Em Santa Catarina, pelo menos oito hospitais já fazem parte da rede de unidades que promovem estudos clínicos para testar a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com o novo coronavírus (covid-19). Duas unidades ficam em Florianópolis, quatro em Joinville, uma em Criciúma e uma em Blumenau. Pelo menos três desses hospitais já têm pacientes voluntários que estão sendo testados.
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No Brasil, mais de 40 centros clínicos participam dos estudos, encabeçados por importantes instituições de saúde, como Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Sírio Libanês, Oswaldo Cruz e integrantes da Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BricNet). Os pesquisadores pretendem avaliar entre 800 e 1,2 mil pacientes voluntários.
Os estudos começaram no Albert Einstein no dia 27 de março, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou protocolos autorizando o início dos testes em pacientes com o novo coronavírus (covid-19).
Os pacientes serão divididos em grupos. Alguns receberão doses isoladas de hidroxicloroquina. Outro receberá também doses de azitromicina, muito utilizada no tratamento de infecções respiratórias e também testada em estudo recente feito na França, que demonstrou recuperação acelerada dos pacientes. Há ainda um terceiro grupo, que receberá hidroxicloroquina associada ao corticóide dexametasona, nos casos mais severos.
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A expectativa é obter resultados em pelo menos 60 dias. Depois disso, ainda é necessária a avaliação da Anvisa para obter a liberação da substância no tratamento aos efeitos do coronavírus.
Estudo em Joinville aguarda voluntários para começar
No Centro Hospitalar Unimed (CHU), em Joinville, o médico coordenador de UTIs Adulto, Glauco Westphal, afirma que toda a estrutura para os estudos começarem está pronta. A unidade já recebeu os lotes de medicamentos. Para iniciar o primeiro teste, o corpo clínico aguarda a chegada do primeiro paciente diagnosticado com o novo coronavírus disposto a participar do estudo.
O CHU vai participar do grupo de estudos por meio da Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BricNet). Segundo Westphal, a unidade hospitalar vai participar das três coalizões formadas pela BricNet para testar a hidroxicloroquina.

Na chamada primeira coalizão, o estudo será conduzido com pacientes que apresentam sintomas leves da doença. Eles serão divididos em três grupos. O primeiro receberá apenas hidroxicloroquina. O segundo, hidroxicloroquina com azitromicina. O terceiro terá tratamento convencional, sem nenhuma dessas substâncias. Em todo o país, devem ser testados 630 pacientes.
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Na segunda coalizão serão monitorados pacientes com estado moderado de infecção por coronavírus, que receberão hidroxicloroquina com azitromicina ou apenas hidroxicloroquina isolada. A expectativa é testar 436 pacientes no Brasil.
Já na terceira coalizão entram os pacientes que apresentam estágios mais graves da doença, que necessitam de ventilação mecânica. Eles receberão doses de hidroxicloroquina associada à dexametasona. Segundo Westphal, são casos que apresentem a chamada Síndrome de Angustia Respiratória do Adulto (Sara), um dos estágios mais graves da pneumonia.
Quem participa
Os pacientes serão voluntários, com 18 anos ou mais e serão selecionados por sorteio, para garantir a distribuição ideal da amostragem do estudo. O tratamento com a hidroxicloroquina levará em torno de sete dias.
Westphal explica que ao chegar um paciente com suspeita de coronavírus, o médico envolvido na pesquisa conversará com o paciente ou, caso ele esteja impossibilitado, com o familiar. Ele explicará os riscos e os benefícios de participar do estudo, além da importância dos testes.
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– O paciente e o familiar são absolutamente livres para decidir sobre a participação no estudo. Caso consintam, é assinado um termo e, a partir da assinatura desse termo, se procede à randomização, que é o sorteio, para saber se esse paciente vai receber o esquema 'X' ou o esquema 'Y' de tratamento. A partir desse sorteio, que é feito de forma eletrônica, não temos nenhuma influência nele, o paciente recebe o tratamento durante o tempo previsto, que será de sete dias – detalha Westphal.
Em Joinville, além do Centro Hospitalar Unimed, participam dos testes clínicos o Hospital Dona Helena, Hospital Regional Hans Dieter Schmidt e o Hospital São José.
Em Florianópolis, dois hospitais participam de estudos

Em Florianópolis, uma instituição pública e outra privada estão à frente dos testes com a hidroxicloroquina. O Hospital Nereu Ramos, gerido pelo Estado, inclusive, já atendeu o primeiro paciente na última sexta-feira, 3. Segundo o governo do Estado, ele apresentava um quadro leve de sintomas e já está recebendo o tratamento com a substância.
Por enquanto, o Nereu Ramos é a única únidade gerida pelo governo estadual a participar de estudos clínicos que testem a eficácia de medicamentos contra o novo coronavírus.
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Já na rede privada, é o Hospital Baía Sul, no Centro de Florianópolis, que participa da coalizão nacional para os estudos da hidroxicloroquina.

