Um ainda não sabe o que fazer. Outro já adiou para o segundo semestre. Um terceiro decidiu cancelar tudo e fazer a cerimônia dentro do próprio apartamento. Em meio à pandemia do novo coronavírus em todo planeta, casais de Santa Catarina estão tendo que lidar com uma situação singular: o de ter de mudar (forçadamente) os planos do próprio casamento.

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O que antes já estava totalmente organizado, virou de cabeça para baixo nas últimas semanas. A preocupação de que a tal Covid-19 chegasse ao Brasil se tornou uma realidade e virou uma grande dor de cabeça aos apaixonados.

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O casal blumenauense João Paulo Taumaturgo e Giselle Bähr que o diga. À espera do casamento há um ano, os pombinhos iriam trocar alianças no sábado (28). Não vão mais, é claro. Depois de alguns dias sem saber o que fazer, os noivos decidiram adiar — ainda sem data definida — o matrimônio.

— Já estávamos acertando os últimos detalhes, ensaiando a dança, revendo as passagens e ingressos comprados para a lua de mel, e de repente surge isso (a pandemia do novo coronavírus). Ficamos nessa de cancela ou não cancela, adia ou não adia, e aí veio o decreto do governo do Estado que já não permitiria de qualquer jeito. Fazer o quê? É uma situação absolutamente inesperada — relata Taumaturgo.

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Taumaturgo e Giselle.
Taumaturgo e Giselle. (Foto: Giovanni Silva, Arquivo Pessoal)

Da decepção ao alívio

Já Morgana Missfeld e Thiago Bialeski, de Porto Belo, foram da decepção ao alívio em poucos dias. Eles se casariam em 10 de abril em uma cerimônia para cerca de 100 pessoas em Bombinhas, também no Litoral Norte.

Com a orientação de que não fossem feitos grandes eventos, o casal decidiu tirar muitas pessoas da lista e reduzi-la para 50 — e mesmo assim manter a cerimônia e a festa. A proibição de aglomeraçoes, no fim da última semana, cancelou tudo de vez, mas acabou sendo a solução para o problema.

Isso porque alguns familiares do casal viriam de países como os Estados Unidos e a Espanha, que também enfrentam graves problemas por conta do novo coronavírus. Quando começaram as notícias de restrições de voos e fechamentos das fronteiras, Morgana e Thiago já começaram a se decepcionar com o fato de não terem a família completa no casamento.

O “processo de frustração” — como a noiva relata esse período — durou pouco. Ao ficarem proibidos de organizarem a festa, eles decidiram adiar tudo ainda para esse ano. No toma lá, dá cá com fornecedores, conseguiram achar uma data: 7 de setembro, justamente o dia do aniversário do namoro.

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— No fim foi uma sensação de “Deus me livre, mas quem me dera”. Faltavam menos de 30 dias, só que não ia ser como a gente queria, afinal muitos não poderiam estar ao nosso lado. Até a minha mãe, por exemplo, que está em todos os grupos de risco possíveis, não poderia ir. Então a gente passou da frustração para uma nova contagem regressiva — conta Morgana.

Thiago e Morgana.
Thiago e Morgana. (Foto: Tiago Sgrott Fotografia, Arquivo Pessoal)

As dores de cabeça

No caso do outro casal, Taumaturgo e Giselle, a opção foi por nem escolher uma nova data ainda, o que traz dores de cabeça com fornecedores. A passagem para a lua de mel, por exemplo, terá de ser remarcada. Mas para quando? Eles também não sabem. O noivo diz que não quer se precipitar em agendar um novo dia para o matrimônio enquanto a pandemia do novo coronavírus não der uma trégua.

— Com alguns (fornecedores) mais próximos, foi fácil negociar, mas com outros não. Não dá para prever o que vai acontecer com essa doença daqui para frente, então há essa indefinição. A agência de viagens, por exemplo, quer que a gente escolha uma nova data, mas nós não queremos e nem vamos, ainda mais com o dólar turismo a quase R$ 6 — aponta Taumaturgo.

A noiva completa:

— A sensação é de impotência. Estávamos com tudo organizado, só esperando o grande dia. É uma pausa no sonho que construímos e sem definição de quando poderemos retomar tudo. Estamos de mãos atadas e a sensação é muito ruim — relata Gisele.

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Mudança de planos

Em Indaial, no Médio Vale do Itajaí, Ghlenda Salcedo e Rinaldo Morgado decidiram cancelar a festa — e “provavelmente nem remarcá-la”, como a própria noiva conta. Eles vão trocar alianças em abril, mas decidiram mudar os planos e fazer uma cerimônia simples, dentro do próprio apartamento. Economizar uma grana foi a parte boa da história, segundo a noiva. Já a ruim será não fazer o evento perto dos familiares:

— Vamos fazer o casamento só com o pastor. A festa seria para umas 80 pessoas e com os fornecedores a conversa foi bem de boa (para cancelar). Quanto à celebração, fico feliz por não gastar o dinheiro (risos), mas também chateada por não ter a nossa família no momento do casamento.

Procon pede bom senso

O coordenador do Procon de Blumenau, Marcelo Schiliró, pede “harmonia” entre clientes e empresas. Em casos mais extremos, é possível acionar o órgão de defesa do consumidor, mas ele destaca que o atual contexto do Brasil e do mundo pede bom senso.

Schiliró explica que há, por exemplo, uma brecha no Código de Defesa do Consumidor que permite mudanças em cláusulas contratuais em situação como de uma pandemia.

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— Estamos vivendo uma situação atípica, onde tudo precisa ser relativizado. É um momento em que o consumidor não quer e o fornecedor também não pode oferecer. É preciso que ambos conversem, revisem a data da prestação do serviço, remarquem, e principalmente evitem o cancelamento, já que isso pode gerar uma série de problemas. O pedido é sempre para que se busque o consenso — explica o coordenador do Procon de Blumenau.

No Estado, o telefone do órgão de defesa do consumidor é o (48) 3224-4676 ou então o 151, para reclamações e denúncias. No caso de Blumenau, o contato pode ser feito pelo WhatsApp, pelo telefone (47) 99920-0083 — apenas em mensagens de texto.