No segundo dia da trégua humanitária na cidade síria de Aleppo, nenhum ferido foi retirado da área controlada pelos rebeldes nesta sexta-feira e ninguém passou pelos corredores instalados para a saída de civis e rebeldes.
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Acusados pelos países ocidentais de “crimes de guerra” em Aleppo, o regime do presidente Bashar al-Assad e sua aliada Rússia suspenderam desde terça-feira os bombardeios – que haviam começado em 22 de setembro – contra os bairros da zona leste da segunda maior cidade da Síria, que mataram centenas de civis.
Nesta sexta-feira, segundo dia da “trégua humanitária” decidida pelos russos, os oito corredores instalados para permitir que civis e rebeldes abandonem as áreas controladas pela oposição estavam desertos.
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, acusou na quinta-feira os rebeldes sírios de “violação do cessar-fogo” e de “impedir a saída da população”. Moscou também acusou os rebeldes de intimidação.
“Não houve movimentação nos corredores dos bairros da zona leste. Até o momento não observamos nenhum movimento de moradores ou de combatentes”, confirmou o diretor da ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.
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Inicialmente a pausa humanitária unilateral teria duração de 11 horas, mas o ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, anunciou na véspera que o prazo seria estendido por 24 horas, sem explicar com clareza quando terminará a trégua.
Aleppo, que já foi a capital econômica da Síria, virou o símbolo da guerra que devasta o país desde março de 2011 e que já provocou mais de 300.000 mortes.
Um correspondente da AFP posicionado no fim de um dos corredores no bairro de Bustan al-Qasr, do lado controlado pelo governo sírio, não observou qualquer movimento durante a manhã. Na quinta-feira apenas oito pessoas passaram pelo local.
Desde o início do cessar-fogo não acontecem bombardeios aéreos ou ataques da artilharia na zona leste de Aleppo, mas foram registrados confrontos esporádicos, alguns deles perto dos corredores humanitários.
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A ONU esperava iniciar nesta sexta-feira as transferências médicas, mas foi obrigada a adiar a medida por problemas de segurança, anunciou em Genebra o porta-voz do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) das Nações Unidas, Jens Laerke.
Nenhum comboio de ajuda da ONU entra em Aleppo desde 7 de julho. No fim de outubro a cidade deve ficar sem estoques de alimentos, advertiu o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.
A oposição síria critica a ONU por priorizar a ajuda para que as pessoas consigam abandonar a região, ao invés de fornecer auxílio para que possam ficar em suas casas.
Em um comunicado conjunto, a Coalizão Nacional Síria e o Exército Livre Sirio afirmam que a política da ONU é “defeituosa e, ao invés de prevenir deslocamentos forçados, entra no jogo do regime de Assad que deseja esvaziar Aleppo”. Os movimentos acusam ainda a organização de virar um “brinquedo nas mãos da Rússia”.
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A ONU respondeu com a acusação de que os rebeldes impedem os moradores a abandonar Aleppo. Moscou e Damasco fizeram um apelo aos civis para que deixem a cidade, com o objetivo de concentrar a ofensiva nos combatentes do grupo Jabhat Fateh al-Sham (ex-Frente Al-Nusra), o braço sírio da Al-Qaeda.
Os dois governos repetem que não pretendem encerrar a ofensiva antes que os extremistas abandonem a cidade.
* AFP