Pretória, a capital administrativa da África do Sul, deu início ontem a três dias de velório, com uma peculiaridade: o féretro com os restos do ex-presidente Nelson Mandela irá percorrer todas as manhãs e finais de tarde as ruas da cidade.

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Para o último adeus, os restos estão de Madiba sendo levados diariamente do Hospital Militar Thaba Tswane a um anfiteatro a céu aberto batizado na segunda-feira com o nome do líder morto na semana passada aos 95 anos.

Milhares de pessoas, a maioria negros, esperaram até cinco horas para se aproximar do local. Uma multidão não conseguiu entrar e protestava cantando canções típicas, pulando, dançando – mas sem tumulto, apesar dos gritos de guerra. Só se dispersou após a passagem do cortejo, no fim da tarde. Diversas camionetas de polícia e até meia dúzia de blindados do exército foram usados para despistar a população, para que não soubessem em qual carro estava Madiba. Hoje, o horário de visitas será ampliado.

A sede do governo está localizado no alto de uma colina, para onde ônibus gratuitos subiam até o topo. As filas serpenteavam os jardins impecáveis.

Pela manhã, em uma cerimônia reservada à família, autoridades e convidados, entre eles o cantor Bono Vox, deu início à despedida. Mandela jaz em um caixão branco, abrigado por uma estrutura acarpetada, com uma camisa colorida, como as que costumava usar em ocasiões especiais. Quem conseguiu entrar pôde passar ao lado, a passos constantes.

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Na saída, lenços de papel eram distribuídos. Uma senhora agarrou um deles e não tinha forças para falar.

Nomasonto Emmah Phakathi, 56 anos, levava um cartaz com o rosto do líder. É filiada ao Partido Comunista, aliado do Congresso Nacional Africano (CNA), o partido de Mandela.

– Madiba nos ensinou muito, muito mais do que o fim do racismo. Ele nos ensinou a perdoar, a ajudar as pessoas – conta a militante.

A pequena Mathapeolo Mabula, 10 anos, resume o que grande parte dos sul-africanos aponta como a maior contribuição de Mandela, ao lado do combate ao racismo: a educação.

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– Estamos na escola por causa dele. Ele lutou por nós – disse a menina.

Mandela proporcionou educação gratuita universal.

– Antes de 1994, as escolas públicas eram precárias, não tínhamos nem merenda. Agora, temos oportunidades – disse Dimakatso Babe, mãe de quatro filhos, três deles na universidade.

Ao fim da tarde, logo após o deslocamento do líder, o sol desapareceu e uma forte chuva caiu sobre a cidade.

No sábado, os restos do líder serão levados para a Província de Eastern Cape da Base Aérea Waterkloof, em Pretoria, onde o partido CNA fará uma cerimônia de despedida. A Guarda de Honra militar irá conduzir o caixão, coberto pela bandeira nacional. O corpo será enterrado no vilarejo de Qunu, nas terras da família.