A criança engasga com o alimento. O adolescente se afoga no banho de rio. O passageiro fica presos às ferragens no acidente. As chamas tomam conta da casa. Para quem você pede ajuda nessas situações? A resposta que vem à cabeça para a maioria dos blumenauenses é Corpo de Bombeiros.

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Quando a vida está em perigo, é quase automático discar 193. A garantia de socorro ao alcance de uma ligação naqueles que podem ser os momentos mais difíceis da vida de uma pessoa fortalece a relação da instituição com a comunidade.

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Para o comandante do terceiro batalhão, Luciano Mombelli da Luz, esse é um dos motivos para a corporação ser considerada a mais confiável pelos blumenauenses. A percepção é fruto da pesquisa Focus, da Universidade Regional de Blumenau (Furb).

Entre maio e junho deste ano, alunos de quatro cursos entrevistaram 400 moradores da cidade. Eles perguntaram “o quanto você confia em cada uma dessas instituições brasileiras?”. Ao todo, foram avaliadas 20 instituições.

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Em uma escala de 0 (nenhuma confiança) a 100 (muita confiança), o Corpo de Bombeiros alcançou a maior marca: 92 pontos. O índice de confiança nos socorristas em Blumenau é, inclusive, maior do que o registrado no país, 82 pontos, conforme a Pesquisa Ibope de 2018.

— Temos uma tropa muito disciplinada e aguerrida em Blumenau. Então, se nossa avaliação é boa, o mérito é todo daquele bombeiro que está lá na ponta, 24 horas por dia prestando serviço à comunidade — defende Mombelli.

O sociólogo e coordenador do curso de Ciências Sociais da Furb, Maiko Spiess, acredita que a reputação do Corpo de Bombeiros reflete dois aspectos. O primeiro está atrelado ao perigo presente no trabalho da corporação. Isso porque em alguns casos a vida dos próprios socorristas é colocada em risco no momento do atendimento.

Outro fator é o histórico de Blumenau com desastres naturais, em que a atuação dos bombeiros é fundamental no auxílio à população e, consequentemente, reforça o sentimento de gratidão à corporação.

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Em tempo de crise na imagem das instituições, Spiess destaca o fato de o Corpo de Bombeiros Militar dificilmente estar envolvido em escândalos de desvio de conduta, comuns no Brasil nos últimos anos. Nesse contexto, a corporação desponta como exemplo de atuação institucional íntegra.

Para quem está na linha de frente no auxílio à comunidade, o reconhecimento serve de combustível para enfrentar o próximo plantão. Assim como há os dias de tranquilidade, existem também os desafiadores.

Não é só uma questão de preparo técnico e físico para casos em que o resgate leva horas. Dentro da farda estão pais, filhos, irmãos. Impossível não se sensibilizar com o que se vê nas ruas. Às vezes, a alegria do salvamento, em outras a tristeza de uma morte.

Na hora que as pessoas mais precisam, ali tem uma mão amiga que elas podem contar, a do bombeiro. Quantas vezes uma família envolvida na ocorrência vem e dá um abraço emocionado, agradecendo. Isso marca muito a vida de quem está na rua — conta o chefe de socorro Osmar Iakushi.

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Bombeiros atendem menino de três anos que caiu e cortou a cabeça na última quarta-feira, dia 3
Bombeiros atendem menino de três anos que caiu e cortou a cabeça na última quarta-feira, dia 3 (Foto: Patrick Rodrigues)

O desejo é sempre de melhorar

Quem precisa de atendimento dos bombeiros dificilmente fica sem resposta. Eles se revezam e montam equipes para cobrir as 24 horas do dia, de segunda-feira a domingo. Entretanto, isso não acaba com a necessidade urgente de aumentar o efetivo. O comandante do 3º Batalhão do Corpo de Bombeiros Militares reconhece isso:

— A composição ideal de um caminhão, por exemplo, é com cinco bombeiros, mas hoje não conseguimos manter. Temos um autotanque, que é um carro de reforço para incêndios de maior vulto, que às vezes lançamos mão de bombeiros do expediente para cobrir essa escala. Então, a parte que mais nos preocupa atualmente é o efetivo — diz Mombelli.

Enquanto a chegada de novos profissionais não ocorre por parte do governo do Estado, a corporação deposita a esperança em uma legislação que permite o pagamento do bombeiro comunitário. Quando isso ocorrer, cada quartel deve ganhar o reforço diário de duas pessoas, o que não deve solucionar, mas pelo menos ajuda a amenizar a situação.

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A questão do efetivo não é a única a ser superada. Segundo o comandante, é preciso alcançar 100% do efetivo capacitado para a atuação em ocorrências de deslizamento e para casos de colapso estrutural, problemas que se tornaram realidade de Blumenau após a tragédia de 2008.

Para a logística diária do batalhão, estamos 100%, mas para questões extraordinárias, precisamos melhorar — reconhece Mombelli.

Comandante diz que ainda há no que avançar
Comandante diz que ainda há no que avançar (Foto: Patrick Rodrigues)

Bombeiros já receberam mais de 31 mil chamadas

Dados do Corpo de Bombeiros de Blumenau apontam que 31.254 chamadas foram atendidas entre 1º de janeiro e 3 de julho deste ano. Dessas, 7.121 geraram ocorrências. Outras 11.740 eram de pedidos externos da comunidade, como o número de telefone das policias (Civil e Militar), Celesc e Guarda Municipal de Trânsito. Das ligações atendidas, 1.688 eram trotes e 1.750 chamadas não foram atendidas por chegarem e as linhas estarem ocupadas.

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O tenente Diego Medeiros Franz avalia os números em duas perspectivas. A primeira delas é que se os trotes não ocorressem, poucas ou quase nenhuma chamada deixaria de ser atendida. É que muitas vezes enquanto os bombeiros estão em linha com casos que não são reais, alguém que realmente precisa de atendimento e tenta contato, mas não consegue. Outra situação que chama a atenção é a quantidade de ligações sem relação com o serviço de emergência, por isso a necessidade de entender quando acionar o 193. Casos que os bombeiros atendem:

  • Incêndio
  • Acidente com trauma (acidente de trânsito, agressão, ferimento por armas, queda, queimadura)
  • Choque elétrico
  • Engasgamento
  • Pessoa inconsciente
  • Pessoa perdida na mata
  • Salvamento aquático
  • Desabamento e deslizamento
  • Enchente, inundação e enxurrada
  • Captura de animal agressivo/silvestre que oferece perigo iminente
  • Acidente com produtos perigosos
  • Vazamento de gás
  • Resgate em altura e espaço confinado
  • Casos de suicídio
Ocorrência na última quinta-feira, dia 4
Ocorrência na última quinta-feira, dia 4 (Foto: Patrick Rodrigues)

“É uma missão para uma vida inteira”

O telefone toca, a ocorrência é aberta, guarnições são deslocadas, bombeiros prestam atendimento. Tudo é tão sistemático que parece ocorrer de forma involuntária. A verdade, porém, é que existe uma figura dentro da corporação responsável por fazer toda a engrenagem funcionar com perfeição. A cada 24 horas, um chefe de socorro comanda as equipes de trabalho no 3º Batalhão do Corpo de Bombeiros de Blumenau.

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Airton Cesar Schmits, 51 anos, é um deles, e divide a missão com os colegas Rafael Pereira Martins e Osmar Iakusch. Segundo sargento, com 26 anos dedicados ao Corpo de Bombeiros, ele conversou com o Santa sobre a pessoa por baixo da farda e falou sobre como escolheu a profissão e os desafios do dia a dia na função.