Emagrecer, buscar uma vida saudável, competir ou apenas cultivar o bem-estar são alguns motivos para apressar o passo em Joinville. As ruas têm sido ocupadas não somente por caminhantes. Cada vez mais corredores usam as calçadas. Mais do que um relevo plano, a cidade ideal para quem corre deve ter bons percursos, feitos de um piso regular e de segurança. O que justifica a escolha das calçadas do 62º Batalhão de Infantaria, um dos lugares preferidos pelos corredores da cidade.
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A aposentadoria de Odete Justina da Silva iniciou há três anos, quando na rotina dela se intensificou o hábito de correr pela cidade. A aposentada trabalhava na gerência de uma empresa de recursos humanos. Odete é apaixonada pela corrida, que “faz bem pra alma e para o coração”. Ela também se dedica ao exercício pela saúde, pois sabe que tem “tendência à obesidade”, assim como seus familiares.
– Acho que as pessoas estão individualistas acabam ficando sedentárias. Correr significa deixar o sedentarismo e o individualismo para trás – acredita Odete.
Assim como ela, o surfista e proprietário de uma surf shop Christian Fröhlich corria nas calçadas do 62º BI, após uma madrugada de chuva. Sob o sol que ganhava espaço entre nuvens e sem poder ver o mar, o surfista corre e também pratica pilates. A vantagem da corrida.
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– Mais fácil e menos enclausurada – garante ele.
Christian treina há nove anos. Diferentemente da engenheira química recém-formada Priscila Ferreira, que começou a apressar o passo há dois meses. São pessoas como Priscila que engrossam o pelotão dos corredores de Joinville. O objetivo dela é melhorar o condicionamento físico.
– A cidade não precisa ser plana. O problema é a situação das calçadas – analisa a engenheira, que tropeçou em uma raiz logo no primeiro mês de corrida.
A segurança também é um diferencial para os corredores que escolheram as calçadas do Batalhão. Priscila chega a correr sozinha, depois das 21 horas, sem medo algum. As pistas de atletismo e a companhia de um instrutor também são opções. Os personagens desta reportagem contribuem para compreender o perfil do joinvilense corredor e porque a cidade adotou esta prática.
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Gêmeas unidas até no esporte
A semelhança da irmãs gêmeas Joecir Amaral e Jocenir Rodrigues, 35 anos, donas de salão de beleza em Joinville, deu espaço a 22 kg de diferença. Há um ano as duas resolveram se transformar. Mudaram a alimentação, fizeram matrícula na academia e começaram a correr.
Por um golpe da vida, Joecir, mais conhecida como Jo, caiu da escada faltando quatro degraus para completar a descida. Quebrou o pé direito. Passou cinco meses engessada. Foi aí que na corrida pela saúde, Joce – apelido de Jocenir – disparou. Hoje, a irmã que nasceu depois está na frente.
Assim como as vitórias das competições de atletismo são consagradas por décimos de segundo, Jo é ligeiramente mais velha que Joce. A mais nova pesava 100 kg antes dos exercícios, enquanto a irmã tinha 106 kg. As duas não passam de 1,65 m de altura.
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– Estando acima do peso piorava a asma e a bronquite. Resolvemos fechar a boca e correr – conta Joce.
Jo confessa que não se enxergava correndo. Mas em poucos meses já estava querendo competir. Ela participou pela primeira vez de uma prova no início de setembro. Mesmo que pudesse sair na frente, Joce fez questão de ficar ao lado da irmã.
– Eu me encontrei na corrida e na musculação. Zumba não. Não tenho coordenação. Meu negócio é linha reta – brinca Joce.
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Em setembro, as duas competiram juntas pela segunda vez, lado a lado. O objetivo delas não foi o de ganhar, mas o de concluir o percurso de 5 quilômetros. Querer testar limites e se inscrever em competições é uma consequência do exercício. As cabeleireiras não se contentam apenas com as duas aulas semanais de corrida à noite.
– Mesmo emagreçendo, vou continuar – diz Jo, que está com 94 kg.
– Quero correr para o resto da vida – disse Joce, determinada e orgulhosa pelos seus atuais 72 kg.
A pergunta que dá início as palestras
– Você quer viver ou morrer?
Essa pergunta fez Osmar Santos despertar. Com 140 kg sustentados por uma estrutura de 1,67 m de altura, no auge dos 55 anos, ele tinha obesidade mórbida. Andava com auxílio de uma bengala. Nessa época, um princípio de infarto o levou ao médico que fez a pergunta que ele jamais esquecerá.
