Fique em casa, lave as mãos, cuide dos idosos. O mantra da pandemia do coronavírus, repetido diariamente em todo o Brasil, destaca sempre a necessidade de cuidado extra com as pessoas acima dos 60 anos de idade, que integram o grupo de risco ao lado de pacientes com outras doenças prévias à Covid-19. No entanto, os números das primeiras semanas do vírus circulando no Brasil mostram que a preocupação deve estar em todas faixas etárias.
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Seguindo um padrão que já era notado em outros países europeus e asiáticos, a maioria dos pacientes com coronavírus em Santa Catarina tem entre 30 e 39 anos – cerca de 25% de todos os infectados. Os dados são da Secretaria de Estado da Saúde, que tem atualizado diariamente os casos confirmados, e mostram uma média de 40% dos pacientes com Covid-19 abaixo dos 40 anos de idade.
Conforme o governo, pessoas com idade entre 32 e 83 anos precisaram ser internadas em UTIs em SC por causa do coronavírus na última semana. Na visão do governador Carlos Moisés (PSL), isso "desmistifica a faixa etária exclusiva de pessoas que precisam de ação mecânica para viver".
Os dados de SC refletem o cenário de outros estados do Brasil e, de certa forma, os números gerais do coronavírus disponíveis até agora. No Rio de Janeiro, por exemplo, a maioria dos infectados tem entre 30 e 39 anos, faixa etária que no país registra um dos maiores volumes de contaminados.
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Os gráficos mudam quando se aplica o filtro de casos graves (que precisam de internação) ou mortes, com a maioria dos pacientes acima dos 60 anos. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, a maioria dos óbitos no Brasil está na faixa etária entre 80 e 89 anos, e a maioria dos casos graves entre 60 e 69. Nos Estados Unidos, um levantamento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) mostrou que cerca de 20% das pessoas hospitalizadas por Covid-19 no país tinham idade entre 22 e 44 anos, contra 26% entre 65 e 84 anos – uma diferença percentualmente pequena.
Os casos deixam claro que a Covid-19 é mais perigosa para a população idosa, mas não de forma exclusiva. Todos correm algum tipo de risco e os jovens, que acabam ficando mais expostos no dia a dia, acabam contraindo o coronavírus em maior volume e ajudam a disseminar a doença.
– Não temos faixa etária exclusiva de quem demanda terapia intensiva, tem dificuldade de respirar e depende de ação mecânica para se manter vivo. São as mais diversas idades e entendemos que a recomendação de ficar em casa, manter higiene e distância não é só para idosos – destacou o governador em entrevista coletiva na última semana.
Para os especialistas, a diferença está na gravidade dos sintomas:
– Como se fala de um quadro de dor no corpo, febre baixa, tosse, isso acontece muito em pacientes jovens. Agora, aqueles que têm outras comorbidades, como idosos, hipertensos, diabéticos, cardiopatas, ou que têm imunidade baixa, toda e qualquer infecção bacteriana e viral sempre foi e sempre vai ser mais grave. Por isso a mortalidade da Covid-19 é maior nesses casos – avalia a infectologista Sabrina Sabino.
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"Jovens não são invencíveis", diz OMS
O alerta para os riscos do coronavírus na população mais jovem foi feito em nível internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em comunicado, a entidade disse que “os jovens não são invencíveis. O vírus pode colocá-los no hospital por semanas ou até mesmo causar a morte”. O aviso da OMS fala também nas escolhas tomadas pela população jovem durante a pandemia: “mesmo se você não ficar doente, as escolhas que você faz sobre onde ir podem fazer a diferença entre a vida e a morte de outra pessoa”.
O alerta coloca em xeque as propostas de "isolamento vertical" citadas para uma possível retomada dos serviços e da economia em países em quarentena. O modelo fala em reforçar o isolamento social apenas dos idosos e outras pessoas nos grupos de risco, deixando os jovens saudáveis no dia a dia normal.
Por um lado, especialistas apontam que isso poderia ajudar a população a desenvolver anticorpos e a maioria desses jovens apresentaria apenas sintomas leves de um resfriado. No entanto, a falta de dados precisos do coronavírus até agora, por se tratar de uma doença nova, não deixa claro o impacto da doença em pessoas fora dos grupos de risco.
Jovens saudáveis também sentem os sintomas
Moradora de Blumenau, no Vale do Itajaí, a estudante e auxiliar administrativo Maria Fernanda Becker Cunha, de 21 anos, é um dos exemplos de jovens catarinenses que foram infectados pelo novo coronavírus. Ela sentiu os sintomas depois de voltar de uma viagem à Europa. No primeiro dia teve dor de cabeça e dor no corpo, depois fraqueza e problemas para respirar, além de não sentir o gosto dos alimentos – um dos sintomas comuns da Covid-19.
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Ela começou o isolamento em casa no dia 13 de março e, passadas duas semanas, já se sente melhor e recuperada, mas ainda relata uma angústia respiratória leve.
– Acredito que a grande e maior importância do jovem ter cuidado com o vírus é que por não apresentar sintomas, ou sintomas muito leves, pode não saber que possui o coronavirus e assim passar para outros que são de grupo de risco. E também, acho que se não for um jovem saudável, pode sofrer mais com os sintomas – conta Maria Fernanda.
