A confirmação de mortes por coronavírus no Brasil acendeu o alerta. Em Santa Catarina, o governo do Estado editou um decreto restringindo inúmeras atividades para frear o vírus e reduzir o número de casos no Estado.

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Nesse contexto, prevenção e informação andam de mãos dadas para evitar o pânico. Para isso, a reportagem entrevistou a médica infectologista Sabrina Sabino. As expressões "lavar as mãos" e "água e sabão" foram as mais usadas pela médica ao se referir sobre o novo coronavírus e como preveni-lo.

Sabrina, que integra a Sociedade Brasileira de Infectologia, falou sobre o momento da Covid-19 em SC, deu dicas e pediu calma à população. Confira na entrevista a seguir:

Qual a sensação da senhora, enquanto uma profissional da área, sobre o clima que marcou esta semana em Santa Catarina e no Brasil?

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As pessoas estão em pânico. Essa é a palavra. Precisamos acalmar os ânimos. Já sabemos o comportamento do coronavírus tanto na China, quanto na Itália, e agora a gente está aprendendo com os primeiros casos que vêm surgindo. A primeira impressão, acredito, é essa forma de desinformação da população, principalmente aqueles que procuram atendimento sem necessidade, ou até aqueles que julgam fazer exames sem necessidade. Acho que estão acontecendo medidas imediatistas por parte da população e que precisam ser acalmadas.

O que são esses exemplos da China e da Itália?

O coronavírus pode até ter um comportamento diferente no Brasil por conta do nosso clima tropical. Algo que a gente ainda não sabe é justamente como ele vai se comportar em temperaturas mais elevadas. Mas o que aprendemos com os chineses e os italianos foram, principalmente, como fazer medidas de precaução, como fazer o isolamento do paciente, o que não era visto ainda em outros vírus (de doenças respiratórias). Exemplo: no coronavírus a gente isola o paciente que chamamos de gotículas e contato. Então, nossa precaução é de evitar o contato com o próximo, diferente de outros vírus. Aprendemos a respeito do manejo do paciente crítico grave quando temos que entubá-lo precocemente.

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Vivemos um momento em que as pessoas buscam saber mais sobre o coronavírus. O que, de fato, é preciso ser destacado sobre a Covid-19?

Que mais de 80% dos casos são leves. É um sintoma de resfriado comum. O que tem que ser destacado é que se você está com sintomas gripais, se você está com nariz escorrendo, tosse, falta de ar, dor no corpo, fique em casa. Se é um sintoma leve, fique em casa! Não vá se expor dentro de um ambiente hospitalar. O hospital não é local para esse paciente estar. O que a gente precisa passar para a população é: quando procurar o atendimento médico. Ou seja, quando tiver uma falta de ar importante, não conseguir subir um lance de escada. Nesses casos tem que procurar um hospital. É isso que precisa ser passado adiante.

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“O álcool gel é uma medida eficaz, sempre foi” (Foto: Patrick Rodrigues)

Falta álcool gel em alguns lugares. O que pode ser feito para substituí-lo?

O álcool gel é uma medida eficaz, sempre foi, e a outra opção é de lavar as mãos com água e sabão. O álcool gel é utilizado pela facilidade, porque é preciso menos tempo, cerca de 30 segundos para fazer uma boa higienização. Já com água e sabão é um pouco mais, de 40 a 60 segundos. Então, na falta de álcool gel não tem por que se desesperar. É só lavar com água e sabão, que é tão eficaz quanto.

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Em Blumenau chegou a haver um caso de confusão e bate-boca na disputa por álcool gel em uma farmácia. Como a senhora avalia isso?

Isso é pânico, é imediatismo. Temos que acalmar as pessoas. O coronavírus vai causar óbito? Sim. Mas em pacientes de risco, assim como a gripe, o H1N1, o sarampo e outras doenças. Precisamos entender que temos que ficar em casa, principalmente se está resfriado, por exemplo. A respeito do álcool, reforço: se você tem água e sabão, utilize. Ponto final.

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Há uma corrente na internet que aponta a troca do álcool gel por vinagre. Pode mesmo?

Não há qualquer evidência científica de que o vinagre vá matar qualquer bactéria ou vírus. Ele existe para temperar salada, tem quem use para lavar vidro, chão. Mas não para matar um vírus. De novo: água e sabão.

Se estou trabalhando normalmente, mas fiquei com resfriado, tosse seca, nada muito grave. O que devo fazer?

A primeira orientação é não procurar um médico se não há sintoma de gravidade, ou seja, febre e falta de ar. Nos demais casos pedimos para ficar em casa. É igual a um resfriado. Se você não tem problema de saúde, não é hipertenso, não é diabético, não faz quimioterapia, não tem HIV, não usa nenhum imunossupressor, não é idoso e nem criança, vá trabalhar com máscara e converse com o seu gestor para ver a possibilidade de home-office. Por que a gente pede para as pessoas ficarem em casa? Para evitar a circulação, de pessoas, de ônibus, justamente para evitar transmissão do vírus.

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O isolamento vale para quem?

O isolamento social nós orientamos para pacientes que têm sintomas e que estão no chamado grupo de risco. Nesse caso, fica em casa e com máscara, porque a gente não quer que ele circule sem saber se realmente tem a Covid-19 ou não. Pode ser influenza, pode ser qualquer outro vírus.

