Cuidados redobrados para qualquer tipo de paciente, proteção especial, equipamentos restritos e receio para não carregar o coronavírus para fora do hospital. Profissionais de saúde vivem uma rotina exaustiva durante a pandemia de Covid-19 e relatam dificuldades nas unidades em Santa Catarina.
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De forma geral, a falta de equipamentos de proteção individual (EPI) registrada em outros estados do país ainda não chegou aos hospitais de Santa Catarina. Há uma preocupação com o baixo estoque de itens, que não vai suportar a alta na demanda prevista para abril, mas informações oficias apontam que o Governo do Estado negocia a compra de produtos nacionais e importados, enquanto aguarda também mais repasses do Ministério da Saúde. O último envio de Brasília foi de 135 mil máscaras, 600 óculos, 72 frascos de álcool, 270 caixas de luvas e 12.300 aventais, segundo a Secretaria de Saúde. As quantias, no entanto, são consideradas pequenas e abastecem praticamente o consumo de um dia no Hospital Regional de São José, na Grande Florianópolis.
Profissionais de saúde ouvidos pela reportagem do Diário Catarinense e que não serão identificados relatam que os principais equipamentos estão sendo fornecidos, mas há um cuidado especial para evitar o desperdício e um receio de como ficará a situação se a demanda de pacientes aumentar muito. Itens de proteção que não são descartáveis, como aventais e máscaras de proteção em acrílico, são revezados pelos médicos, que em alguns casos compram com o próprio dinheiro os equipamentos.
Uma médica que atua na rede de saúde em Florianópolis diz que alguns dos materiais fornecidos não oferecem a proteção necessária para lidar com os pacientes confirmados de Covid-19.
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– As máscaras de proteção N-95 no local onde trabalho a orientação é usar a mesma por 15 dias. É claro que se houver caso confirmado e para se descartar e pegar outra. Como está cada um por si, estamos com essa sensação e muitos médicos acabam comprando suas próprias máscaras. Aquela proteção de acrílico não é fornecida [pelas unidades], eu comprei uma e vários colegas que conseguem compram as suas. Os aventais disponíveis não cobrem pescoço nem a cabeça. Na cabeça usamos touca, mas o pescoço acaba desprotegido. Fico preocupada pois acabamos expondo nossas famílias e os próprios pacientes, caso a gente venha a se contaminar, já que sabemos que o vírus é altamente contagioso – relata a profissional.
A proteção de acrílico que os médicos estão comprando por conta própria é geralmente utilizada para cobrir todo o rosto, evitando o contato com gotículas que possam atingir o rosto, o nariz, a boca e os olhos. É ideal para ser utilizada em conjunto das máscaras cirúrgicas tradicionais.
A situação é relatada também por uma anestesiologista que trabalha em hospitais públicos e privados na Grande Florianópolis. Segundo ela, para aumentar a durabilidade das máscaras N-95 (de qualidade superior, que pode ser usada por até duas semanas se não for contaminada), os profissionais são recomendados a vestir uma máscara cirúrgica comum em cima da N-95.
Os equipamentos mais caros, como os aventais ou as máscaras de acrílico, tem sido divididos entre os profissionais conforme a necessidade, segundo a médica.
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– Houve uma mudança significativa visando a prevenção em todos os hospitais, apenas estamos realizando cirurgias de urgência e emergência. Houve um pequeno aumento de leitos de UTI e aumento de leitos normais com isolamento respiratório para pacientes com Covid-19 – conta a anestesiologista.
Medo de contaminação
A preocupação com os EPIs envolve todos os profissionais da saúde durante a pandemia pelo medo da contaminação pelo coronavírus. Nos países mais afetados pela doença até agora – China, Itália, Espanha, Estados Unidos – o número de médicos e enfermeiros infectados foi grande e ajudou também a reduzir a capacidade de atendimento à população.
– Acredito que surpreendentemente o Brasil se conscientizou muito rápido e precoce, que estamos "armados" para evitar a disseminação. Mas que se os casos forem aumentando, ficaremos com falta desses materiais básicos. E o uso dele protege, mas mesmo com tudo isso, existe chance de nos contaminarmos, especialmente na desparamentação, então se realmente explodir teremos muitos profissionais afastados. Talvez o vírus não chegue com esse volume, talvez chegasse e essas medidas impediram que explodisse em larga escala, e vão achar que foram medidas desnecessárias, que eu discordo. Talvez já tenha chegado e não estamos testando quase ninguém, então acho que as medidas estão corretas – relata a médica anestesiologista.
Os cuidados entram também na rotina com objetos pessoais na chegada e na saída dos hospitais. Celular em saco plástico, álcool gel para limpar tudo e cuidados redobrados com os calçados e roupas ganharam um espaço maior no dia a dos profissionais, que cuidam para não levar o coronavírus do hospital para casa:
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– Tenho consciência de que sempre existe o risco de eu me contaminar ou estar carregando o vírus, mas não tenho medo, afinal, sempre foi assim na nossa profissão, com outras exposições. Com tudo que está acontecendo, tendo familiares de mais idade, aumentei os cuidados.