– É como ser um marciano.

Essa foi a resposta de Marcelo Santos, 34 anos, corintiano morador de Canoas, quando perguntado sobre o significado de torcer para o seu clube em um estado dominado pela dupla Gre-Nal. Nesta quarta-feira, a vida “alienígena” de Marcelo ficou mais doce, com a primeira conquista corintiana na história da Copa Libertadores.

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Um grupo de cerca de 70 “marcianos” reuniu-se na quadra da escola de samba Acadêmicos da Orgia, em Porto Alegre, para assistir ao histórico confronto com o Boca Juniors. A reunião para ver partidas decisivas do Corinthians não é uma novidade para estes torcedores. Em 2008, ano em que o clube disputou e venceu a Série B, o grupo chamado Corintianos RS começou a se formar em redes sociais e, daí em diante, cada jogo importante era acompanhado repetindo o clima das arquibancadas do Pacaembu.

Inicialmente, o grupo se reunia em um bar da Cidade Baixa, na Capital. O contingente de torcedores foi crescendo e, na final da Copa do Brasil de 2009, contra o Inter, a Brigada Militar se viu obrigada a fazer a proteção dos corintianos contra os colorados, derrotados na decisão.

Para o jogo contra o Boca, um telão foi instalado na quadra da Acadêmicos da Orgia e, em frente a ele, os corintianos foram à loucura, assim como seus pares mostrados em estado de total euforia nas arquibancadas do Pacaembu. Os torcedores tentavam reeditar no canto sul do país o que se via no estádio que sediou a decisão. Um surdo e um tambor davam o ritmo dos cânticos tradicionalmente entoados a mais de mil quilômetros de Porto Alegre.

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O clima quase familiar dos momentos que antecederam o apito inicial, com velhos conhecidos se reencontrando para mais uma jornada de seu clube do coração, foi substituído pela tensão do primeiro tempo. A improvisada banda puxava o canto da palavra “Timão”, repetida como um mantra para acalmar almas ansiosas diante da chance de conquistar um título há muito tempo sonhado pelos corintianos.

Veio o segundo tempo e os gols de Emerson transformaram o nervosismo em euforia. Torcedores corriam gritando e chorando diante da iminência da conquista continental. Felipe Pereira, um analista de sistemas que mora em Porto Alegre há 10 anos, bradava para ressaltar:

– Isso é histórico! Esse clube tem 102 anos, isso é histórico!

Com o 2 a 0 encaminhado e o jogo se aproximando do final, surgiram bandanas com a bandeira do Japão, lembrando que a próxima aventura dos “marcianos” que ousam torcer para o Corinthians em Porto Alegre será do outro lado do mundo, no Mundial de Clubes do final do ano. Junto com elas, um grito de “é campeão” que somente esse seleto grupo soltou na Capital nesta quarta-feira.