Cheia de emoções e reviravoltas, a corrida presidencial de 2014 já estaria na história da política brasileira de qualquer forma, mas apresentou desta vez um ingrediente a mais. Pela primeira vez, a campanha nas redes sociais ganhou potencial para influenciar a escolha da pessoa que vai comandar o Brasil pelos próximos quatro anos.

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Nesse contexto, cada usuário do Facebook, do Twitter, do Youtube, do Whatsapp e até mesmo de redes mais curiosas do populares, como o polêmico Secret, tornou-se um militante potencial. Nessa nova arena, as regras ainda estão sendo descobertas – se é que existem.

– Até a eleição passada, a internet foi muito usada para destruir. Como construção, não. Este ano mudou um pouco – afirma Maurício Cavalcante, especialista em marketing eleitoral, que trabalhou na campanha de Paulo Bauer (PSDB) ao governo catarinense.

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As principais campanhas perceberam a força dessa nova forma de fazer campanha e prepararam-se para ela. Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) têm equipes e produtos específicos para gerar conteúdos a serem compartilhados por redes de militantes e simpatizantes.

Em tantos confrontos, curtidas e retweets, surge uma pergunta: o clima nas redes sociais virou uma guerra? Professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo (USP), Renato Janine Ribeiro avalia que o esperado debate político nas redes sociais virou apenas baixaria.

– O debate supõe as pessoas mantendo certa compostura e tentando convencer o outro. Isso acontece muito pouco. O que estou acompanhando é gente que já está convicta de uma posição e condena severamente quem não é dessa posição. É algo que além de ser, no meu entender, desrespeitoso, é totalmente inútil do ponto de vista de conseguir votos – afirma o professor, que compara o comportamento dos militantes digitais aos das torcidas organizadas de clubes de futebol.

Os efeitos foram sentidos pelo Ribeiro, em sua página no Facebook. Ele admite que já precisou apagar postagens por não conseguir conter o clima beligerante. Eleitor declarado de Dilma, ele chegou a escrever e publicar textos apontando qualidades nas candidaturas de Aécio, Marina Silva (PSB), Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV), além da própria petista. Era uma forma de tentar qualificar o debate.

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– Nos cinco candidatos que eu falei existem méritos ou, pelo menos, eles respondem a demandas. Nenhum deles saiu do vazio, existem demandas. Não adianta desqualificar, tem que entender porquê. Porque o ideal é que a pessoa que ganhar não governe só com quem votou nele. O ideal é que tenha abertura para tornar a nossa política mais abrangente – afirma Ribeiro.

Para o professor, não são apenas as redes sociais que apresentam um clima de, nas palavras dele, “um país fraturado”. Essa será a herança para quem for eleito no próximo domingo.

– Creio que vamos ter uma situação muito clara, que mantém uma fratura, com o clima de “vencemos, vencemos”. Vai ser uma coisa que vai continuar conflitiva, vai ter gente dividida em briga, em tudo. Sou meio pessimista.