O recuo nas medidas de isolamento social adotadas em Santa Catarina no combate ao novo coronavírus, comunicado pelo governador Carlos Moisés nesta quinta-feira (26) em um plano de retomada da economia, foi recebido com apreensão por entidades de saúde do Estado.

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Entre as medidas anunciadas, estão a liberação para funcionamento de shoppings, bares, restaurantes, comércio em geral e outros serviços não essenciais a partir do dia 1º de abril. O transporte coletivo de ônibus, porém, continuará suspenso.

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O presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM), Ademar José de Oliveira Paes Junior, afirma que ainda não é possível compreender a evolução e a velocidade dos casos de coronavírus em Santa Catarina e que, portanto, seria mais prudente manter as medidas adotadas até o momento.

— É totalmente incerto o padrão do comportamento da doença. Pode ser que até o dia 1º de abril a gente tenha um crescimento de casos que inviabilize o retorno das atividades. Nós entendemos a preocupação de todos os setores, mas enquanto entidade médica a gente foca na questão de saúde e de preservação da vida, independentemente da faixa etária ou da camada social — afirma.

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O médico acrescenta que uma possível explosão de casos poderia provocar um colapso no sistema de saúde catarinense:

As informações que temos recebido é que não teremos recursos suficientes para atender toda a demanda de um crescimento de casos da doença, nem na rede pública nem na rede privada. Então essa é uma das grandes preocupações Ademar José de Oliveira Paes Junior, presidente da Associação Catarinense de Medicina

As medidas anunciadas também foram recebidas com apreensão pela presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-SC), Helga Bresciani.

Nos causa apreensão essa medida, porque o que nós vimos no restante do mundo foi que, ao não tomar os cuidados essenciais, o vírus se propagou muito rápido e os países tiveram que voltar ao isolamento. A gente não sabe se o que foi previsto pela Secretaria de Saúde em termos de estrutura vai dar conta, principalmente depois da liberação Helga Bresciani, presidente do Conselho Regional de Enfermagem

A presidente do Coren-SC comenta que outra preocupação é sobre a contaminação dos profissionais da área, o que poderia dificultar ainda mais o trabalho diante do provável aumento de casos da doença nas próximas semanas, previsto inclusive pelo próprio governo catarinense.

— Por isso também a nossa preocupação para que o governo faça uma previsão de aumento de profissionais, além da capacitação adequada dos mesmos e a disponibilização dos equipamentos necessários para evitar que eles se contaminem. Temos recebido denúncias de profissionais sobre falta desses equipamentos de proteção em alguns locais.

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Mais uma semana

O médico e professor Aroldo Prohmann de Carvalho, infectologista pediatra e coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), considera que, com mais pessoas na rua, é evidente que haverá uma contaminação maior pela doença, o que poderá colocar em risco a possível diminuição conquistada com a quarentena até o momento.

Na minha opinião pessoal, manter as restrições atuais por mais uma semana seria mais prudente. A preocupação que a gente tem é que, ao liberar, as pessoas comecem a exagerar no contato social e a perder um pouco essa responsabilidade que assumiram nesses dias Aroldo Prohmann de Carvalho, infectologista e coordenador do curso de Medicina da UFSC

Mudança de postura

O anúncio de Moisés representou uma mudança da postura do governo catarinense no enfrentamento da crise – Santa Catarina foi primeiro estado brasileiro a adotar medidas drásticas de restrição, iniciadas há pouco mais de uma semana.

Ele ocorre após pressão da classe empresarial e de críticas do presidente Jair Bolsonaro, que tem se manifestado contrário a medidas de isolamento adotadas pelos governadores alegando que isso prejudicará a economia do país.

A flexibilização do isolamento anunciada por Moisés foi criticada pelo governador do Rio Grande do Sul nesta sexta e também gerou repercussão na internet. A hashtag 'SCNaoQuerMorrer' entrou nos trending topics da rede social durante a manhã.

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Em Santa Catarina, até o momento são 149 casos confirmados de coronavírus, outros 325 suspeitos e uma morte pela doença, segundo a última atualização da Secretaria de Saúde do Estado, feita na noite desta quinta (26).

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