Pacientes de Blumenau diagnosticados com o novo coronavírus e que têm sintomas leves da doença estão sendo convidados a participar do estudo sobre a hidroxicloroquina. O objetivo é verificar a eficiência da medicação contra a Covid-19. Desde a semana passada, quando essa etapa da pesquisa chegou à cidade, três voluntários já foram selecionados para fazer parte do projeto, que contemplará 1.300 brasileiros.

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As últimas notícias que correm pelo mundo – e associam a hidroxicloroquina ao aumento de risco de morte e arritmia cardíaca – não alteraram o cronograma da pesquisa. Conforme explica o coordenador desse trabalho em Blumenau, o médico Adrian Morales Kormann, a decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de suspender um ensaio clínico com hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19 ao constatar os perigos do tratamento não respinga no Brasil.

Isso por dois motivos principais: são estudos com metodologias diferentes e o brasileiro continua sendo aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além de ter o apoio do Ministério da Saúde e do laboratório EMS, que doa os medicamentos.

— A gente vê com otimismo. Tenho contato com outros pesquisadores do Brasil e eles estão fazendo avaliações constantes de segurança, não há motivos para interromper o estudo — conta Kormann.

Até o momento, 16 pacientes do Hospital Santo Antônio receberam o tratamento. Os 13 primeiros estiveram internados e faziam ou não uso de ventilação artificial. Todos já receberam alta e estão bem, sem nenhuma sequela, garante Kormann. Os outros três estão fazendo o acompanhamento em casa (os remédios são administrados durante seis dias). A fase com os internados já terminou, pois a meta de 1.100 contemplados foi atingida. Os primeiros resultados devem ser divulgados no próximo mês.

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A etapa com os pacientes com sintomas leves deve acabar assim que os pesquisadores atingirem 1.300 pessoas, algo sem data para acontecer, mas que não deve demorar, prevê o médico. No total, Blumenau deve contribuir com 25 a 30 voluntários em um estudo que se divide em cinco "braços".

Relembre: Estudo sobre cloroquina será ampliado a pacientes de Blumenau que se tratam em casa

Como funciona o estudo com a cloroquina

Os estudos começaram em São Paulo no dia 27 de março, quando a Anvisa aprovou protocolos autorizando o início dos testes em pacientes com o novo coronavírus. Desde então, 80 hospitais foram inseridos ao Estudo Coalizão Covid-19 Brasil. Em Blumenau, essa inclusão ocorreu através da AngioCor Cardiologia.

As fases variam dependendo do estado do paciente, mas o procedimento é semelhante: as pessoas que se enquadram nos grupos da pequisa são convidadas a se tornarem voluntárias após uma análise criteriosa dos médicos. Se concordarem (ou se a família autorizar, nos casos de pacientes entubados), recebem as doses do medicamento ou de placebos.

Nem os médicos sabem quais são os remédios, já que um computador faz o sorteio e indica, através de códigos, qual tratamento deve ser aplicado. Kormann revela que as drogas chegam em caixas enumeradas para não serem identificadas por ninguém. A revelação do que cada um ingeriu virá com os resultados da pesquisa.

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Não só a hidroxicloroquina está sendo testada. O estudo avalia a azitromicina, muito utilizada no tratamento de infecções respiratórias, o corticoide dexametasona nos casos mais severos e um anticoagulante. Pode ocorrer a associação da hidroxicloroquina aos outros medicamentos, principalmente a azitromicina. São cinco grupos de pacientes que receberão as doses, desde os casos mais leves até os mais graves.

Medo da cloroquina

Com diversos pesquisadores enfatizando a falta de comprovação da eficácia da hidroxicloroquina no combate ao coronavírus, a desconfiança chega a pessoas do mundo inteiro, incluindo Blumenau:

— A gente percebe que tem paciente que manifesta medo, mas é exceção, a maioria não vê problema e contribui para a pesquisa — conta Kormann.

Para ele, a "politização do medicamento" nunca deveria ter ocorrido. São os médicos que devem dizer se é preciso suspender o uso ou não, a depender das análises que surgem nas instituições de saúde.

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