O uso de máscaras por pessoas sem sintomas de Covid-19 se tornou um novo ponto de discordância entre órgãos de saúde no Brasil e no mundo durante a pandemia. A recomendação era clara: somente pessoas com sintomas de síndromes gripais deveriam usar máscaras cirúrgicas para evitar a transmissão do coronavírus, e não quem estivesse saudável. No entanto, sinais conflitantes surgiram nos últimos dias, inclusive em Santa Catarina.
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O Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, falou em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (1º) que o brasileiro deve “lutar com o que tem” e defendeu o uso de máscaras caseiras, feitas de tecido, para quem precisar sair na rua. Mudando o tom de falas anteriores, Mandetta falou que a proteção “por barreira” pode ser eficiente para frear a disseminação do coronavírus. No entanto, o Ministério da Saúde aponta que as máscaras de tecido são uma opção para que os equipamentos profissionais (máscaras cirúrgicas e N95) sejam utilizados por quem mais precisa: médicos, enfermeiros e pacientes infectados.
Em nota de alerta publicada na terça-feira (31), a Diretoria de Vigilância Sanitária de Santa Catarina (DIVS), vinculada à Secretaria de Estado da Saúde, vai no sentido contrário e afirma que as máscaras de tecido não são recomendadas como proteção ao coronavírus. O texto cita que o uso de máscaras cirúrgicas é uma medida de prevenção, mas o uso sem indicação “pode gerar custos desnecessários e criar uma falsa sensação de segurança que pode levar a negligenciar outras medidas como a prática de higiene das mãos”.
A nota do Estado mantém a recomendação de que apenas pacientes com sintomas ou profissionais de saúde devem usar máscaras cirúrgicas, e que não há indicação para pessoas saudáveis.
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Contrariando a indicação da Vigilância Sanitária de Santa Catarina, a prefeitura de Florianópolis emitiu nesta quinta-feira (2) uma nota recomendando que toda a população – mesmo saudável – utilize máscaras de tecido nas ruas. A nota destaca que o equipamento caseiro, de tecido, é recomendado para que a população em geral não utilize as máscaras cirúrgicas ou N95, que devem ser priorizadas aos profissionais de saúde para que não haja escassez.
A prefeitura de Florianópolis aponta também que pacientes testados positivo para Covid-19, além do isolamento social, devem usar a máscara cirúrgica se tiverem contato com outras pessoas – e não a de tecido. Sobre a recomendação ser contrária ao que fala o Governo do Estado, a Secretaria de Saúde da Capital afirmou que “está se baseando em oito artigos científicos internacionais”, e que “os estudos comprovam que o utensílio de pano pode diminuir o risco de contágio, não vai eliminar, mas vai diminuir”.
Infectologistas questionam eficiência das máscaras de tecido
Para a médica infectologista Sabrina Sabino, as máscaras de tecido não funcionam na prevenção ao coronavírus. Ela cita que a maior chance de transmissão do vírus é pelas mãos, que podem inclusive contaminar a máscara na hora de manuseá-la:
– Os infectologistas somente recomendam o uso de máscara cirúrgica, não de tecido, para utilizar em pessoas sintomáticas e para quem é profissional da saúde, que vai chegar até um metro de distância de pessoas contaminadas. A máscara para funcionar tem que ser de um tecido específico, com camada interna, camada externa, substância filtrante, aí sim pode ser utilizada, mas mesmo assim não é indicada para a população em geral, porque isso causa mais desinformação, tem uma falsa sensação de segurança e acaba negligenciando outras medidas como lavar as mãos.
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A infectologista Regina Valim pontua que as máscaras de tecido podem diminuir a passagem de organismo para o ambiente, no entanto, não têm função de barreira completa:
– Na verdade essas máscaras tem o intuito de ser mais uma barreira de proteção contra a grande disseminação do vírus, associada a todas as outras medidas que a gente já vem recomendando. Ela não protege a pessoa de pegar o coronavírus, mas ela é uma barreira principalmente para aquelas pessoas que estão expelindo o vírus, e que são assintomáticas, ou que são pouco sintomáticas. Ela funciona como uma barreira para a dispersão do vírus, não impede a dispersão, mas minimiza.
Valim destaca também que o uso da máscara deve ser associado a práticas de higiene, lavando a máscara diariamente e cuidando com o uso:
– A pessoa não pode ficar conversando e falando com essa mascara, porque ela vai umidificar e não vai adiantar absolutamente nada. Ela é mais uma medida para agregar, não vai resolver. Agrega junto do isolamento social, da higienização das mãos, do não compartilhamento de utensílios. Não pode relaxar com as outras medidas que são faladas desde o início.
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