A proposta de “isolamento vertical” contra a pandemia do coronavírus ganhou espaço nas discussões de políticas públicas nos últimos dias, a partir do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro em rede nacional na terça-feira (24) apontando a teoria como o modelo a ser seguido no Brasil. A ideia contraria o que vem sendo adotado no país até o momento por governadores e, inclusive, as primeiras recomendações do Ministério da Saúde de isolamento total da população contra a Covid-19.
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O isolamento vertical surgiu como teoria de alguns cientistas dos Estados Unidos com base principalmente nos dados do coronavírus na Coreia do Sul. A proposta se baseia no isolamento específico de pessoas no grupo de risco: idosos e pacientes com outras doenças ou saúde debilitada. Os números até agora mostram que essas pessoas são as que correm o maior risco de morte pelo coronavírus, enquanto na população jovem o índice ainda é baixo.
A teoria é vista como uma maneira de enfrentar a pandemia sem parar a economia, pois as restrições seriam menores e comércios, serviços e indústrias poderiam funcionar, mesmo que parcialmente. Conforme os estudos, a maior parte população saudável exposta ao vírus iria desenvolver anticorpos e nem apresentar sintomas da doença.
O modelo chegou a ser adotado inicialmente na Inglaterra, que na sequência passou também para um isolamento total da população. Atualmente os principais defensores no mundo são os presidentes Donald Trump (EUA) e Jair Bolsonaro. A principal crítica, conforme especialistas e a própria Organização Mundial da Saúde, é de que os números do coronavírus ainda são escassos e há uma diferença muito grande no índice de mortalidade entre países como Coreia do Sul, China e Itália (variando de 1% até 9%). Da mesma forma, existem casos registrados de pessoas jovens e saudáveis que também morreram pela Covid-19. Assim, o número de pacientes graves e de óbitos num modelo de isolamento mais brando pode ser maior que o estimado.
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Para o médico infectologista Antônio Miranda, uma dos principais nomes da área em Santa Catarina, o ideal é partir de um modelo de isolamento completo – como o atual – para, gradativamente, um modelo vertical:
– Esse modelo atual em que você isola todo mundo, tem que ser por um período. Porque você está suprimindo o vírus artificialmente. A hora que liberar as pessoas o vírus vai estar aí ainda. Você ganha tempo. Tempo para organizar o sistema de saúde, para não ter um pico de duas, três mil pessoas doentes ao mesmo tempo e não ter como tratar. A hora em que você passa para o modelo vertical, começa a soltar algumas atividades para os jovens, essas pessoas vão contrair o vírus e a maioria nem vai ficar doente, vai pegando imunidade.
Miranda defende que, no atual estágio da pandemia, o isolamento total ainda é a melhor opção, mas vê possibilidades de, em algumas semanas, começar a abrandar a quarentena. Até lá, a rede de saúde estaria ainda melhor preparada para atender os casos de coronavírus.
– Não tem dinheiro para ficar dois, três meses parado. Esse povo em algum momento tem que ir pra rua, criar imunidade. O isolamento agora é para tratar melhor as pessoas e quem tiver sintomas graves ser internado e não morrer na fila. Com o sistema preparado vamos atender com qualidade e salvar muita gente – afirma.
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