Santo Agostinho disse certa vez preferir os indivíduos que o criticavam àqueles que o elogiavam. Os primeiros, acrescentou, o ajudavam a corrigir os próprios erros – enquanto os outros, o corrompiam. Os políticos e governantes brasileiros teriam muito a ganhar se exercitassem um pouco mais a humildade e dessem ouvido aos críticos sérios.

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O caso da economia brasileira é exemplar. O desempenho do PIB é pífio. O controle da inflação, crítico. Os gastos públicos crescem de forma exponencial – e ainda assim sem que sejam realizados os investimentos necessários em setores fundamentais, como educação, saúde e infraestrutura. A carga tributária representa quase 40% das riquezas do país e compromete a competitividade das companhias nacionais. A indústria assiste à invasão do mercado por produtos made in China e sofre com os juros altos que inviabilizam novos investimentos.

Nesse cenário, a crítica deveria ser vista como um alerta – um alarme disparado para dar início à necessária correção de rumos. O mais grave quando temos que superar um obstáculo, afinal, é negarmos sua existência.

O Brasil viu há pouco verdadeira caça às bruxas empreendida contra funcionários de um banco privado que analisaram a situação do país em informe encaminhado a seus clientes. Não houve, no caso, a discussão do que estava escrito. Em vez disso, optou-se por silenciar os responsáveis pela mensagem desagradável.

O país está em período eleitoral e são comuns os arroubos dos políticos e de seus seguidores. Mas o provável acirramento das opiniões nos próximos meses não deve influenciar os profissionais que têm a atribuição de analisar a economia do país e o compromisso de informar adequadamente seus clientes. Em outros países, essa liberdade é total – e os informes dos analistas são vistos com atenção mesmo por aqueles que discordam do teor de suas análises.

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Por aqui ainda há muito a avançar. Dos políticos, não se espera que sejam santos. Mas eles poderiam sair ganhando se encarassem as críticas como contribuições e não como ofensas. Ainda que as medidas econômicas necessárias não fossem adotadas, ao menos teríamos uma sociedade mais democrática.