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Santos trocou de bengala. Começou a se apoiar no livro A Semente da Vitória, escrito pelo preparador físico de Ayrton Senna, Nuno Cobra. Onze anos depois, a semente plantada cresceu. Osmar virou escritor e palestrante depois de escrever O Fruto da Semente da Vitória, que está na 4ª edição.
Foi o princípio de infarto que impediu o palestrante de fazer a cirurgia bariátrica, de redução do estômago. Ele já estava na fila aguardando uma data na hora em que coração começou a falhar. Uma passada atrás da outra, em trote lento, assim Santos participou da primeira competição, a Corrida Rústica de Araquari, em 2004. Desde então, ele já conquistou 180 medalhas de participação e 60 troféus em corridas de 5 a 21 km. Para quem deseja ter o mesmo desempenho de emagrecimento do palestrante, ele mesmo aconselha:
– Em primeiro lugar tem que querer mudar os hábitos e jamais prejudicar o corpo com inibidores de apetite, que causam problemas sérios depois.
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Como explicar a obesidade de um homem que aos 22 anos tinha uma saúde invejável? Morava no campo, tudo o que comia era integral e dormia cedo. Mas quando se afastou da vida saudável e foi morar na cidade, a balança disparou.
Foi assim que o palestrante ficou “estragado”. O primeiro emprego de Osmar em São Paulo foi de gari. Mas foi vendendo mapas que viajou o Sul e conheceu Joinville. Teve a certeza de que um dia moraria aqui.
Maratonistas de Joinville
Para quem burlava as corridas durante os treinos de vôlei, se tornar um maratonista não foi ironia nem surpresa. Foi, para Juliano Pereira, a descoberta de um ramo novo de trabalho. Ele jogou vôlei por dez anos e se tornou preparador físico em 2007, quando começou a acompanhar corredores nas primeiras passadas. No início, ele e um amigo passaram duas semanas aguardando alunos se interessarem. Quando foram abertas vagas à noite, o movimento aumentou. Hoje, Juliano tem mais de 80 alunos.
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Aluna e também esposa de Juliano, Ana Falavena é bancária, mas pretende se aposentar. Assim, poderá se dedicar mais à corrida. Ela já pratica o esporte há sete anos. Começou aos 42. Ter assessoria, de acordo com Ana, ajuda a dosar a atividade física. Mesmo que você seja o último a chegar ou o mais lento, “o seu tempo é o seu tempo”. Mas, ao mesmo tempo em que muitos aderem às corridas, outros tantos a deixam.
Alguns se empolgam e iniciam nas rotinas de competições, começando pelas de 5 km. Trocam atividades sociais, conforme explicou a bancária, pelos treinos, então, começam as críticas dos amigos.
A turma que encara maratonas em Joinville já passou dos 40 anos, e, se não tem uma década de experiência no esporte, está prestes a completar. Gabriela Vignoli, Claudine Prazeres, Singler Ribeiro do Nascimento e Juliana Monteiro participaram da meia-maratona de Chicago no dia 12 de outubro, assim como Ana e Juliano. Eles já treinam um percurso que chega a 60 km por semana e vai até a Estrada da Ilha.
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Quem tem hérnia de disco, artrose e outros problemas de saúde, também pode arriscar as passadas rápidas, com orientação médica, mas Juliano garante que a corrida é possível para todo mundo.
DICAS
– Você pode correr em qualquer lugar. Acesse o Wikiloc (http://pt.wikiloc.com/wikiloc/home.do) para traçar rotas em qualquer lugar do mundo.
– Para o calendário de corridas, acesse o CorridasSC (http://www.corridassc.com.br/Calendario.asp)
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PARA COMEÇAR A CORRER
1 No início, use o que você tem em casa (tênis e roupas confortáveis).
2 Procure um treinador.
3 Faça o teste da pisada para comprar o tênis certo.
4 Use a tecnologia a seu favor – relógios e equipamentos com GPS ajudam no treino.
5 Participe de provas para se motivar, o rendimento é muito melhor nas competições.
OS QUATRO PILARES DA SAÚDE
1 Hidratar o corpo, dois litros de água por dia.
2 Alimentação balanceada até às 18 horas.
3 Atividade física regular, alongamento já na hora de acordar.
4 Dormir ao primeiro sinal de sono, oito horas por dia.