No cenário que Santa Catarina vive hoje, é melhor as pessoas não saírem de casa, mesmo quem não tem sintomas?

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Essas medidas são muito adequadas para a gente evitar a transmissão do vírus. O que acontece: você pode ser um portador sem sintomas e que pode não transmitir o vírus. Mas ao mesmo tempo você pode ter um caso leve e passar para outra pessoa que tem imunossupressão. Então, nesses casos se a pessoa fica em casa, ela evita de tocar na maçaneta, de fazer essa transmissão que a gente chama de comunitária sustentada, diferente da transmissão importada. Quem tem a possibilidade de ficar em casa, ótimo. Mas a gente tem que pensar na saúde, por exemplo, que precisa dos médicos, dos enfermeiros, dos técnicos, auxiliares. Quem pode fazer home-office, ótimo. Os demais vão trabalhar em dobro.

O ser humano vive em comunidade, mas o momento é de evitar contatos físicos com qualquer pessoa?

O brasileiro é um povo caloroso, mas esse é o momento de evitarmos aglomerações, evitar festas de familiares. Essa é uma medida eficaz. Temos que pensar no coletivo, não podemos ser egoístas nesse momento. Fazemos isso por medidas que envolvem a prevenção de comunidade. Eu ter o coronavírus pode não significar absolutamente nada, pode ser um caso leve, mas se eu passar para minha filha, que tem um ano e cinco meses ou para o meu pai, avô, isso é um problema.

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Não é difícil andar na rua e ver pessoas usando máscaras, principalmente idosos. Isso é recomendado?

Não. Não tem recomendação de pessoas assintomáticas utilizarem a máscara. Caso alguém apresente sintomas gripais, a orientação é de ficar em casa, e não na rua, aí sim com a máscara. Se você não tem sintomas, não utilize máscaras. Isso vai gerar diminuição no número desse produto em farmácias para quando realmente precisarmos, e vai gerar pânico na população. Evitar o pânico é fundamental.

“Fique em casa, não saia para a rua” (Foto: Patrick Rodrigues)

Qual o jeito correto de tranquilizar as pessoas mais idosas?

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Se você tem algum sintoma respiratório leve, fique em casa. Não saia para a rua. Não compartilhe talheres. Se for fazer comida, não colocar na boca e dar a outra pessoa. A mãe não deve experimentar se está quente e dar para a criança, sabe? Essas são medidas eficazes, além da conscientização da lavagem correta das mãos. De tudo isso que a gente fala, não é a máscara que previne, e sim a lavagem de mãos para evitar a transmissão comunitária. Já se sabe que o vírus adere à superfície, então precisamos lavar a mão, é o mais importante.

Uma pessoa está em quarentena, por suspeita de coronavírus. Todos aqueles que estiveram com ele precisam fazer essa mesma quarentena?

Existem critérios que vão sendo atualizados. Se você é viajante internacional, tem febre e sintomas respiratórios, você é um caso suspeito. Se você tem contato próximo, domiciliar, mais de 15 minutos dentro de um ambiente com um caso suspeito, ficará sete dias em observação em casa para saber se terá sintomas ou não.

E o que preciso fazer no momento em que acho que possa estar com a doença?

Primeira coisa é não ter pânico. Se você tem um sintoma respiratório leve, tem que ficar em casa sete dias. Ponto final. É a primeira medida, a mais eficaz. Caso tenha outros sintomas, como falta de ar, aí sim pode procurar uma unidade hospitalar.

Como tem que ficar o ambiente dentro de casa ou no trabalho?

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De preferência com janelas abertas, (com o espaço) bem arejado. É melhor que o ar-condicionado. Ventilador, não. Portas abertas, bem ventilado.

Qual a probabilidade de pegar a doença simplesmente por estar no mesmo lugar que alguém contaminado?

Na hipótese de um caso confirmado e que a pessoa conversou, espirrou ou tossiu de uma forma sem etiqueta e não higienizou as mãos, você tem uma possibilidade alta de se contaminar. Mas você pode ser um portador assintomático, pode nem ficar doente ou até ter um sintoma brando. A própria Vigilância Epidemiológica vai atrás desses contatos. Se existe um caso confirmado, a vigilância vai atrás de casos suspeitos, de pessoas que tiveram contatos. É ela que vai avaliar se você ficará em casa, ou não.

Em um caso com sintomas brandos, de resfriado, sem febre, preciso manter quais hábitos?

Da mesma forma como qualquer gripe, com hidratação de no mínimo dois litros por dia, boa alimentação com alimentos verdes, saudáveis, e ficar em casa em repouso.

Como a senhora, como profissional de saúde, avalia as fake news de técnicas não muito confiáveis de combate ao coronavírus?

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Acho que esse é um momento em que nós (profissionais da saúde) temos um auxílio muito grande da mídia. A população precisa entender que as informações têm que ser buscadas de forma correta e com um profissional habilitado. Converse com profissionais da saúde, por exemplo, com médicos, infectologistas, com quem está à frente disso tudo. Não procure informações na internet, nem dissemine se você não sabe se é verdade. Não vá falar que o álcool gel não é suficiente, não vá falar que o vinagre mata tudo. Não é assim que as coisas funcionam. É preciso ter sensatez nesse momento, escutando profissionais habilitados. Fizemos uma formação médica para isso, seis anos de medicina, três anos de residência médica, anos de mestrado, anos de doutorado, para podermos falar sobre isso.