
— Há discrepância de informações, como uma casa que tinha 80 metros quadrados e recebeu 150 metros quadrados de piso. Além disso, 11 doações não tinham assinatura do beneficiado — declarou Piccolli.
O presidente da CPI destacou ainda que cerca de 30% das 2.188 casas atingidas não receberam nada da prefeitura. No relatório consta o seguinte:
“Diante de todo o quadro ora exposto, conclui-se que a gestão dos recursos e bens recebidos no contexto do Tornado não observaram o princípio da eficiência, na medida em que, ademais de não ter havido transparência na destinação, a prefeitura, mesmo depois de 2 anos do evento, ainda possui materiais sem que tenha havido a destinação aos atingidos, sendo que muitos destes, a grande maioria, não recebeu nenhum tipo de ajuda da prefeitura, ao passo que alguns receberam quantias exorbitantes e outros beneficiários sequer residiam na rota do tornado.
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Desta forma, não resta dúvida de que os princípios gerais da Administração Pública previstos no art. 37, caput, da Constituição Federal foram afrontados, sobretudo os princípios da moralidade, legalidade e eficiência.”
O relatório será lido na próxima sessão do Legislativo, em 2 de outubro, e encaminhado para o Ministério Público, Tribunal de Contas e Secretaria da Fazenda. No final do relatório é solicitada a punição dos agentes públicos responsáveis pelas ilegalidades, o ressarcimento aos cofres públicos e indenização dos atingidos pelo tornado.
CONTRAPONTO
A administração municipal de Xanxerê informou via assessoria de imprensa que não vai se manifestar no momento pois os fatos são relativos à administração passada.
O ex-prefeito e secretário-executivo da Agência de Desenvolvimento Regional de Xanxerê, Ademir Gasparini, que apesar de não ter sido citado no relatório era o gestor na época, disse que está chateado, mas tranquilo.
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— Isso é uma CPI política para buscar um culpado de uma coisa que não existe. A nossa reconstrução foi um modelo que gerou convite até para participar de um seminário internacional sobre tornados em novembro, em Havana, pela rapidez que reconstruímos a cidade. O Ministério Público acompanhou as doações. Claro que sempre tem o malando que se aproveita de uma situação. Teve aproveitadores. Nós até instauramos procedimento para investigar quatro ou cinco casos, e as pessoas estão respondendo por isso. Quando acontece algo desta natureza não existe estrutura de controle para registrar detalhe por detalhe. Não tenho conhecimento do sumiço da pasta. O que estão querendo fazer é sensacionalismo político — concluiu Gasparini.