Não bastasse a dor do luto, uma família de Ascurra, no Médio Vale do Itajaí, encarou uma situação inesperada durante o velório da matriarca de 92 anos: os parentes perceberam que o corpo era de outra mulher. Enquanto velavam a pessoa errada, Elizia Wunsch foi enterrada em Presidente Getúlio, no Alto Vale. A Polícia Civil investiga o caso.
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O neto, Marcos Roberto Wunsch, conta que a morte aconteceu nesta segunda-feira (15), no Hospital Waldomiro Colautti, em Ibirama, no Alto Vale, devido às complicações de doenças que Elizia enfrentava pela idade. Por causa do plano funerário, uma empresa de Indaial ficou responsável por levar o corpo a Ascurra.
A família optou por respeitar a vontade de Elizia, que pediu para ser velada na casa em que viveu desde o nascimento e onde criou os quatro filhos. O corpo chegou por volta das 8h30min desta terça, já que velórios não são permitidos durante a noite por conta da pandemia. Parentes do Paraná e Rio Grande do Sul vieram para o último adeus e tudo ocorreu dentro do esperado, até que o caixão foi aberto. Marcos estranhou a aparência da avó e dividiu o que estava pensando com os demais.
— A gente percebeu que não era ela, mas uma parte da família dizia: “ah, é porque ela ficou internada muitos dias e emagreceu, mudou de cor, é a maquiagem…”. Até que uma prima minha chegou às 10h e falou: “Essa não é a minha avó. Cadê ela?” — relata o neto.
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A certeza só veio porque Elizia não possuía um dos seios, tomado por um câncer, enquanto a outra mulher não tinha sinais da cirurgia. Marcos então deixou o imóvel no bairro Ilse Grande e procurou a Polícia Civil, que abriu inquérito para entender a confusão feita entre hospital e funerárias.
— Eles enterraram minha avó em Presidente Getúlio, agora um policial vai acompanhar a retirada do cemitério e ela será velada de novo. É uma irresponsabilidade das duas partes. Nós vamos até o fim (judicialmente). Não é pelo dinheiro, é por justiça e respeito — desabafa, emocionado.
Durante a tarde, Marcos e outros envolvidos, como um funcionário da funerária, foram ouvidos na delegacia de Ascurra. Com a ajuda do Instituto Geral de Perícias, a polícia descobriu que o corpo era de Iolanda Marchi, 94 anos, moradora de Presidente Getúlio.
Inquérito instaurado
A Polícia Civil abriu inquérito para descobrir os responsáveis pela troca dos corpos. Conforme o delegado Ronnie Esteves, o procedimento foi aberto em Ascurra, mas a delegacia de Ibirama deve assumir o caso.
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Um funcionário da funerária teria dito em depoimento que a pulseira de identificação de Elizia estava correta e que uma funcionária do hospital teria o levado até o necrotério. Como havia apenas um corpo, ele o encaminhou a Ascurra.
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— Ao que tudo indica hospital e funerárias contribuíram para a troca. Foi uma falha administrativa que precisa ser apurada. Em um primeiro momento não há indícios de conduta criminosa. Foi um conjunto de erros — acredita o delegado.
Esteves acredita que o outro caixão estava fechado e por isso a família de Iolanda não reparou o erro.
O que dizem as funerárias
O Santa também entrou em contato com a funerária Hass de Indaial. Uma atendente disse que a empresa “não pode passar nenhuma informação no momento” e desligou em seguida. O responsável pela funerária Paz Celestial, de Presidente Getúlio, não estava na sede quando a reportagem ligou.
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O que diz o hospital
A diretoria do hospital disse que se manifestaria por nota enviada pela assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Saúde. O texto afirma que a funerária de Presidente Getúlio chegou primeiro e “equivocadamente, sem ter realizado a identificação” levou Elizia no lugar de Iolanda. Depois, a empresa de Indaial cometeu o segundo erro, encaminhando Iolanda a Ascurra.
“Nas dependências do hospital, quando da chegada dos familiares, prontamente foram atendidos e feitos esclarecimentos a ambas as famílias, sobre o terrível fato ocorrido, bem como feito um pedido formal de desculpas, haja vista não ter havido nenhuma intenção de todos os envolvidos no acontecido (hospital e funerárias)”.
O hospital garante que as câmeras de segurança comprovam que os corpos estavam devidamente identificados. A direção solicitou abertura de processo de sindicância administrativa para apurar os fatos internamente.