A retórica belicista da Coreia do Norte ganhou ainda mais força no fim de semana.
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Ontem, o regime comandado por Kim Jong-un afirmou que as armas nucleares são “a vida do país e não podem ser trocadas nem por bilhões de dólares”.
Um dia antes, Pyongyang havia anunciado “estado de guerra” contra o vizinho do Sul, em uma escalada de tensão que se agravou nos últimos meses. Em comunicado, Kim afirmou que as ogivas não servem a barganhas políticas – em uma espécie de negação do comportamento histórico de seu pai, Kim Jong-il, e de seu avô Kim Jong-sul: aceitar ajuda em troca de um vaivém em negociações de desarmamento nuclear (veja abaixo).
Em uma reunião da comissão central do regime, Kim defendeu ampliação “quantitativa e qualitativa” do arsenal nuclear para fazer frente aos EUA. O novo líder, de 30 anos, é considerado uma incógnita para os vizinhos ameaçados – Coreia do Sul e Japão – e para o mundo ocidental e suas ameaças começam a ser levadas a sério.
No fim de semana, o regime comunista ameaçou fechar o complexo industrial Kaesong, operado em conjunto com o Sul e que continua funcionando mesmo após o corte de canais de comunicação entre os dois países.
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Kim irritou-se com relatos da imprensa de que a fábrica ficou aberta por ser uma das únicas fontes de renda do Norte. Os dois países estão tecnicamente em guerra desde 1950.
As idas e vindas do regime da Coreia do Norte
Até 1950
A península coreana, antes ocupada por japoneses, é invadida por soviéticos e americanos na II Guerra Mundial. Em 1948, a península é dividida em duas: o Norte, comunista, sustentado pela União Soviética, e o Sul, capitalista, apoiado pelos EUA. A divisão se aprofundou até se transformar em guerra aberta quando as forças norte-coreanas, lideradas por Kim Jong-sun, invadiram o Sul em 1950. Em 1953, acertam o armistício, mas o governo norte-coreano ainda não reconhece a linha divisória.
Até a separação, o Norte era a região mais rica, onde estavam as indústrias pesadas, o que hoje explicaria o embrião da tecnologia bélica.
1991
As duas Coreias concordam em iniciar acordo para banir armas nucleares da península, mas não fixam medidas práticas.
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Com as transformações soviéticas, a Coreia do Norte enfrenta dificuldades econômicas, que se agravam com uma sequência de enchentes e estiagens. O país se concentra na estratégia de força e chantagem.
1992
Coreia do Norte assina acordo para permitir inspeções do complexo Yongbyon, monitorado desde os anos 1980 por agentes americanos.
1993
Em maio, o país realiza o primeiro teste bem-sucedido com míssil (supostamente um Nodong 1), no Mar do Japão. A CIA avisa ao presidente Bill Clinton de que Pyongyang poderia ter até duas bombas atômicas. Acredita-se que o míssil estaria sendo preparado para ser enviado ao Irã, em troca de petróleo, e seria capaz de carregar armas químicas.
A relação no “mercado negro” com países como o Irã explicaria parte do fomento ao programa nuclear norte-coreano. Economicamente, o regime também se mantém dependente do apoio da China e da Rússia.
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1994
Novo teste com míssil. EUA reforçam a presença militar na Coreia do Sul. Kim Jong-sun morre e seu filho Kim Jong-il assume. Em outubro, o novo líder concorda em desativar complexo nuclear em troca de, entre outras medidas, combustível dos EUA.
1998
Governo norte-coreano lança o míssil Taepodong-1 sobre o Japão e o Oceano Pacífico, o que demonstra o aumento no arsenal balístico.
As negociações com o país foram marcadas por distensão e aproximação internacional, seguidas por novas agressões e ameaças. O esforço mais notório de aproximação partiu da Coreia do Sul, na chamada política Sunshine, de 1998 a 2008.
2002
A Coreia do Norte admite que manteve, ao longo dos anos, um programa nuclear clandestino usando urânio enriquecido. Declara nulos os acordos com os EUA para suspender a atividade nuclear.
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2005
Pyongyang declara que extraiu 8 mil barras de combustível nuclear, mas pouco depois anuncia que abandonaria o programa em troca de benefícios econômicos internacionais. Negociações são retomadas.
2006
Em julho, sete mísseis são lançados sobre o Mar do Japão, incluindo o novo Taepodong-2, que, no entanto, explode após o lançamento. Três meses depois, o país realiza o primeiro teste nuclear, tornando-se a oitava nação a se proclamar integrante do clube dos países nuclearmente armados. Comunidade internacional aprova sanções econômicas.
2007
Em troca de US$ 400 milhões em ajuda internacional, o regime norte-coreano promete novamente desativar instalações nucleares.
2008
Anuncia a retomada do enriquecimento de urânio e interrompe diálogo com outras nações. Kim sofre derrame cerebral.
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2009
Em abril, lança foguete sobre o Pacífico, alegando fins pacíficos. Em maio, realiza teste nuclear. No dia seguinte, três mísseis são lançados próximos ao Japão, e Pyongyang se diz pronta para lutar contra os EUA.
2011
Governo anuncia a morte de Kim Jong-il, em 19 de dezembro, e o filho Kim Jong-un, então com 28 anos, é nomeado “líder supremo”.
2012
O ano começou com o ditador permitindo a inspeção internacional no principal reator do país. Pouco depois, no entanto, dois foguetes são lançados. O primeiro cai no Mar Amarelo após percorrer 100 km, mas o segundo é considerado um sucesso. O país anuncia a retomada da construção de um reator nuclear. ONU emite sanções.
2013
Pyongyang confirma o terceiro teste atômico. Em resposta a sanções mais severas da ONU, revoga acordos de não agressão com o Sul. EUA dizem que aumentarão em quase 50% seu arsenal de interceptadores de mísseis na Califórnia e no Alasca, em razão de “ameaças crescentes”. Kim declara “estado de guerra”, corta comunicação militar com o Sul e ameaça atacar os EUA e as bases militares americanas no Pacífico.
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Estima-se que o país mobilize 1 milhão de soldados, mas que não tenha capacidade de se manter em uma guerra. Assim, opta por armas de destruição em massa. Analistas acreditam que as ameaças sejam mais uma vez uma tática para iniciar negociações e obter ajuda. No entanto, a tensão se eleva pela inexperiência do líder e pelo discurso do Sul, de que revidaria qualquer agressão.