Somente em 2014, a CBF gastou R$ 31 milhões com repasses às federações de futebol. Além do “auxílio” mensal, a entidade paga R$ 15 mil de salário a cada presidente.
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Para efeito de comparação, a federação alemã usou R$ 105 milhões nos últimos dez anos para a construção de mil minicampos de futebol que atendem 20 mil crianças, e mais 387 campos oficiais para 14 mil adolescentes. Nesse período, a CBF reformou três campos. Todos na Granja Comary, local de treinos da Seleção.
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A regra é distribuir o dinheiro entre as federações. Em oito delas, esta verba supera os 50% das receitas. No Amapá, por exemplo, 97% da arrecadação é bancada pela presidente Marco Polo Del Nero. A recordista é a Federação do Acre, que recebeu da CBF em 2014 a quantia de R$ 1,8 milhão.
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Veja documentos que mostram os valores dos repasses às federações:
Uma das entidades que mais recebe dinheiro é a Federação do Amazonas: no ano passado, entrou no cofre R$ 1,7 milhão.
– Aqui no Amazonas, só quem ganha dinheiro com futebol é a Federação Amazonense de Futebol. No borderô, já vêm descontadas todas as taxas e impostos. Só sobra o prejuízo. A gente faz futebol aqui para pagar. E, na Arena da Amazônia, teve jogos de Vasco e Flamengo com rendas altas, em que a Federação arrecadou uma parte do valor – declara o presidente do Manaus Esporte Clube, Luís Augusto Mitoso Júnior.
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– Os clubes não levam vantagem nenhuma com esse recurso. Este valor é para logística da federação. Eu sei que eles reformaram a sede ano passado. No meu clube não chega nenhum centavo – afirma o presidente do Sul América, de Manaus, Luiz Costa.
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Em vídeo, Rodrigo Oliveira e Eduardo Gabardo contam os bastidores da reportagem:
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Veja quanto recebe cada federação clicando nos ícones:
No Espírito Santo, o repasse foi de R$ 1,2 milhão, 40% da receita total da entidade, que arrecadou R$ 2,9 milhões em 2014. O presidente do Linhares Esporte Clube reclama que o valor não é repassado aos clubes
– É muito dinheiro e os clubes não veem a cor disso. Os campeonatos de base são uma vergonha, você paga muitas taxas e o campeonato tem só três meses. O futebol capixaba é uma vergonha – protesta.
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No Distrito Federal, o presidente do Legião Futebol Clube, Emanuel Teixeira, lembra que a federação recebe, além dos repasses da CBF, uma parcela da renda de cada jogo disputado.
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– Os clubes não tem benefício nem de 5% da renda dos jogos que são realizados do Brasileirão aqui em Brasília. Não recebemos benefício algum e além disso nós não sabemos para onde esse dinheiro vai – alerta.
A CBF confirma os repasses e os considera importantes para manter algumas das federações.
– Eu não vejo isso como absurdo. Algumas federações não conseguem nem sobreviver com essa quantia. Existem em nosso país algumas entidades que não tem estrutura, não tem prédio, funcionários e campos para a base – afirma o vice-presidente da entidade, Gustavo Feijó.
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Os repasses da CBF para as federações não são muito altos?
A nossa federação é pobre. Com o dinheiro que recebemos, mal dá pra fazer a federação funcionar. Não fosse a participação da CBF, nós teríamos muito problemas, já que a renda dos jogos aqui no Amazonas é muito baixa. Se não fosse a ajuda da CBF, eu não sei como seria.
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Como o senhor usa a verba repassada na CBF?
A minha despesa mensal na federação é de R$ 56 mil. No ano passado, arrecadamos R$ 22 mil no ano todo. Isso não paga nem metade do custo mensal da federação. 80% é para pagar o pessoal. E o resto é para despesas de manutenção da entidade.
Tem como manter a independência na hora da eleição para presidente da CBF? Os repasses altos não funcionam como uma pressão para votar em quem já está no poder?
Não é pressão. Nós somos um colegiado que sempre esteve coeso, para não depender das intromissões externas que ocorrem, já que o futebol tem um apelo muito forte. Estes repasses ocorrem há cerca de dez anos. Antes disso, não houve repasse nenhum. E sempre houve esta união entre as federações, pois sempre vimos a necessidade de estar unido em relação àquilo que a CBF propõe para o futebol brasileiro e àquilo que as Federações propõem para o futebol em seus estados.
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Evandro Carvalho, presidente da Federação Pernambucana de Futebol
Eu realizo as competições sub-13 e sub-15, que me custaram R$ 180 mil. Realizamos sub-17, sub-20, Libertadores feminina e o segundo maior campeonato feminino do Brasil. E eu recebo 50 mil reais por mês para realizar isso. Esse valor não atinge sequer 33% do nosso gasto. Para viabilizar essas competições, usamos os R$ 50 mil da CBF, recursos dos clubes e investimentos privados de patrocínios. O que eu me posiciono contra a CBF é que ela faz esses repasses de forma quantitativa e não qualitativa. Por exemplo, presumo que São Paulo, pela capacidade financeira que tem, não tem a menor necessidade de receber R$ 50 mil. Como acho também que há estados que não têm tanto investimento que demande a necessidade de receber esse valor. Já manifestei à Presidência da CBF que seria conveniente avaliar qual a necessidade de investimento em cada Estado que viabilizasse o desenvolvimento do futebol em cada região.
Os presidentes de federação ainda são convidados pela CBF para chefiar a delegação da Seleção Brasileira em jogos pelo mundo:
Gustavo Feijó (AL) – Copa das Confederações 2013 (seu filho Felipe assumiu a presidência em abril deste ano)
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Roberto Góes (AC) – Copa América 2004 / 2007
Francisco Cezário (MS) – Sul-Americano sub 20 (Paraguai)
Antônio Américo ( MA) – amistoso na África do Sul em 2014
Dissica Valério Tomáz (AM) – Mundial sub 20 na Nova Zelândia em 2015
Mauro Carmélio (CE) – amistosos da seleção sub 20 em Doha
Josafá Dantas (DF) – Brasil x Colômbia nos EUA em 2012
Marcus Vicente (ES) – Torneio de Toulon em 2013 (Gustavo Vieira assumiu em 2014)
Castellar Guimarães (MG) – amistoso contra a França em Paris em 2015
Antônio Carlos Nunes (PA) – Copa das Confederações na África do Sul em 2009
Rosilene Gomes (PB) – Mundial feminino da Alemanha em 2011 (Amadeu Rodrigues assumiu em 2014)
Evandro Carvalho (PE) – amistosos na Ásia em 2013
Heitor Costa (RO) – Torneio Internacional da China (seleção olímpica) em 2013
Leomar Quintanilha (TO) – Torneio de Valencia, na Espanha (seleção sub 20) em 2014
Delfim Peixoto (SC) – Olimpíada de Londres em 2012
Francisco Novelletto (RS) – amistoso Brasil x Honduras no Beira-Rio em 2015
Cesarino Oliveira ( PI) – amistosos na Turquia e Áustria em 2014
José Carivaldo de Souza (SE) – torneio sub 20 no Japão em 2006
Reinaldo Carneiro Bastos (SP) – amistoso entre Brasil x México em 2015
Ednaldo Rodrigues (BA) – amistoso da seleção em Londres em 2013
A reportagem faz parte de uma série especial da Rádio Gaúcha
Ouça a matéria especial:
*RÁDIO GAÚCHA