Além de diversas alterações na rotina de pessoas, empresas, faculdades e escolas em todo o mundo, a pandemia de coronavírus também está mexendo profundamente com a indústria cultural: as medidas para conter a disseminação da doença vêm causando adiamentos e cancelamentos de eventos em todas as áreas do entretenimento – em Santa Catarina, um levantamento estima que mais de 3,5 mil eventos já foram remarcados, suspensos ou cancelados por causa do novo coronavírus. E esse número tende a aumentar.
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A estimativa foi feita por meio do documento Cultura Catarinense em tempos de COVID-19, criado na plataforma do Google: em apenas 24 horas, 595 produtores culturais e artistas de todas as regiões de Santa Catarina responderam ao questionário, listando eventos e ações organizados por eles, ou dos quais eles participariam, que agora estão suspensos. A ideia de fazer o levantamento partiu de músicos e profissionais do meio artístico de Florianópolis, mas a pesquisa já recebeu respostas de cidades como Joinville, Blumenau, Criciúma, Brusque, Balneário Camboriú e Chapecó. O documento é amplo: inclui de grandes shows a bandas que se apresentariam em cerimônias de formaturas e casamentos, por exemplo.
Até agora, a maioria das respostas veio do setor e de artistas de teatro, circo, artes visuais e dança, além de técnicos de som, iluminadores e professores. Mais de 50% dos participantes da pesquisa afirmam que a maioria de seus ganhos vem dos ingressos pagos pelas apresentações e espetáculos – ou seja, sem isso, eles não tem recursos para sobreviver. Os organizadores também reforçam que a indústria do entretenimento envolve toda uma cadeia produtiva de pessoas e companhias que serão afetadas: garçons, seguranças, motoristas, fornecedores de produtos, distribuidores de bebidas, agências de comunicação, empresas de limpeza e muito mais.
Sete espetáculos programados pela Camerata Florianópolis para os meses de março e abril foram suspensos. Estavam previstas apresentações em Bombinhas, Florianópolis e Palhoça. Outro concerto que estava na agenda de maio, na Avenida Beira-mar Norte, também teve o mesmo destino. A produtora Maria Elita Pereira estima o prejuízo em superior a R$ 500 mil. "É uma situação sem precedente em meus 35 anos de música", diz o maestro Jeferson Della Rocca.
Heitor Lins, diretor da Harmônica Arte e Entretenimento, empresa especializada na produção de eventos culturais e artísticos – tendo entre seus artistas a banda Dazaranha -, conta que até 9 de abril teve que adiar 24 apresentações de um grupo de teatro em turnê pelo Sul do Estado. "O Dazaranha teve 12 shows cancelados nesse período", completa. "Iríamos tocar em Curitiba, Rio Negrinho, Itajaí, Timbé do Sul, além de Florianópolis. Mas esse número pode ser maior, porque resolvemos aguardar um pouco para decidir sobre os espetáculos que virão depois de 9 de abril."
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Uma das mais conhecidas produtoras de eventos musicais de Santa Catarina, Eveline Orth está com sua equipe trabalhando 24 horas por dia para tentar evitar um prejuízo maior: em vez de cancelar os espetáculos, o objetivo é adiar. Já são 14 até o momento, entre eles Milton Nascimento, Paralamas do Sucesso e Bonnie Tyler.
"Além de ter que trabalhar com a possibilidade de devolução dos ingressos que já foram vendidos, esses adiamentos nos colocam em uma situação muito difícil, pois não teremos faturamento em pelo menos três meses", explica a produtora."E já investimos com pagamentos de parte de cachês, passagens aéreas, mídia. O quadro atual compromete de maneira muito séria o capital de giro das produtoras culturais." Eveline calcula que cerca de 20 mil pessoas estariam na plateia dos 14 shows.