Quando a fotógrafa Gabriela Marega, 24 anos, e o corretor de imóveis Gessé Marega, 34, deixaram Itajaí, no litoral Norte de Santa Catarina, para fazer uma viagem até o extremo norte do Peru, o coronavírus era uma doença distante, que afetava os países da Ásia e não parecia que mudaria as rotinas e as fronteiras na América do Sul até que eles retornassem para casa.
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Para eles, que aproveitavam as férias para surfar, tudo aconteceu muito depressa, e desde 16 de março os dois catarinenses têm lutado pelo direito de serem repatriados ao lado de outros nove brasileiros que estão na mesma cidade, Lobitos; e de mais 600 brasileiros que estão no Peru.
Na manhã desta terça-feira (24), eles começaram uma viagem de 17 horas até Lima, em uma van fretada. O itinerário tem a cidade de Pacasmayo como primeiro ponto de parada, para pernoite, e a chegada a Lima ocorrerá na quarta-feira (25), quando o casal de catarinenses aguardarão um voo para o Brasil. Isso se conseguirem passar pelas estradas até a capital do Peru, já que as rodovias do Peru estão fechada pelo exército.
No país, o decreto de quarentena ocorreu em 15 de março e, entre as restrições, estão toque de recolher (entre oito horas da noite e cinco horas da madrugada é proibido andar na rua), proibição de circulação nas ruas durante o dia e fechamento das fronteiras e dos aeroportos.
Quando a quarentena foi decretada no Peru, cerca de 1.300 brasileiros estavam no país e, em seguida, fizeram o cadastro com pedido de repatriação. Entre a última sexta-feira e sábado (20 e 21), pouco mais de 620 brasileiros que estavam em Lima e Cusco foram repatriados com apoio do Itamaraty. No entanto, pessoas como Gabriela e Gessé, que estão no interior do país, estão enfrentando mais dificuldades porque não podiam ir até estas cidades sem o documento do Itamaraty e a liberação das autoridades policiais do Peru para que os brasileiros passassem pelas estradas do país.
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– Os motoristas de van estão com medo. Muitos já tentaram passar e o exército não deixou, mesmo se a pessoa tem a autorização emitida pela embaixada – conta Gabriela.
Além disso, os brasileiros reclamam de extorsão neste período complicado. Uma viagem até Lima costuma custar cerca de R$ 100 mas, por causa das restrições da quarentena, os motoristas estão cobrando até R$ 1 mil. Até domingo, também havia o medo de não conseguir abrigo ao chegarem em Lima, já que os hoteis estão fechados.
– Conseguimos lugar em Lima, mas não tenho certeza se todos os brasileiros conseguiram também. Está difícil e bem caro. Teremos que esperar lá nesta semana até que seja liberado mais um voo – explixa Gabriela.

Dificuldades inesperadas
Para Gabriela e Gessé, esses dias estão sendo difíceis pela tensão e pela indecisão, e pelas dificuldades de quem não tinha comércios por perto para fazer um abastecimento de comida nem serviço de saúde caso começassem a ter sintomas de coronavírus. Mas eles apontam que a preocupação é maior por outros brasileiros que enfrentam problemas maiores pela demora na repatriação.
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– Somos jovens, conseguimos nos virar. Mas há idosos aqui esperando para voltar ao Brasil. Há um casal em Pacasmayo que está comendo apenas macarrão cozido há dias, e não sabem até quando poderão se alimentar. Na nossa cidade tem um jovem com síndrome de ansiedade e precisa de remédios controlados, está sofrendo crises – relata Gessé.
A Embaixada do Brasil em Lima publicou nota informando que está em intensas negociações com o governo do Peru e com as companhias aéreas. Também informou que haverá um voo saindo de Lima nesta terça-feira e de Cusco – os nomes de Gabriela e de Gessé estão na lista dos passageiros mas, por causa da distância, eles não chegarão a tempo no aeroporto.