A Covid-19 ficou de fora da edição deste ano do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O segundo e último dia de provas ocorreu neste domingo (28) e contou com questões de matemática e ciências da natureza, que envolveram alguns temas da atualidade, como energia e meio ambiente. 

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A ausência de perguntas sobre a pandemia era esperada em alguns cursinhos devido à necessidade de as questões da prova serem elaboradas com antecedência para serem pré-testadas e à falta de atualização do banco de itens que compõem a avaliação. Gabryel Real, gerente de processos avaliativos do SAS Educação, acrescenta outro motivo para a doença estar fora da prova: as descobertas são muito recentes, e o conhecimento sobre o vírus está em rápida e constante atualização.

Já Guilherme Francisco, professor de um curso pré-vestibular, considerou surpreendente a ausência da pandemia no exame. Em sua avaliação, o perfil das questões de biologia mudou muito, com menos perguntas que antes sobre ecologia e muitas sobre botânica, tema pouco presente em edições anteriores. Para ele, a prova na área foi de nível médio para difícil.

A escassez de questões para compor o banco de itens do Enem é uma das principais fragilidades do exame. Para entrar na avaliação, cada pergunta elaborada tem que ser pré-testada com grupos menores de estudantes para que se possa aferir se ela é adequada para discriminar candidatos com melhor e pior desempenho. 

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O processo leva tempo e demanda recursos, e não há produção de novas questões desde 2019, o que explica a ausência da pandemia entre os enunciados.

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Prova valorizou a interpretação de texto 

Se a fragilidade do chamado banco de itens barra ameaças de interferência do governo Bolsonaro no conteúdo da prova, é também apontada por servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) como uma ameaça para a realização do exame em 2022. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, nega que exista esse risco.

Divergências à parte, Real, do SAS Educação, avalia que as provas de forma geral refletiram a característica do Enem de priorizar habilidades em detrimento de conteúdo.
Dessa forma, foram valorizadas também neste segundo dia do exame interpretação de texto, assim como de gráficos e tabelas.

As questões tinham como objeto temas como dengue, extinção de espécies no Pantanal, carros elétricos e biocombustíveis.

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Questão sobre Copa do Brasil não tem resposta, dizem professores

Professores de colégios e cursinhos viram problemas em duas questões de matemática.
Para Marcelo da Silva Melo, que atua em curso pré-vestibular, a que usava uma tabela da Copa do Brasil no enunciado não tem resposta, e outra sobre aplicativos de serviços de hospedagem pode gerar confusão entre duas alternativas.

De forma geral, o professor Marco Antonio Capri, considerou a prova de matemática parecida com a de anos anteriores. 

— O aluno que já tinha treinado com edições anteriores não encontrou surpresa — diz.

Candidatos fazem as provas de matemática e ciências da natureza neste domingo
Candidatos fazem as provas de matemática e ciências da natureza neste domingo – (Foto: Tiago Ghizoni)
As provas serão aplicadas tanto para os candidatos inscritos na versão impressa quanto na versão digital do exame
As provas serão aplicadas tanto para os candidatos inscritos na versão impressa quanto na versão digital do exame – (Foto: Tiago Ghizoni)
Assim como na prova do último domingo (21), é obrigatório o uso de máscara de proteção facial
Assim como na prova do último domingo (21), é obrigatório o uso de máscara de proteção facial – (Foto: Tiago Ghizoni)
No primeiro dia de Enem, os participantes fizeram as provas de linguagens, ciências humanas e redação. Ao todo, 74% dos 3,1 milhões de inscritos compareceram ao exame
No primeiro dia de Enem, os participantes fizeram as provas de linguagens, ciências humanas e redação. Ao todo, 74% dos 3,1 milhões de inscritos compareceram ao exame – (Foto: Tiago Ghizoni)

Edição foi marcada por polêmicas 

A edição 2021 do Enem, terceira sob o governo Bolsonaro, foi marcada por uma série de percalços e controvérsias. Após meses de escolas fechadas, e com novas regras de dispensa da taxa de inscrição, o número de inscritos na prova despencou.

Às vésperas da aplicação, dezenas de servidores do Inep pediram demissão de seus cargos de confiança, descontentes com a gestão do presidente da autarquia, Danilo Dupas, a quem acusam de assédio moral e de fragilidade técnica e administrativa.
Soma-se à debandada a ameaça constante de Bolsonaro de interferência ideológica nas questões.

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Como revelou à Folha, ele chegou a pedir ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, que o golpe militar de 1964 fosse chamado de revolução na prova. O pedido não foi atendido, mas o tema sumiu do exame desde o início do mandato do presidente.

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