Há exatos três meses, Santa Catarina confirmava que o coronavírus havia chegado ao Estado. Em uma coletiva de imprensa na tarde do dia 12 de março, o então secretário de Saúde, Helton Zeferino, anunciava os dois primeiros casos de covid-19 em território catarinense. Os dois casos avançaram para quase 13 mil, e 186 pessoas já morreram pela doença – que no Brasil já vitimou mais de 40 mil pessoas.

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Os primeiros pacientes diagnosticados com covid-19 em Santa Catarina eram os chamados “casos importados”, adquiridos em outros países. Uma mulher que veio da Holanda e o cantor Di Ferrero, que havia viajado aos Estados Unidos e foi tratado em Florianópolis.

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Hoje o governo acredita que o vírus já circulava em SC em fevereiro, mas sem detecção. A transmissão comunitária, quando já não era mais possível identificar a origem da contaminação, foi confirmada em Santa Catarina no dia 17 de março, data em que o Estado entrou em situação de emergência e iniciou as medidas de isolamento social que, com alguns afrouxamentos, valem até hoje.

Muita coisa mudou em três meses. Antes daquele 12 de março o coronavírus ainda era algo distante visto na televisão para os catarinenses. Quem ousava vestir uma máscara na rua recebia olhares desconfiados, todas as atividades eram permitidas e os dias de calor ainda eram aproveitados na praia. Se agora boa parte dos serviços já voltou a funcionar, o “novo normal” é bem diferente do que o de 90 dias atrás.

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Durante os meses de pandemia, Santa Catarina chegou a ser citada pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta como “o próximo Estado a entrar em colapso”, mas não viu o caos chegar e mantém o crescimento da doença com relativo controle. Ainda não é possível dizer que SC chegou ao chamado “platô” ou que está vendo a curva de crescimento do coronavírus reduzir, mas o avanço tem sido menor do que o esperado.

– Santa Catarina ainda está com uma curva de crescimento, mas pode observar que não tem comportamento de pico como outros estados, aquele crescimento assustador, até fora de controle. Está tendo um crescimento controlado, podemos dizer – avalia a médica infectologista Regina Valim.

O Governo do Estado comemora, atualmente, o que seria o “melhor desempenho do Brasil” no combate ao coronavírus. Os dados variam, mas inegavelmente alguns pontos têm garantido certa tranquilidade. O infectologista e pesquisador da Fiocruz, Julio Croda, que é também ex-diretor de Imunizações do Ministério da Saúde, aponta que Santa Catarina está testando mais os pacientes que outros estados e tem mantido baixa ocupação dos leitos de UTI, sempre na casa dos 60%. Para ele, índices acima de 70% não permitiriam qualquer flexibilização da quarentena.

– Temos também um número ainda relativamente baixo de óbitos. Claro que a gente não queria ter [mortes], mas estamos falando de uma doença com potencial de gravidade elevado, infelizmente. Por isso, há esse certo controle, mas não é por causa disso que temos que relaxar. Tem que ficar bem atento com a volta da circulação dos ônibus, abertura de parques. Temos que ver como a situação vai se comportar nas próximas duas semanas, com a liberação disso tudo. A população ainda precisa cuidar com etiqueta da tosse, higienização das mãos, uso de máscara. Não adianta usar máscara e estar em uma aglomeração de pessoas – destaca a infectologista Regina Valim.

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Regiões com situações diferentes

O coronavírus entrou em Santa Catarina como uma onda. Durante as primeiras semanas, a faixa litorânea viu a doença chegar primeiro, especialmente a região Sul – primeiro epicentro da doença no Estado. Cidades como Criciúma, Tubarão e Braço do Norte tiveram os primeiros casos de transmissão comunitária. Depois a doença avançou nas principais cidades e regiões metropolitanas, com números altos na Grande Florianópolis, no Vale do Itajaí e na região de Joinville.

Entre abril e maio a situação começou a mudar com a chegada do coronavírus no Oeste catarinense. Hoje, as duas cidades com mais casos confirmados em Santa Catarina são Chapecó e Concórdia, e vários pequenos municípios nos arredores registram as maiores taxas de contaminação do Estado. Para os especialistas, o avanço do coronavírus na agroindústria, especialmente em frigoríficos, ajudou a disseminar a doença na região.

Nas próximas semanas, a atenção deve se voltar à Serra, região catarinense com menos casos de coronavírus até agora. Lages, a principal cidade na área, ainda não teve nenhum óbito confirmado por covid-19. No entanto, a chegada do inverno e o consequente fluxo de turistas para as cidades mais frias de SC preocupa.

– A gente precisa de atenção com a chegada do inverno. As áreas mais altas se tornam mais vulneráveis por causa das temperaturas baixas, o que favorece a circulação de outros vírus respiratórios, não somente o coronavírus. Isso pode mudar a situação – ressalta a infectologista Regina Valim.

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