A pesquisa começou nesta segunda-feira, com inclusão do primeiro paciente voluntário, internado na enfermaria do hospital. Segundo a direção do Baía Sul, inicialmente a unidade está focando na participação de pacientes internados que apresentam quadro leve de insuficiência respiratória.
Os pacientes serão dividos em três grupos, que receberão a hidroxicloroquina somente, a substância acompanhada da azitromicina ou não receberão nenhum desses medicamentos – terão o tratamento padrão contra o vírus. A intenção é verificar como se dá o desenvolvimento da doença entre os grupos.
Posteriormente, os testes serão estendidos também a pacientes que apresentarem sintomas moderados a graves da doença.
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Testes no Sul do Estado já começaram

Em Criciúma, o Hospital São José, unidade filantrópica que atende pacientes do SUS, já iniciou os testes com a hidroxicloroquina no último dia 2, com pacientes voluntários. A unidade também testará os efeitos da substância isolada, acompanhada de azitromicina e da dexametasona. Participam dos estudos clínicos pacientes que apresentem sintomas leves, moderados e graves.
Blumenau
Já no Vale do Itajaí, o Hospital Santo Antônio, de Blumenau, e a Clínica Angiocor Blumenau integram a rede de pesquisas. Eles conduzirão os três testes, com a hidroxicloroquina isolada ou associada à azitromicina e à dexametasona. Participarão pacientes com sintomas leves, moderados e graves.

Eficácia do medicamento depende de mais testes
A hidroxicloroquina utilizada nos testes está sendo doada pela farmacêutica EMS, integrante do Grupo NC, do qual a NSC Comunicação também faz parte. A empresa já fabrica a substância para ser comercializada, indicada atualmente para tratar pacientes com lúpus eritematoso, artrite reumatóide e alguns casos de malária.
A menção à hidroxicloroquina como alternativa ao tratamento de sintomas do coronavírus ganhou força no mês passado, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu celeridade ao órgão sanitário de regulação (o FDA) na aprovação da substância para tratar os pacientes americanos.
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Desde então, no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro tem se mostrado simpatizante da substância e da cloroquina, medicamento de composição similar, mas que provoca mais sintomas colaterais aos usuários. A cloroquina foi autorizada pelo Ministério da Saúde para ser utilizada no tratamento de pacientes acometidos por coronavírus em estado grave. O laboratório do Exército é detentor do registro dessa fórmula e iniciou a produção no último dia 23.
Mas polêmicas rondam as substâncias em Brasília. Bolsonaro quer liberar o uso tanto da cloriquina quanto da hidroxicloroquina mesmo antes da conclusão segura de estudos feitos no Brasil e no mundo. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tem se recusado a endossar o uso generalizado antes da palavra final dos cientistas.
Mandetta afirmou nesta segunda-feira, 6, que foi pressionado por dois médicos a editar um protocolo de hicroxicloroquina para tratamento do novo coronavírus no Brasil por meio de decreto. Ele disse em entrevista coletiva que se recusou a fazer isso por falta de embasamento científico.
Em alguns casos, substâncias apresentaram bons resultados em pequeno grupo de pacientes
Conforme o diretor médico-científico da EMS, Roberto Amazonas, a comunidade científica já tinha conhecimento de que em alguns casos a hidroxicloroquina apresentou bons resultados.
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Um dos primeiros estudos ocorreu na China, ainda com a cloroquina. Os pesquisadores já haviam identificado no passado que a droga apresentava boa eficácia contra o vírus H1N1, causador da gripe A, porque ela não permitia que o vírus penetrasse nas células do paciente, limitando a ação nociva dele. Agora, na tentativa de descobrir uma droga contra o novo coronavírus, testes em laboratórios foram feitos com diversos componentes, incluindo a cloroquina, que novamente demonstrou apresentar potencial de proteção às células contra o Covid-19.
Amazonas ressalta que, na França, mais evidências trouxeram luz ao componente químico. Médicos ministraram doses de hidroxicloroquina num grupo de aproximadamente 20 pacientes. A diferença é que eles também associaram o medicamento à azitromicina, semelhante ao que vai ser aplicado agora no teste clínico com o Hospital Albert Einstein. Os resultados novamente foram animadores entre 7 e 10 dias de tratamento, com os pacientes se livrando mais rápido do vírus do que os indivíduos que não tiveram a mesma aplicação.
Resultados preliminares da cloroquina no Brasil são pouco animadores

Mas resultados preliminares de levantamento feito pela Fiocruz e pela Fundação de Medicina Tropical utilizando a cloroquina mostram que a letalidade no grupo de pacientes com coronavírus, embora menor, ainda é similar a de pacientes que não fizeram uso da substância.
De 81 doentes em estado grave internados que tomaram o medicamento, 11 morreram, o que corresponde a uma taxa de letalidade de 13%. A taxa de mortalidade verificada em pacientes em iguais condições que não usaram a droga é de 18%, segundo estudos internacionais, inclusive da China. A proximidade dos dois índices não permite afirmar, por enquanto, que a cloroquina possa fazer diferença fundamental no tratamento dos doentes infectados pelo novo coronavírus.
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