O isolamento social causado pela necessidade de prevenção contra o novo coronavírus pode ter apresentado os sentimentos de solidão e angústia para mais pessoas, mas para os voluntários do CVV (Centro de Valorização à Vida), estas são emoções relatadas há muito tempo, até mesmo por pessoas que estavam em meio à multidão. Em Santa Catarina, há postos de atendimento em 16 cidades e, nos últimos dias – especialmente desde 17 de março, quando foi decretada situação de emergência em Santa Catarina – a procura pelo serviço cresceu e, principalmente, teve o foco dos problemas transformados.

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ão há levantamentos para quantificar a elevação no número de ligações para o CVV, mas voluntários como Lucilene Matos, de Joinville, explicam que o perfil de quem procura este serviço mudou. Agora, as conversas com os voluntários têm seguido para enfoques como o medo da pandemia e do que ela pode provocar e a solidão causada pela restrição nas saídas de casa.

— Existem pessoas que já sentem-se só, ou que já estão com depressão, e para elas este momento de isolamento social é ainda mais difícil. Estas continuam ligando, mas outras começaram a ligar para falar, por exemplo, sobre o medo que estão sentindo – afirma Lucilene.

Segundo ela, o atendimento não havia mudado muito até o último fim de semana, quando a possibilidade de flexibilização das regras do isolamento parecia muito próxima, mas foi alterada no domingo e estendida até 8 de março. Foi principalmente nesta data que as ligações começaram a aumentar.

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— Não é apenas pelo isolamento social, mas por não sentirem-se aceitos ou validados, mesmo quando estão entre os familiares ou amigos. É um sentimento que se intensifica por causa do isolamento — reflete a voluntária Zita, de Blumenau.

Por causa da pandemia, as cidades que oferecem atendimento presencial precisaram suspender este serviço. Agora, os voluntários trabalham de suas casas. Neste período de "quarentena", é possível buscar apoio pelo telefone 188 (a ligação é gratuita), por e-mail ou pelo chat encontrados no site oficial do CVV.

Em algumas cidades — e Joinville é a principal delas — há poucos voluntários para fazer este atendimento. A mais populosa cidade de Santa Catarina tem apenas 16 voluntários, enquanto Blumenau e Florianópolis têm números semelhantes: a Capital tem 48 enquanto Blumenau tem entre 45 e 50.

— O CVV tem um problema nacional de falta de voluntários porque é um trabalho que mexe com algo muito sagrado. Trabalha com emoções e sentimento de vulnerabilidade, e o voluntário precisa ter um sentimento genuíno de ajudar para assumir esta responsabilidade — avalia Zita.

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Como buscar ajuda no CVV

Telefone: 188 (a ligação é gratuita e não é necessário se identificar)

E-mail: é necessário entrar no site do CVV e enviar a mensagem por meio dele

Chat: fica disponível no site do CVV.

Presencialmente: o serviço não está disponível durante a quarentena e, quando normalizar, nem todas as cidades possuem. Saiba onde procurar no site do CVV.

Apoio de quem está ao lado é fundamental

O CVV ampliou seu trabalho de divulgação nos últimos dias, com o objetivo de garantir que o serviço seja conhecido por mais pessoas. Mas há um reforço também nas orientações para que as pessoas encontrem, neste momento, a sintonia familiar que pode ter sido perdida pelo dia a dia cheio de atividades.

— Estamos frisando que as famílias precisam ajudar uns aos outros, passar a olhar para quem está dentro da sua casa e promover o acolhimento. Muitas vezes o jovem se distancia e fica só nas redes sociais. É importante que este momento seja aproveitado para oferecer a atenção que antes não era dada porque haviam muitos compromissos. Agora é a hora, temos todo o tempo do mundo – analisa a voluntária.

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Os cursos para novos voluntários havia começado nas primeiras semanas de março, mas precisaram ser suspensos. Para ser voluntário, é necessário ter pelo menos 18 anos de idade, tempo disponível para os plantões semanais (são quatro horas e meia por semana) e estar disposto a acolher pessoas desconhecidas de maneira sigilosa. No curso, os voluntários aprendem a ouvir sem julgamentos e a acolher a pessoa que está sendo atendida, em aulas teóricas e práticas. Não é necessário formação em saúde mental nem experiência na área — profissionais como psicólogos e psiquiatras, aliás, não podem prestar atendimento em forma de consulta ao atuarem como voluntários, já que o serviço é pautado pelas ferramentas do CVV.